As histórias de feminicídio que, infelizmente, vamos contar
Profissionais mulheres vão reconstituir a trajetória de vida e o ciclo da violência que fará dezenas de vítimas em 2019
Casos de violência contra a mulher no DF em 2019
Atualizado dia 02/01, às 17hEm 2018, 27 mulheres que moravam no Distrito Federal morreram vítimas da violência cometida por mãos masculinas. Foram humilhadas, machucadas, assassinadas por pessoas com quem, muitas vezes, dividiram suas intimidades e histórias de vida.
A série histórica de mortes femininas (veja infográfico) informa que, apesar de as mulheres serem cada vez mais encorajadas a denunciar relacionamentos abusivos, a brutalidade contra elas é desenfreada. Nem mesmo a exposição muitas vezes rumorosa da violência doméstica inibe agressores.
O passado, que reúne vítimas sistemáticas da fúria masculina contra a liberdade das mulheres, permite-nos assegurar com pouca margem de erro qual vai ser o cenário do final deste ano que acaba de começar: outras dezenas de mulheres terão entrado para as estatísticas de feminicídio.
Mudar esse contexto depende de um esforço que deve ser dividido por toda uma sociedade umbilicalmente ligada à obrigação de salvar mulheres dos homens violentos.
Dilaceradas pela dor física e emocional de serem subjugadas, surradas e até mortas pela força masculina, as mulheres agredidas sempre foram muito cobradas no sentido de que elas, somente elas, poderiam romper o ciclo da violência. Claro que a denúncia é, na maior parte das vezes, a única e possível salvação. Mas cobrar que essas vítimas se salvem em todas as hipóteses é, no século 21, não entender o problema do feminicídio.
A humanidade evoluiu ao ressignificar o conceito de privacidade do casal nos casos de violência doméstica. Muitas mulheres foram resgatadas dentro de uma nova postura, segundo a qual a comunidade passou a se sentir no dever de intervir e denunciar agressões contra elas. Uma mudança com poder de salvação – mas, ainda assim, insuficiente para interromper esta cultura e tornar o mundo um lugar menos perigoso para as mulheres.
É preciso que todos os cidadãos de bem se engajem. Que eduquem crianças e jovens conscientes do significado de igualdade de gênero. Que, ainda antes de entrarem na puberdade, meninos aprendam a lidar com frustrações, que saibam compreender fins de relacionamentos e o poder paralisador do não.
Em 2019, o Metrópoles escreverá todas as histórias de vida das mulheres que, infelizmente, vão sangrar enlaçadas em relacionamentos nocivos. Um contador publicado em destaque na capa do portal marcará diariamente os casos de violência contra a mulher aos quais a reportagem tiver acesso.
Nos cinco primeiros dias de 2019, o DF já registrou um feminicídio, duas tentativas e 128 ocorrências de agressões contra mulheres enquadradas na Lei Maria da Penha.
Na madrugada deste sábado (5/1), Vanilma Martins dos Santos, de 30 anos, morreu esfaqueada em sua casa, na Quadra 8 do Setor Oeste, Gama. O principal suspeito é seu marido Thiago de Souza Joaquim, de 33 anos. Após golpeá-la, ele levou a mulher ao Hospital Regional do Gama (HRG) e fugiu com o seu veículo em direção a Santa Maria.
As profissionais do site se dedicarão incansavelmente a buscar dados, conferir estatísticas, entrevistar autoridades, especialistas no assunto e policiais, num grande esforço de retratar os episódios de agressão contra a mulher cometidos na capital da República, como o caso de Vanilma.
Um dos nossos propósitos é reunir jornalistas conhecidas por sua sensibilidade no jeito de olhar e na forma de contar histórias para aproximar as pessoas da trajetória de vida das vítimas. São mulheres que vão entrevistar, escrever, fotografar, filmar, desenhar e editar o conteúdo.
Nossa maior energia será no sentido de humanizar, com todos os recursos que estiverem ao nosso alcance, as estatísticas frias, que dão uma dimensão da gravidade do problema, mas não alcançam o poder da empatia. Esse é o sentimento capaz de interromper a indiferença diante do grito das mulheres por socorro.
Elas podem ser suas filhas, mães, irmãs, amigas, esposas. Elas, na verdade, podem ser você.