Por que falar sobre violência de gênero
O Metrópoles se desafiou a contar a história de todas as vítimas de feminicídio do Distrito Federal em 2019. Foram 365 dias monitorando os casos ocorridos em Brasília e em suas regiões administrativas a partir dos registros da Secretaria de Segurança, do Ministério Público, do Corpo de Bombeiros Militar e das polícias Civil e Militar. Publicamos 544 matérias com a tag Violência Contra a Mulher e as páginas dessas reportagens foram visualizadas 11 milhões de vezes. Além disso, o projeto ganhou dois prêmios: Troféu Mulher Imprensa e Ñh – Lo Mejor del Diseño Periodístico.
A equipe ainda se dedicou meses para apurar perfis de 33 mulheres com níveis sociais completamente diferentes, mas conectadas por uma realidade em comum: foram vítimas do ciclo de violência atrelado à cultura machista. Na trajetória de vida de cada delas, é possível mapear a escalada da violência. A morte chegou para elas após dias ou décadas de ameaças. Esse padrão de comportamento fica ainda mais claro a partir do levantamento de histórias e dados feito por 47 profissionais do sexo feminino (jornalistas, fotógrafas, artistas gráficas e cinegrafistas).
Depois de conversar diariamente com especialistas, sobreviventes, órfãos e famílias feridas, chegamos a uma conclusão: apesar de as leis Maria da Penha e do feminicídio serem importantes na punição desses criminosos, elas não são suficientes para cessar esse tipo de violência. Acabar com a cultura machista é a única forma de salvar futuras vítimas. Por isso, a discussão sobre masculinidade tóxica precisa estar nas salas de aula e nas conversas em volta da mesa de jantar.