Conheça a história de mais de 100 detentos assassinados no maior massacre de presos do Brasil e entenda por que o resgate dessas trajetórias pode ajudar o Estado a entender e mudar o falido sistema prisional do país
Daniel Ferreira/Metrópoles
30/07 5:30
O Brasil não conheceu a história de Diego Felipe Pereira da Silva. Não soube que ele estava preso pelo roubo de uma bolsa e que já reunia as condições para deixar a cadeia durante o dia, trabalhar, e voltar à noite ao cárcere. Deveria ter progredido ao regime semiaberto. Mas o processo não andou. E, antes que pudesse se valer de um direito, acabou assassinado sob a custódia do Estado. O corpo de Diego foi enterrado sem a cabeça. Aos 25 anos, ele teve um fim parecido ao de outros 122 presos mortos nas rebeliões que chocaram o país entre 1º e 14 de janeiro de 2017.
Mais do que acontecimentos isolados entre criminosos, as chacinas ocorridas em três cidades de diferentes estados brasileiros expuseram as entranhas de um sistema que no país sempre esteve à beira do colapso. Entre os que morreram na tragédia anunciada, muitos padeceram antes. Foram violentados, empalados, tiveram membros decepados, órgãos retirados a sangue frio. Alguns experimentaram a inclemente Lei de Talião. Morreram, assim como mataram.
Rafaela Felicciano/MetrópolesDiego Felipe, 25 anos, estava preso por conta do roubo de uma bolsa
Nas três comunidades de delinquentes impactadas pelos massacres de janeiro, havia diferentes níveis de malfeitos, penas, trajetórias, julgamentos. Mas todos viviam sob o regime do crime institucionalizado, com regras próprias, à revelia do Poder Público e onde convivem o ladrão de galinha com estupradores e assassinos.
A barbaridade dentro dos presídios brasileiros é tão frequente que se tornou banal. Prevalece o senso comum de que criminosos, tenham eles maior ou menor potencial ofensivo, assumem o risco de acabar como os exterminados nos episódios violentos de 2017. As cercas e grades que contêm os homens enquanto cumprem pena não são uma barreira definitiva para a influência que a massa carcerária exerce sobre a sociedade.
Quando analisamos os dados técnicos e os relatórios, nos damos conta de que os massacres eram tragédias esperadasRoger Moreira, titular da Defensoria Pública Especializada na Promoção e Defesa dos Direitos Humanos do Amazonas
A dinâmica de uma comunidade formada por 622.202 presos não fica restrita às 2.769 cadeias brasileiras. Suas mazelas, tragédias e fracassos impactam o cotidiano das pessoas que gozam de liberdade.
Os três massacres estão entre os tantos já ocorridos e prenunciam os que ainda vão acontecer dentro das prisões no Brasil. A selvageria, que desde Carandiru já não impressionava, em 2017 voltou a escandalizar. Deveria ter sido o alerta máximo para as autoridades se posicionarem e reassumirem seu protagonismo de gestão, mediação e organização do sistema.
Até hoje, no entanto, o Estado sequer identificou os restos mortais de vários envolvidos nas rebeliões. Muito além de dar satisfação às famílias de detentos enterrados sem cabeça ou como indigentes, os governos poderiam ter se valido de um estudo aprofundado sobre as causas e as circunstâncias dos assassinatos nos presídios de Manaus (AM), Boa Vista (RR) e Natal (RN) para redefinir políticas públicas, investimentos e reestruturar o sistema carcerário brasileiro.
Nos últimos seis meses, o Metrópoles buscou conhecer a história de cada uma das 123 pessoas mortas nos presídios do Amazonas, de Roraima e do Rio Grande do Norte durante a primeira quinzena do ano. Com os perfis desses homens, é possível criar um grupo amostral do que há de mais crítico no regime brasileiro de execução das penas. A reunião de dados, o cruzamento das informações e a análise dos índices extraídos a partir desse levantamento oferecem insights importantes que podem ajudar na busca de soluções para o universo prisional e o impacto que causa na sociedade.
Clique nos rostos e conheça as histórias dos presos mortos
*Crimes com pouca ocorrência entre os presos analisados, como lesão corporal, ocultação de cadáver e porte ilegal de armas
Abel Paulino De Souza
Abel Paulino De Souza
Idade: 18 a 25
Raça: negro
Cidade: Boa Vista
Condenação: não
Crime: tráfico de drogas
biografia: Abel havia sido preso no dia 5 de dezembro de 2016, acusado de tráfico por um vizinho. Não tinha ficha criminal, era réu primário e, quando foi detido, não portava drogas. Foi parar na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), em Boa Vista (RR).
No inquérito, a polícia afirma que o viu entregando drogas para um adolescente. A família nega a versão. Estava desempregado na época. A juíza decidiu mantê-lo preso. No dia da chacina, Abel pegou um celular emprestado dentro da cadeia e mandou a seguinte mensagem para a esposa: “Acho que vão matar gente aqui hoje. Tá tudo estranho. Se eu for, amo vocês todos. Amor, tá estranho aqui”.
Desesperada, a família correu para a porta do presídio, mas já era tarde. Ele completaria 25 anos no dia 8 de janeiro de 2017, a mesma data em que a família o enterrou. Deixou três filhos: de cinco, três e um ano, além da esposa. Ele nunca teve nenhuma relação com facções.
“Por que ele estava no meio dos outros presos condenados, na ala 14, justamente onde a rebelião de 2016 começou?”, questionou a irmã, aos prantos. A família não quis se identificar por medo.
frase final: Ele morreu decapitado.
Abimeleque Fonseca Almeida
Abimeleque Fonseca Almeida
Idade: 18 a 25
Raça: negro
Cidade: Boa Vista
Condenação: não
Crime: roubo e furto
biografia: Ele respondia por furto, fugiu da cadeia quando estava no semiaberto e foi recapturado em 2015, com mais uma acusação. Desta vez, roubo. Segundo os agentes, ele tinha mau comportamento dentro da cadeia e passou alguns dias na solitária. Fez muitos inimigos no presídio.
frase final: Ele morreu esquartejado
Adercio Alves Da Cunha
Adercio Alves Da Cunha
Idade: 18 a 25
Raça: negro
Cidade: Boa Vista
Condenação: sim
Crime: roubo e furto
biografia: Em uma rua de terra batida do Bairro Sílvio Botelho, periferia de Boa Vista (RR), Maria Dinalva Alves da Cunha, 46 anos, vive com a nora e o enteado de seu filho Adercio Alves da Cunha, um dos 33 detentos assassinados durante a chacina na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), em Boa Vista (RR).
Dinalva, mãe de outros quatro filhos, define Adercio como “menino atentado”. Ao contrário dos irmãos, sempre deu trabalho na escola, quando criança. Em 2013, ele teve seu primeiro e único problema com a Justiça. Ao lado de um amigo, confessou ter roubado e revendido seis celulares. Usaram arma de fogo nos crimes. Foi preso, julgado e condenado a 9 anos e 7 meses de prisão por roubo qualificado. Chegou a progredir para o regime semiaberto. Foi mandado de volta para a Pamc em agosto de 2016, após tentar dormir em uma ala diferente da que deveria.
“Eu nunca imaginei que fariam uma coisa dessas (a morte violenta) com o meu filho. Da outra vez que mataram uns meninos lá, fiquei preocupada, mas o Adercio disse que não tinha perigo, que ele não fazia parte de nenhuma facção e ficaria tudo bem. Aí aconteceu isso. Dizem que mataram meu menino porque ele se recusou a participar e jurar lealdade ao PCC”, afirma a mãe.
Emocionada, Maria Dinalva falou sobre como Adercio foi assassinado. “Decapitaram meu filho e arrancaram o que podiam, até o coração. Só sobraram as partes íntimas inteiras. O resto foi cortado. Eu não o vi porque não tive coragem, mas outro filho viu. Eu não quis acreditar”, disse, às lágrimas.
Para ela, o filho merecia estar preso por conta dos crimes que cometeu. Sente-se revoltada, porém, contra o modo como Adercio morreu. “Ele não merecia aquilo ali. Eu quero é Justiça. Mãe nenhuma vai esquecer isso”, lamenta.
frase final: Ele morreu decapitado.
Adriano Soares Marinho
Adriano Soares Marinho
Idade: 26 a 30
Raça: negro
Cidade: Boa Vista
Condenação: não
Crime: tráfico de drogas
biografia: Ele foi transferido de Manaus para Boa Vista. Não se sabe o motivo. Segundo os agentes, Adriano foi assassinado porque a facção Família do Norte comanda o crime no estado do Amazonas e sua transferência foi vista com desconfiança pelo PCC.
frase final: Ele morreu assassinado
Alcides Pereira De Aquino
Alcides Pereira De Aquino
Idade: 41 a 45
Raça: negro
Cidade: Boa Vista
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas
biografia: O processo de Alcides está em sigilo. No entanto, agentes penitenciários ouvidos pelo Metrópoles afirmaram que Alcides havia liderado o Comando da Maioria, facção extinta no estado após a ascensão do PCC. Teria sido morto por conta de seu poder de liderança dentro da cadeia.
frase final: Ele morreu assassinado
Alcinei Gomes Da Silveira
Alcinei Gomes Da Silveira
Idade: 18 a 25
Raça: branco
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: homicídio
biografia: O músico Alcinei da Silveira foi morto aos 25 anos, no Compaj, em Manaus. Preso desde 2011, cumpria condenação de 60 anos pelo assassinato da mãe e do irmão de 14 anos, além de uma tentativa de homicídio contra o pai. O crime ficou conhecido na cidade de Manaus. À época, Alcinei afirmou que teria cometido os delitos porque os pais não aceitavam sua homossexualidade. A família, no entanto, nega. O detento dividia uma das celas do “seguro” com Gezildo Nunes e, junto com ele, escreveu uma carta denunciando benefícios supostamente dados pelo ex-subdiretor do presídio, José Carvalho da Silva, a membros da facção Família do Norte.
frase final: Ele morreu assassinado
Alessandro Nery Praia
Alessandro Nery Praia
Idade: 26 a 30
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: homicídio
biografia: Ex-soldado da Aeronáutica em Manaus, Alessandro Nery Praia morreu aos 30 anos, no Compaj. Ele foi condenado a 30 anos de prisão por matar a ex-mulher Adriana Franco da Luz, em 2006. A sentença, no entanto, só veio em 2014, 12 anos após o crime. Segundo os autos do processo, ele não aceitou o fim do relacionamento e decidiu assassiná-la. Desde 2015, pedia transferência do Compaj após receber ameaças e, em 2016, foi movido para uma das celas da ala conhecida como “seguro”. Naquele ano, fez parte de um programa educacional de diminuição da pena e foi um dos três detentos com a nota mais alta do Amazonas.
frase final: Ele morreu assassinado
Alex Almeida Da Silva
Alex Almeida Da Silva
Idade: 31 a 35
Raça: branco
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: homicídio, roubo e furto, outros
biografia: Conhecido como “Manabu” e morto no Compaj, em Manaus, Alex da Silva possuia uma ficha policial extensa. Preso por, pelo menos, quatro vezes, respondia a processos por crimes como homicídio, roubo e tortura. Foi condenado a 32 anos de prisão. Ele também era membro do Primeiro Comando da Capital (PCC) e já havia fugido da unidade prisional, sendo recapturado alguns meses depois.
frase final: Ele morreu decapitado
Alexandro Nogueira Soares
Alexandro Nogueira Soares
Idade: 31 a 35
Raça: negro
Cidade: Boa Vista
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas, homicídio, roubo e furto
biografia: Estava preso com o nome Alex. Após sua morte, porém, o Instituto Médico Legal descobriu que ele se chamava, na verdade, Alexandro Nogueira Soares. Ele usava três identidades falsas. O corpo de Alexandro foi um dos últimos a serem liberados por conta da dificuldade de identificá-lo. Em seus registros na penitenciária, há ainda o nome de três esposas. Isso porque ele teria uma mulher para cada identidade que usava.
frase final: Ele morreu assassinado
Anderson Barbalho Da Silva
Anderson Barbalho Da Silva
Idade: 31 a 35
Raça: dado desconhecido
Cidade: Natal
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas
biografia: Anderson cumpria pena de 12 anos e 4 meses por tráfico de drogas, porte ilegal de arma e disparo de arma de fogo em Alcaçuz, no Rio Grande do Norte. Acabou se livrando de ser condenado por um quarto crime, o de receptação. Darson, como era conhecido pelos amigos, era casado com Laudiceia Agostino de Oliveira, de 43 anos, com quem tinha uma filha, Ana Júlia, de 8 meses.
Laudiceia engravidou do marido dentro dos pavilhões de Alcaçuz. A bebê era sua “xodó”. Só as duas visitavam Anderson na cadeia. A última vez que Laudiceia falou com o marido foi no dia 14 de janeiro, antes de a rebelião explodir. Ele comemorava 35 anos naquele dia. Cinco, ao lado da mulher. Três deles em Alcaçuz. Quando conheceu Anderson, ele já traficava. Laudiceia o convenceu a vender água mineral no semáforo, mas o ganha-pão vinha do crime. Ele não tinha estudo nem mantinha contato com a família, de Lagoa Salgada, interior do estado. O laudo do Itep diz que Anderson morreu de “esgorjamento produzido por objeto corto-contundente e afundamento crânio-facial por ação contundente”.
frase final: Ele morreu esfaqueado e sangrou até morrer.
Anderson Mateus Félix Da Silva
Anderson Mateus Félix Da Silva
Idade: 18 a 25
Raça: pardo
Cidade: Natal
Condenação: sim
Crime: roubo e furto, outros
biografia: Em 18 de fevereiro de 2015, então com 20 anos recém-completados, Anderson foi preso em São João do Mipibu, cidade do interior do estado localizada a 30km de Natal. Era acusado de roubar uma moto Shinerat branca. Com ele, a polícia encontrou um revólver calibre .22 e a motocicleta. À polícia, entregou outros dois comparsas de crime. Enfrentaria pela frente 13 anos de regime fechado por roubo e corrupção de vulnerável em Alcaçuz, no Rio Grande do Norte. Anderson era filho de uma família simples da cidade de Monte Alegre, interior do estado. O laudo do Itep diz apenas que Anderson morreu de “esgorjamento”, que é uma lesão profunda na lateral do pescoço.
frase final: Ele sangrou até morrer.
Andrei Chaves De Moura Costa
Andrei Chaves De Moura Costa
Idade: 50 a 55
Raça: branco
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: homicídio, roubo e furto, outros, tráfico de drogas
biografia: Um dos “xerifes” do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Amazonas, Andrei morreu na Unidade Prisional de Purarequara, em Manaus, onde estava preso provisoriamente. “Mourão” ou “Velho”, como também era conhecido, comandava parte do tráfico de drogas na região. Respondia a diversos processos por crimes, como assaltos a bancos, estelionato, uso de identidade falsa. Ao ser detido, em dezembro de 2014, era considerado o homem mais procurado da região Norte. Isso porque já havia fugido de diversas penitenciárias. Costumava mudar de aparência para não ser pego e também respondia por crimes no Amapá e no Pará.
frase final: Ele morreu decapitado
Antônio Barbosa Do Nascimento Neto
Antônio Barbosa Do Nascimento Neto
Idade: 31 a 35
Raça: dado desconhecido
Cidade: Natal
Condenação: sim
Crime: homicídio, roubo e furto, outros
biografia: Estava preso desde 2007 e tinha pela frente um longo caminho até a liberdade — pegou 25 anos por homicídio, roubo e associação para o tráfico. Foi preso no Aeroporto Internacional de Rio Branco, no Acre, quando tentava embarcar para Natal com 20kg de cocaína na bagagem.
Antônio era conhecido como “Natal” no presídio de Rio Branco. Em 2011, quando cumpria pena na capital acreana, foi acusado de matar, junto com outro companheiro de cela, um preso com quem dividia o cubículo na carceragem, Edvan Teixeira da Silva, então com 41 anos.
Ele justificou o crime dizendo que o companheiro era extremamente violento e que se achava o “dono” do pavilhão, mas que “não tinha intenção” de matá-lo. Segundo o laudo do Itep, Antônio morreu de “esgorjamento”.
frase final: Ele sangrou até morrer.
Antônio Correa Muniz Neto
Antônio Correa Muniz Neto
Idade: 18 a 25
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: roubo e furto
biografia: Antônio, de 22 anos, cumpria pena no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, há dois anos. Foi preso duas vezes por roubo. Morreu ao lado do irmão Antony, encarcerado no mesmo local. Filhos de um pedreiro e uma manicure, Antony e Antônio tinham outros três irmãos. A família cresceu em um bairro pobre na Zona Leste de Manaus.
Antônio cursou até a 5ª série do ensino fundamental. Largou a escola ainda cedo. A mãe, Maria Angelina, acredita que o amor por veículos – ele trabalhava como mecânico – o tenha levado para o mundo do crime. Foi preso após roubar uma motocicleta. Com 22 anos, deixou dois filhos, um de quatro e um de dois anos. O mais novo nasceu no mesmo dia em que o pai foi preso pela segunda vez. Falou com o filho pela última vez na noite de ano-novo. “Quando conversou com a avó, disse para ela se cuidar porque ele iria sair logo e queria ver ela bem”. O reencontro, porém, não aconteceu.
frase final: Ele morreu mutilado
Antony Aguiar Muniz
Antony Aguiar Muniz
Idade: 26 a 30
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas, roubo e furto
biografia: Antony tinha 27 anos quando morreu. Chegou ao Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, dois meses antes da rebelião. Estava em uma cela com membros da Família do Norte (FDN), mas decidiu se juntar ao irmão Antônio na ala em que estava, junto com o grupo inimigo. Por isso, teria morrido no dia do motim.
Estudou os primeiros meses do ensino médio dentro da penitenciária. “Ele era muito turrão. Sempre me pedia coisas, dizia que tinha abandonado ele lá”, relembra a mãe, Maria Angelina. Ainda assim, ela conta que o filho se preocupava com a mãe. “Quando me sentia mal, fazia de tudo para me agradar”, lembra.
frase final: Ele morreu decapitado
Arthur Gomes Peres Júnior
Arthur Gomes Peres Júnior
Idade: 36 a 40
Raça: branco
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: estupro, tráfico de drogas, roubo e furto
biografia: Arthur Peres Júnior era o preso condenado à maior pena entre todos os que morreram no massacre do Compaj, em Manaus: 219 anos. Sentenciado por crimes como estupro, tráfico de drogas, furto e assalto, era malvisto entre os detentos. Em uma única ação, em 2008, estuprou três mulheres e uma adolescente de 14 anos em uma clínica odontológica de Manaus. “Kuka”, como era conhecido, passou anos em penitenciárias federais nos estados de Mato Grosso do Sul e Rondônia porque estava jurado de morte caso voltasse aos presídios de Manaus. No entanto, sempre entrava com pedidos para retornar à capital amazonense.
frase final: Ele morreu assassinado
Carlos Augusto Nascimento Galucio
Carlos Augusto Nascimento Galucio
Idade: 18 a 25
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: não
Crime: tráfico de drogas
biografia: Alocado na Unidade Prisional de Puraquequara, em Manaus, Carlos Augusto morreu sem ter sido julgado. Estava na penitenciária desde dezembro de 2016, quando foi preso em flagrante por tráfico de drogas. Já havia sido detido pelo mesmo crime no ano anterior, mas conseguiu o direito à liberdade provisória, que durou até a sua segunda prisão.
frase final: Ele morreu decapitado
Carlos Clayton Paixão Da Silva
Carlos Clayton Paixão Da Silva
Idade: 18 a 25
Raça: dado desconhecido
Cidade: Natal
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas
biografia: Carlos estava preso em Alcaçuz por tráfico de drogas. Sua ficha não carrega muitas informações além do crime que cometeu, seu nome, sua idade e a certeza de que seu pai nunca o registrou em cartório. Carlos era filho de Maria Aparecida, apenas.
frase final: Ele morreu decapitado.
Carlos Eduardo Loureiro De Castro
Carlos Eduardo Loureiro De Castro
Idade: 31 a 35
Raça: negro
Cidade: Boa Vista
Condenação: sim
Crime: roubo e furto, outros
biografia: Segundo a mãe, Maria das Graças Loureiro, Carlos Eduardo cometeu o que avalia como “pequenos crimes”: roubou uma bicicleta e “escondeu” uma balança roubada para um amigo.
Foi condenado a 5 anos de prisão e a pena terminou no fim do ano passado. Carlos, no entanto, não deixou a cadeia. Morreu com o coração e os dentes arrancados, teve os olhos perfurados e braços e pernas, extirpados.
“Vi um vídeo em que ele já estava morto, mas de olhos abertos. Aí o homem que o matou repetia: ‘ainda está de olho aberto?’ e, então, ele perfurava repetidas vezes os olhos dele”, conta a mãe, aos prantos.
frase final: Ele morreu assassinado
Charmon Chagas Da Silva
Charmon Chagas Da Silva
Idade: 31 a 35
Raça: dado desconhecido
Cidade: Natal
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas, outros
biografia: Charmon foi preso em flagrante em 2005 e cumpria 17 anos de regime fechado, em Alcaçuz, por tentativa de homicídio, porte ilegal de arma de uso restrito, lesão corporal e receptação. Nascido na capital potiguar, Charmon ganhou o benefício do semiaberto em fevereiro de 2015. Não durou muito. Em dezembro do mesmo ano, já considerado foragido por não retornar à penitenciária, voltou a ser preso, dessa vez com uma arma calibre .38, dinheiro fracionado e munição em um bairro da Zona Norte de Natal. O laudo diz que Charmon morreu de anemia aguda por ferimento no tórax e região cervical “devido à ação perfuro-cortante”.
frase final: Ele morreu esfaqueado.
Cícero Israel De Santana
Cícero Israel De Santana
Idade: 18 a 25
Raça: dado desconhecido
Cidade: Natal
Condenação: sim
Crime: homicídio, roubo e furto
biografia: Há três anos Cícero cumpria pena em Alcaçuz por latrocínio, que é roubo seguido de morte. Natural de Arez – cidade de 11 mil habitantes limítrofe com Nísia Floresta, a mesma que abriga o presídio onde foi assassinado –, Cícero não levava o nome do pai, como alguns outros dos seus colegas mortos na rebelião. Em entrevista à imprensa local nos dias seguintes ao ataque, a mulher de Cícero chorou enquanto contava que esperava o detento sair da carceragem para oficializarem a união e recomeçarem a vida longe da areia de Alcaçuz.O laudo do Itep diz que Cícero morreu de anemia aguda devido a “ferimentos no tórax por objeto perfuro-cortante”.
frase final: Ele morreu esfaqueado.
Clealberth Dutra Guimarães
Clealberth Dutra Guimarães
Idade: 36 a 40
Raça: negro
Cidade: Boa Vista
Condenação: sim
Crime: homicídio, outros
biografia: Preso em 2008 por homicídio, após uma briga de bar, Clealberth fugiu da cadeia dois anos depois. Quando recapturado, em 2013, no Pará, ele trabalhava como personal trainer em uma academia de ginástica.
Depois de passar pela prisão a primeira vez, teria começado a praticar outros crimes e foi condenado por formação de quadrilha. Era temido na cadeia e, segundo os agentes penitenciários, teria batido de frente com o Primeiro Comando da Capital (PCC) e queria criar uma nova facção. Esse teria sido o motivo pelo qual fora assassinado.
frase final: Ele morreu decapitado.
Dheyck Da Silva Castro
Dheyck Da Silva Castro
Idade: 36 a 40
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas, homicídio
biografia: Condenado a 16 anos e quatro meses por associação para o tráfico e por tráfico de drogas, Dheyck Castro morreu no Compaj, em Manaus. Preso desde 2012, ainda tinha 12 anos da pena para cumprir, mas já respondia a outra ação por tentativa de homicídio. Desde 2015, estava em uma cela do “seguro”, após receber ameaças.
frase final: Ele morreu assassinado
Diego Felipe Pereira Da Silva
Diego Felipe Pereira Da Silva
Idade: 18 a 25
Raça: pardo
Cidade: Natal
Condenação: sim
Crime: roubo e furto
biografia: De Natal até Santa Cruz, no Rio Grande do Norte, é preciso percorrer duas horas de estrada. Lá vive Eliene Pereira da Silva, de 45 anos, com a mãe, o padrasto e o filho.
Há seis meses a vida em família não é mais a mesma. Eliene enterrou, sem a cabeça, o seu caçula, Diego Felipe, 25 anos, morto na rebelião de Alcaçuz. Ele estava lá havia um ano e, desde setembro passado, deveria ter ganhado direito ao semiaberto. A decisão da Justiça nunca veio. A do PCC, sim.
Diego, para a mãe, era um “menino bom”. “O problema dele era droga, que é uma doença, não é?!”, tenta explicar. Eliene chamava o filho de Allan, nome que sonhava em dar para o rapaz.
Para bancar o vício, Allan começou a roubar ainda na adolescência e só parou quando foi preso como suspeito de furtar uma bolsa, conta a mãe.
Meses depois, o rapaz saiu para o semiaberto. Disse à mãe que não voltaria a dormir na prisão. Tanto a mãe quanto a avó dele insistiram muito para que cumprisse o estabelecido, mas Diego era “teimoso”, na definição materna. Um mês depois, a polícia levou o foragido de volta à Alcaçuz.
A última vez que Eliene viu o filho foi no dia 27 de dezembro, na visita de Natal. Ele dizia sentir medo. “Allan me pedia: ‘Mainha, chegando em casa, reze por mim. O Pavilhão 5 tá arrumando de invadir aqui pra matar a gente’. Ele sabia. Todo mundo sabia”, conta, inconformada.
Quando a rebelião estourou no dia 14 de janeiro, Eliene começou a receber vídeos transmitidos pelos próprios presos de dentro de Alcaçuz e, em um deles, identificou Allan. Haviam arrancado a cabeça de Allan.
frase final: Ele morreu decapitado
Diego Melo De Ferreira
Diego Melo De Ferreira
Idade: 26 a 30
Raça: dado desconhecido
Cidade: Natal
Condenação: sim
Crime: roubo e furto, tráfico de drogas
biografia: Desde 2011, Diego, 26 anos, estava preso em Alcaçuz, onde as celas não eram mais gradeadas. Detido por tentativa de roubo, furto e tráfico de drogas, enfrentava uma condenação de 18 anos em regime fechado. Em setembro deste ano, ele teria cumprido tempo suficiente para solicitar progressão ao semiaberto.
Diego havia ganhado o benefício em 2012, mas foi preso novamente por roubo. Segundo o laudo do Itep, morreu por conta de uma “anemia aguda” provocada por “hemorragia externa, devido à degola produzida por instrumento corto-contundente e esmagamento crânio-facial produzido por instrumento contundente”.
frase final: Ele morreu após ter a cabeça arrancada.
Edione De Souza Santos
Edione De Souza Santos
Idade: 26 a 30
Raça: negro
Cidade: Boa Vista
Condenação: sim
Crime: estupro, tráfico de drogas
biografia: Foi condenado em 2010 por estupro de vulnerável, cometido em 2009. Chegou a ir para o regime semiaberto em 2014, mas voltou para o fechado em outubro de 2015, após ser preso por tráfico. Segundo os agentes, era ameaçado desde sua detenção – crime de estupro não é aceito na cadeia. Quando o local foi invadido, Edione ficava em uma ala separada, próximo à “favelinha”.
frase final: Ele morreu decapitado e esquartejado
Edismar Henrique Duran Barreto
Edismar Henrique Duran Barreto
Idade: 31 a 35
Raça: negro
Cidade: Boa Vista
Condenação: sim
Crime: roubo e furto, outros
biografia: A chacina do dia 6 de janeiro vitimou Edismar e o irmão Erismar Duran da Silva. Segundo a família, os dois foram abandonados pela mãe, ainda crianças. A mãe seria venezuelana, foi passear no país de origem e nunca mais voltou.
Familiares acreditam que isso tenha influenciado no comportamento “revoltado” dos dois, que usavam drogas e cometiam pequenos furtos desde a adolescência.
“A gente nunca achou que fosse acontecer uma barbaridade dessa com eles”, disse a madrasta, que não quis se identificar. Edismar era solteiro.
frase final: Ele morreu decapitado.
Edney Gomes Ferreira
Edney Gomes Ferreira
Idade: 36 a 40
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: roubo e furto
biografia: Ainda restavam quatro anos da pena por roubo quando Edney Ferreira morreu no massacre do Compaj, em Manaus. Desde dezembro de 2015 ele cumpria a pena em regime semiaberto, mas voltou ao fechado depois de ser preso em flagrante roubando o celular de um jovem, em um terminal de ônibus de Manaus.
frase final: Ele morreu assassinado
Eduardo Dos Reis
Eduardo Dos Reis
Idade: 61 a 65
Raça: dado desconhecido
Cidade: Natal
Condenação: sim
Crime: homicídio
biografia: Cumpria pena em Alcaçuz por homicídio qualificado. Antes da condenação, chegou a ser preso em 2007 por tentativa de homicídio contra Maria Jackeline Silva. O crime foi enquadrado como violência doméstica. Por falta de denúncia, a prisão preventiva foi revogada e uma ordem para que se mantivesse a, pelo menos, 200 metros de distância da vítima foi imposta por uma juíza. As circunstâncias da segunda prisão não estão detalhadas no processo. No laudo do Itep, consta que Eduardo morreu de “anemia aguda devido a ferimento no tórax”.
frase final: Ele morreu esfaqueado no peito.
Egberto Pereira Da Silva
Egberto Pereira Da Silva
Idade: 26 a 30
Raça: negro
Cidade: Boa Vista
Condenação: sim
Crime: estupro, roubo e furto
biografia: Egberto possuía dois crimes registrados em sua ficha policial: estupro e roubo. Apesar de sua condenação, ocorrida em 2013, ele alegava inocência e apelou da sentença, definida em 17 anos. De nada adiantou e ele continuou detido até ser assassinado.
frase final: Ele morreu assassinado
Elvis Rover Palma Hernandez
Elvis Rover Palma Hernandez
Idade: 31 a 35
Raça: índio
Cidade: Boa Vista
Condenação: sim
Crime: roubo e furto
biografia: Venezuelano e sem ficha criminal até então, ele foi preso em 2014 após assaltar uma família em Boa Vista. O julgamento ocorreu em 2015. A polícia acredita que tenha sido morto porque mantinha amizade com presidiários de Manaus, onde a facção dominante é a Família do Norte, arquirrival do PCC. Não consta o processo dele no site do TJRR.
frase final: Ele morreu assassinado
Enoque Correia Lira Filho
Enoque Correia Lira Filho
Idade: 41 a 45
Raça: negro
Cidade: Boa Vista
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas, outros, roubo e furto
biografia: No site do TJRR, há informações de que alguns dos crimes de Enoque correm em segredo de Justiça. Moradores da cidade contam que a família toda traficava drogas.
O pai e dois irmãos já haviam sido presos por causa disso em 2008, quando Enoque estava em liberdade – depois de cumprir a pena de seu primeiro crime (roubo). Mas, também envolvido com o tráfico, voltou para a cadeia junto com os familiares.
Acredita-se que eles traziam a mercadoria da Venezuela. Em outubro de 2016, Enoque tentou ir para o regime semiaberto, mas o pedido foi negado.
frase final: Ele morreu assassinado
Erick Queiroz Da Silva
Erick Queiroz Da Silva
Idade: 18 a 25
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas, roubo e furto, outros
biografia: Apesar de jovem, Erick da Silva tinha uma extensa ficha criminal e já havia sido condenado três vezes pelos crimes de roubo e tráfico de drogas. Por três roubos cometidos em 2013, recebeu sentença de cinco anos e quatro meses de reclusão. O modus operandi dele era simples: sempre com um comparsa e a bordo de uma moto, a dupla abordava as vítimas e roubava celulares. Em 2014, foi preso pela última vez, por tráfico de drogas. Na casa dele, a polícia encontrou 152 gramas de maconha e uma porção de crack oxidado. Morreu no Compaj, em Manaus.
frase final: Ele morreu assassinado
Erismar Duran Da Silva
Erismar Duran Da Silva
Idade: 36 a 40
Raça: negro
Cidade: Boa Vista
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas, homicídio, roubo e furto
biografia: Erismar e o irmão Edismar Henrique Duran Barreto morreram na chacina do dia 6 de janeiro. Segundo a família, os dois foram abandonados ainda crianças pela mãe, uma venezuelana. Ela teria ido visitar seu país e não voltou.
Os parentes acreditam que a ausência materna tenha influenciado o comportamento dos dois. Na adolescência, já cometiam pequenos furtos e começaram a usar drogas.
“A gente espera que a justiça seja feita. Morrer com essa crueldade é inadmissível”, disse a madrasta, que não quis se identificar. Erismar foi decapitado, de acordo com a família.
Seu corpo estava enterrado e cimentado em uma ala onde, um dia, funcionou a cozinha do presídio.
frase final: Ele morreu assassinado
Errailson Ramos De Miranda
Errailson Ramos De Miranda
Idade: 31 a 35
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: estupro, homicídio
biografia: Morto no Compaj, em Manaus, Errailson Miranda foi o responsável por um crime que chocou o Amazonas. Em março de 2009, foi acusado de estuprar e assassinar a facadas uma menina de quatro anos, na Zona Oeste da capital amazonense. Respondia ainda por outro homicídio e tráfico de drogas. Dos 41 anos aos quais já havia sido condenado, ainda precisava cumprir 22. Foi enterrado no cemitério Parque Tarumã, local onde trabalha sua mãe, Gessy Ramos.
frase final: Ele morreu assassinado
Fábio Bandeira Da Silva
Fábio Bandeira Da Silva
Idade: 36 a 40
Raça: negro
Cidade: Boa Vista
Condenação: sim
Crime: roubo e furto, tráfico de drogas
biografia: Teria sido morto por integrantes do PCC devido à proximidade mantida com o Comando Vermelho. Segundo os agentes penitenciários, ele era amigo de um dos líderes do CV na época em que a facção atuava na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo. Apesar disso, nunca foi “batizado” e se recusava a entrar para o crime organizado. Acabou sendo morto e, de acordo com os mesmos agentes, teria tido a cabeça arrancada.
frase final: Ele morreu decapitado.
Felipe De Oliveira Carneiro
Felipe De Oliveira Carneiro
Idade: 18 a 25
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: roubo e furto, estupro
biografia: Condenado a 21 anos pelos crimes de furto e estupro, Felipe Carneiro estava preso desde 2014 e morreu no Compaj, em Manaus.
frase final: Ele morreu assassinado
Felipe Mateus Silva Do Nascimento
Felipe Mateus Silva Do Nascimento
Idade: 18 a 25
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: roubo e furto, homicídio
biografia: Manauara, Felipe do Nascimento – conhecido como “Playboy” – morreu no Compaj, na capital amazonense, enquanto cumpria pena de oito anos por roubo. O crime que rendeu a condenação ao jovem ficou conhecido em Manaus. Junto com outros dois comparsas, roubou uma conveniência no centro da cidade e trocou tiros com a polícia. Ele havia ganhado o direito de cumprir a pena em regime semiaberto, mas voltou para o fechado após fugir da cadeia e ser recapturado. “Playboy” também respondia por latrocínio e homicídio.
frase final: Ele morreu assassinado
Felipe Rene Silva De Oliveira
Felipe Rene Silva De Oliveira
Idade: 18 a 25
Raça: dado desconhecido
Cidade: Natal
Condenação: sim
Crime: roubo e furto, outros
biografia: O “Ganguista”, como era conhecido, estava preso em Alcaçuz por roubo à mão armada, furto e corrupção de menor. Encarava 12 anos em regime fechado. Natural de Natal, ele morreu, segundo consta na relação do Itep, por anemia aguda devido a ferimento no tórax e região cervical por “ação perfuro-cortante”.
frase final: Ele morreu esfaqueado no peito e no pescoço.
Fernando Gomes Da Silva
Fernando Gomes Da Silva
Idade: 36 a 40
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: dado desconhecido
Crime: homicídio
biografia: Morreu na Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa, em Manaus, após ser transferido do Compaj.
frase final: Ele morreu assassinado
França Pereira Do Nascimento
França Pereira Do Nascimento
Idade: 31 a 35
Raça: dado desconhecido
Cidade: Natal
Condenação: sim
Crime: homicídio, roubo e furto
biografia: Nascido em Natal, França cumpria pena em Alcaçuz por roubo e homicídio. Ficaria 21 anos preso caso não conquistasse o benefício do semiaberto por bom comportamento.
frase final: Ele morreu decapitado.
Francinaldo Ferreira Santana
Francinaldo Ferreira Santana
Idade: 26 a 30
Raça: branco
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: estupro
biografia: Condenado a 15 anos e nove meses por estupro de vulnerável, Francinaldo Santana morreu no Compaj, em Manaus. Não respondia a outros processos na Justiça.
frase final: Ele morreu assassinado
Francisco Adriano Morais Dos Santos
Francisco Adriano Morais Dos Santos
Idade: 41 a 45
Raça: dado desconhecido
Cidade: Natal
Condenação: sim
Crime: homicídio
biografia: Natural de Parnamirim, cidade da região metropolitana de Natal, Francisco cumpria pena em Alcaçuz por homicídio qualificado. Ele foi condenado pelo crime em 2014. O laudo do Itep diz que Francisco morreu de “choque politraumático causado por instrumento perfuro-contundente”.
frase final: Ele morreu esfaqueado.
Francisco Das Chagas De Souza Silva
Francisco Das Chagas De Souza Silva
Idade: 31 a 35
Raça: negro
Cidade: Boa Vista
Condenação: não
Crime: tráfico de drogas
biografia: Há poucas informações sobre ele. Era preso preventivo, acusado de tráfico, e não havia sido julgado ainda. A transferência dele de um presídio federal para a Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, segundo os agentes penitenciários, fez com que os criminosos do PCC desconfiassem de sua ligação com alguma outra facção e o matassem.
frase final: Ele morreu assassinado
Francisco Luciano Pereira Da Silva
Francisco Luciano Pereira Da Silva
Idade: 26 a 30
Raça: branco
Cidade: Boa Vista
Condenação: não
Crime: tráfico de drogas
biografia: Ele foi preso em 2009 acusado de tráfico e depois fugiu da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo. Foi recapturado em junho de 2015 quando estaria trazendo drogas da Venezuela, mas nunca foi julgado. Não há uma teoria sobre por que teria sido assassinado.
frase final: Ele morreu assassinado
Francisco Pereira Pessoa Filho
Francisco Pereira Pessoa Filho
Idade: 31 a 35
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: homicídio, estupro, roubo e furto
biografia: Conhecido como “Kiko”, Francisco Pessoa Filho morreu no Compaj, em Manaus, onde cumpria pena de 12 anos e seis meses. Natural da capital amazonense e morador do bairro Cidade Nova, na Zona Norte da cidade, tinha ficha criminal extensa. Em 2009, foi condenado por furto e, cinco anos depois, por homicídio. Na ocasião, invadiu a casa de um casal durante a noite, matou o marido e agrediu a esposa. Ele se tornou conhecido pelo estupro e assassinato da jovem Luane de Brito Machado, em 2011. A garota foi abordada enquanto ia para a escola, violentada e assassinada com 16 facadas. Francisco foi condenado pelo estupro, mas absolvido pelo homicídio, que teria sido cometido por outro homem.
frase final: Ele morreu assassinado
Francisco Romério Borba
Francisco Romério Borba
Idade: 36 a 40
Raça: branco
Cidade: Boa Vista
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas
biografia: Era um preso condenado por tráfico de drogas. Ele começou no crime em 2008, foi preso e depois encaminhado para o regime semiaberto, mas voltou para o fechado ao ser flagrado traficando novamente. Em 2015, encontraram com ele vários celulares e drogas dentro do próprio presídio. Isso dá a ideia de que ele tinha certo poder e influência dentro da Pamc e por isso teria sido escolhido pelos membros do PCC para morrer.
frase final: Ele morreu decapitado.
Francismar Souza De Oliveira
Francismar Souza De Oliveira
Idade: dado desconhecido
Raça: branco
Cidade: Boa Vista
Condenação: sim
Crime: roubo e furto
biografia: O site do TJRR não traz a ficha criminal de Francismar. No entanto, segundo os agentes penitenciários, ele teria pertencido ao PCC e quis sair depois que a facção rompeu com o Comando Vermelho. Morreu porque há uma “lei” dentro do crime organizado: não se pode “sair” de uma facção.
frase final: Ele morreu esquartejado
Frank Roniere Ferreira Reis
Frank Roniere Ferreira Reis
Idade: 36 a 40
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: roubo e furto, outros
biografia: Preso desde junho de 2016 no Compaj, em Manaus, Frank Reis cumpria pena pelos crimes de roubo, furto e uso de identidade falsa, quando foi morto. Após furtar a bolsa e o celular de uma mulher e dar um nome falso para a polícia, foi sentenciado a sete anos de reclusão.
frase final: Ele morreu assassinado
Geocival De Lima Frazão
Geocival De Lima Frazão
Idade: 36 a 40
Raça: negro
Cidade: Boa Vista
Condenação: sim
Crime: homicídio
biografia: Mais de um mês após a chacina na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), em Boa Vista (RR), o salão de Dona Neila Maria de Lima Frazão, 54 anos, ainda estava fechado. A manicure mal conseguia conversar, abalada com a morte do filho, Geocival de Lima Frazão.
Ele matou um homem que teria tentado estuprar o irmão, de apenas nove anos. Geocival foi condenado a 12 anos de prisão e passou por presídios em Manaus antes de ser transferido para a Pamc, em 2015. Neila acredita que o filho foi assassinado por acreditarem que ele pertencia a alguma facção.
“Foi muito bárbaro. Eu, como mãe, nunca vou conseguir entender. Cortaram a cabeça do meu filho, as pernas, tiraram o coração do meu menino. Disseram que ele gritava meu nome e o do pai, pedia que a gente fosse salvá-lo. Naquela cadeia ninguém tem amor. Minha vida agora é chorar”, diz.
frase final: Ele morreu decapitado
George Santos De Lima Júnior
George Santos De Lima Júnior
Idade: 18 a 25
Raça: dado desconhecido
Cidade: Natal
Condenação: sim
Crime: roubo e furto, outros
biografia: Nascido na capital potiguar, George cumpria 12 anos em regime fechado na penitenciária de Alcaçuz por porte ilegal de armas. Em 2013, George fugiu do Centro de Detenção da Ribeira, em Natal. Ele teria escapado pelo telhado da cadeia junto com outros sete presos da cela que dividia com 16 homens. Já em Alcaçuz, em 2014, ganhou direito à condicional, mas acabou detido novamente em 2016 por outro assalto à mão armada. George foi um dos dois únicos homens mortos a tiros na rebelião, e não queimados, esfaqueados ou decapitados.
frase final: Ele morreu com um tiro.
Gezildo Nunes Da Silva
Gezildo Nunes Da Silva
Idade: 31 a 35
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas, roubo e furto, outros
biografia: Natural de Nova Olinda do Norte, no interior do Amazonas, Gezildo da Silva tinha o apelido de “Bad Boy”. Morreu no Compaj, em Manaus, onde cumpria pena após ter sido condenado por furto. Também respondia por crimes militares e já havia sido absolvido duas vezes em acusações de tráfico de drogas. Dividia uma cela do “seguro” com Alcinei Gomes, também morto no massacre. Pouco antes da chacina, os dois escreveram uma carta às autoridades acusando o ex-subdiretor do Compaj, José Carvalho da Silva, de corrupção e favorecimento à facção Família do Norte. Os detentos também relatavam ameaças de morte.
frase final: Ele morreu assassinado
Gilson Thiago Pereira Melo
Gilson Thiago Pereira Melo
Idade: 18 a 25
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: roubo e furto
biografia: Condenado por roubo e furto, Gilson morreu no Compaj, em Manaus, onde cumpria pena de seis anos e oito meses. Em 2013, apenas 15 dias após ter ganhado a liberdade provisória, foi preso novamente ao tentar furtar a moto de uma mulher. Moradores o impediram de efetivar a ação e o espancaram. Disse que cometeu o crime para comprar comida. Três anos depois, foi preso mais uma vez por ter roubado o celular de uma jovem que saía da faculdade, na capital amazonense.
frase final: Ele morreu assassinado
Haciel Moreira Silva
Haciel Moreira Silva
Idade: 31 a 35
Raça: branco
Cidade: Boa Vista
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas
biografia: Os agentes contam que, apesar do pouco tempo na cadeia, Haciel Moreira exercia grande liderança sobre os outros detentos. A hipótese deles é a de que o PCC via Haciel como uma ameaça, já que os colegas de presídio o obedeciam. Sua morte seria uma das mais cruéis ocorridas no local. Ele foi decapitado e seu coração, arrancado.
frase final: Ele morreu decapitado e teve o coração arrancado
Heder De Souza Pereira
Heder De Souza Pereira
Idade: 26 a 30
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: roubo e furto, homicídio
biografia: Preso desde fevereiro de 2016, morreu no Compaj, em Manaus, onde cumpria pena por homicídio e tentativa de homicídio. Também respondia por roubos e outro assassinato. Ainda precisava cumprir 20 dos 22 anos aos quais foi condenado.
frase final: Ele morreu assassinado
Huerdeson Paulino De Melo
Huerdeson Paulino De Melo
Idade: 18 a 25
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: não
Crime: homicídio
biografia: Apelidado de “Moicano Maravilha”, Huerdeson de Melo ainda não havia sido condenado, mas cumpria prisão preventiva no Compaj, em Manaus. Foi preso em 2011 após matar um homem a facadas. Três anos depois, confessou participação no latrocínio de dois homens e terminou detido novamente. Aos policiais, teria dito que cometeu o crime para comprar roupas, cortar e pintar o cabelo, fazer as sobrancelhas para as festas de fim de ano: “Queria ficar bonito”. Em maio do ano passado, foi um dos cinco detentos responsáveis por um motim no Centro de Detenção Provisória de Manaus. Eles pediam transferência alegando sofrer ameaças de morte.
frase final: Ele morreu assassinado
Ilmar De Araújo Silva
Ilmar De Araújo Silva
Idade: 36 a 40
Raça: branco
Cidade: Boa Vista
Condenação: sim
Crime: roubo e furto, homicídio
biografia: Em sua ficha criminal, Ilmar somava condenações por roubo, furto e homicídio. Seu comportamento dentro do presídio o impediu de conseguir progressão de regime, no ano passado. O juiz negou o pedido para o semiaberto. Um dia antes de sua morte, recebeu mais uma sentença: seis anos de reclusão pelo roubo de uma bicicleta.
frase final: Ele morreu assassinado
Jackson De Oliveira Avelino
Jackson De Oliveira Avelino
Idade: 18 a 25
Raça: branco
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: homicídio, outros
biografia: Morto no Compaj, em Manaus, Jackson trabalhava como carpinteiro e estava preso desde junho de 2014. Ele assassinou um jovem de 23 anos, William dos Santos Azevedo, com golpes de remo. O crime foi cometido com dois comparsas, um deles também morto no massacre: Michel Wendell Melgueiros da Costa. Antes do homicídio, tinha sido preso por roubo duas vezes, crimes pelos quais já havia sido condenado. Na última detenção, ao ser apresentado pela polícia a jornalistas, sorriu e fez caretas para as fotos.
frase final: Ele morreu assassinado
Jaime Da Conceição Pereira
Jaime Da Conceição Pereira
Idade: 41 a 45
Raça: negro
Cidade: Boa Vista
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas
biografia: Foi a partir da denúncia da mulher de Jaime que a Secretaria de Justiça de RR resolveu procurar por mais corpos. Inicialmente a pasta afirmava que eram 31 mortos e até divulgou a lista com os nomes deles. No entanto, a viúva de Jaime da Conceição chorava na porta do presídio e alardeava, aos gritos, que o marido dela tinha sido assassinado. Após nova busca, encontraram o corpo do homem enterrado na antiga cozinha da penitenciária.
frase final: Ele morreu assassinado
Jairo Dos Santos Morais
Jairo Dos Santos Morais
Idade: 41 a 45
Raça: branco
Cidade: Boa Vista
Condenação: sim
Crime: estupro
biografia: Ele foi preso em 2010, acusado pela então esposa de abusar sexualmente da enteada de 12 anos. Na época, Jairo fugiu com a garota para uma fazenda onde a engravidou e ainda a mantinha em cárcere privado. Desde então, foi mantido preso e depois julgado. Segundo os agentes, era ameaçado desde que foi detido, já que esse tipo de crime não é aceito na cadeia. Ficava em uma ala separada, próximo à “favelinha”. Quando o PCC invadiu o local, foi um dos primeiros a morrer.
frase final: Ele morreu decapitado e esquartejado
Jander De Andrade Maciel
Jander De Andrade Maciel
Idade: 26 a 30
Raça: índio
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: estupro, roubo e furto
biografia: Natural de Manacapuru, no interior do Amazonas, Jander Maciel estava preso desde janeiro de 2016 pelo estupro de uma criança de três anos. Apontado pela mãe da vítima como o autor do crime, ele foi espancado por populares antes de ser preso. No mês seguinte, saiu a condenação: 12 anos de prisão por estupro de vulnerável. Era um dos cinco presos indígenas que morreram no Compaj, em Manaus.
frase final: Ele morreu assassinado
Jefferson Pedroza Cardozo
Jefferson Pedroza Cardozo
Idade: 18 a 25
Raça: dado desconhecido
Cidade: Natal
Condenação: sim
Crime: roubo e furto
biografia: Jefferson tinha 21 anos e cumpria pena em Alcaçuz por roubo majorado com agravante – mão armada ou privação de liberdade da vítima, segundo o Código Penal. De acordo com a ficha do Itep, morreu de anemia aguda “devido a uma hemorragia interna, causada por ferimento de vasos e vísceras”.
frase final: Ele foi morto a tiros
Jefferson Souza Dos Santos
Jefferson Souza Dos Santos
Idade: 31 a 35
Raça: dado desconhecido
Cidade: Natal
Condenação: sim
Crime: roubo e furto, tráfico de drogas
biografia: Condenado por roubo à mão armada e tráfico de drogas, cumpria nove anos e quatro meses em regime fechado. Em 2013, Jefferson foi preso com a mulher e um homem por tráfico. Os três vendiam as drogas nos fundos de uma casa em Nísia Floresta, cidade da região metropolitana de Natal que abriga o presídio. Com eles, a polícia encontrou 100 pedras de crack e 12 papelotes de cocaína.
frase final: Ele morreu decapitado.
João Paulo Venâncio
João Paulo Venâncio
Idade: 31 a 35
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: homicídio, roubo e furto
biografia: Condenado a 24 anos de prisão pelos crimes de roubo e homicídio, ainda precisava cumprir 18 anos da pena. Estava preso desde 2011 e morreu no Compaj, em Manaus.
frase final: Ele morreu assassinado
Jonas Victor De Barros Nascimento
Jonas Victor De Barros Nascimento
Idade: 36 a 40
Raça: dado desconhecido
Cidade: Natal
Condenação: sim
Crime: roubo e furto, homicídio
biografia: “Ali só tem massacre”. É assim que Maria José de Sousa, de 49 anos, descreve o lugar onde o marido passou os últimos três anos da vida. Repetia, entre uma e outra lembrança, a queixa sobre a falta de estrutura do presídio, que é, na teoria, de segurança máxima.
Jonas Victor de Barros Neto não brincou de carrinho quando criança. Maria conta, ainda meio impressionada com o fato, que, aos 10 anos, o marido já usava e vendia drogas. “Não teve infância”, diz, ao tentar justificar o porquê de ele ter ficado atrás das grades.
Cumpria pena por homicídio. A viúva conta que foi o cunhado, na época, quem o convenceu do crime.
Em Alcaçuz, Jonas cursava o 2º ano do ensino médio. Há tempos reclamava, por celular, que o local “andava perigoso”. Conversaram pela última vez na sexta-feira, 13 de janeiro, um dia antes de a rebelião explodir.
“Ele falava como se tivesse um pano cobrindo a boca. Dizia que, se acontecesse alguma coisa com ele, queria que eu soubesse o quanto me amava. Desligou de repente, como se tivessem tomado o telefone dele”. No dia seguinte, foi morto.
frase final: eeve
Joniarlison Feitosa Dos Santos
Joniarlison Feitosa Dos Santos
Idade: 18 a 25
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas, outros
biografia: Joniarlison Feitosa dos Santos conheceu a primeira filha já na cadeia e só a viu completar oito meses de idade. Aos 22 anos, foi assassinado no massacre do Complexo Penitenciário Anísio Jobim, no dia 1º de janeiro. “Era o filho mais carinhoso, o que mais me ajudava. Me chamava de rainha”, conta, muito emocionada e saudosa, a mãe Divaneide, 47 anos.
Formada por sete filhos, a família liderada pela costureira e pelo marido, o pedreiro Manoel, 56, saiu de Santarém (PA) para tentar uma vida melhor em Manaus. Joniarlison começou a se envolver com a criminalidade na capital do Amazonas. Na adolescência, passou a traficar drogas para manter o vício. Entre 2013 e 2015, foi detido três vezes pelo mesmo crime, além de uma por porte ilegal de arma de fogo. “Era coisa pequena, nada de mais. Da última vez que foi preso, a polícia invadiu nossa casa e levou ele”, diz Manoel. Antes da prisão, Joniarlison morava com os pais em uma casa de madeira na periferia de Manaus e participava no orçamento familiar trabalhando como ajudante de padeiro. Também auxiliava o pai quando apareciam serviços de pedreiro. Desde que foi preso pela última vez, no entanto, em outubro de 2015, só via os familiares através das grades.
As visitas da mãe, do pai e da namorada eram frequentes. No dia anterior ao massacre no Compaj, a mãe da filha de Joniarlison havia passado a noite de ano-novo na festa que ocorreu dentro do presídio. Horas antes do motim, o pai também havia visitado o filho. E conta: “Estava tudo bem, todo mundo feliz. Quando eu cheguei em casa, recebi a notícia sobre a rebelião. Daí já voltei direto para lá”. A confirmação da morte do filho veio no dia seguinte. “Eu sinto tanta falta dele, pego as roupas e fico sentindo o cheiro. Não consigo acreditar no que aconteceu”, lamenta Neide. Agora ela espera poder ajudar a neta. Um jeito de reverenciar a memória de Joniarlison.
frase final: Ele morreu assassinado
José Aldinei Da Silva Leal
José Aldinei Da Silva Leal
Idade: 31 a 35
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: estupro, roubo e furto
biografia: Condenado a 17 anos e três meses pelos crimes de estupro e roubo, José Leal morreu no Compaj, em Manaus. Da pena, ainda restavam 12 anos a serem cumpridos. Respondia ainda pelo homicídio de outro preso, cometido em 2015.
frase final: Ele morreu assassinado
José Antônio Araújo De Oliveira
José Antônio Araújo De Oliveira
Idade: 41 a 45
Raça: branco
Cidade: Boa Vista
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas
biografia: Não há informações sobre ele no site do TJRR. Segundo os agentes, era um preso antigo, sempre detido por tráfico e muito respeitado dentro da cadeia. Teria morrido porque o PCC estava eliminando qualquer tipo de pessoa que significasse alguma ameaça ao poder da facção.
frase final: Ele morreu decapitado
José De Moura Ferreira
José De Moura Ferreira
Idade: 46 a 50
Raça: negro
Cidade: Boa Vista
Condenação: não
Crime: tráfico de drogas
biografia: Em 2014, foi investigado por participar do PCC. Ele teria entrado na facção após sua transferência para um presídio federal em Rondônia. Segundo os agentes, José Ferreira tentava deixar a facção, o que pode ter motivado seu assassinato na chacina de 6 de janeiro.
Há ainda a hipótese de que, antes, ele pertencesse ao Comando da Maioria e, por saber disso, o próprio PCC tenha decidido matá-lo. A troca de organização criminosa não tornava o preso confiável. Nos registros do TJRR, há apenas um crime dele: tráfico.
frase final: Ele morreu assassinado
Josenildo Alves Ferreira
Josenildo Alves Ferreira
Idade: 36 a 40
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: homicídio, tráfico de drogas
biografia: Preso desde setembro de 2014, morreu no Compaj, em Manaus, onde cumpria pena por homicídio e tráfico de drogas. Foi condenado a 12 anos e 11 meses de reclusão, dos quais ainda restavam oito anos a cumprir. Chegou a progredir para o regime semiaberto, mas voltou ao fechado após cometer novos crimes.
frase final: Ele morreu assassinado
Kayro Silva De Souza
Kayro Silva De Souza
Idade: 18 a 25
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: roubo e furto
biografia: Condenado a oito anos de prisão por roubar dois celulares, morreu no Compaj, em Manaus, onde cumpria pena havia um ano. Sua primeira prisão ocorreu em 2012. Na ocasião, pediu R$ 5 a uma mulher que seguia em direção a uma igreja. Tendo o pedido negado, roubou o celular da vítima. Pelo crime, foi condenado a quatro anos de reclusão, mas ganhou o direito de recorrer em liberdade. Em abril de 2016, roubou o o celular e a bolsa de uma mulher. Desta vez, foi condenado a quatro anos e oito meses de reclusão.
frase final: Ele morreu assassinado
Kelvin Kline Silva Farias
Kelvin Kline Silva Farias
Idade: 18 a 25
Raça: branco
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas, roubo e furto
biografia: Preso desde abril de 2016, morreu na Unidade Prisional do Puraquequara, em Manaus, onde estava detido preventivamente por tráfico de drogas. Em 2012, já havia sido condenado por roubo. À ocasião, roubou o celular de um homem junto com um comparsa.
frase final: Ele morreu decapitado
Lázaro Quincas Saldanha
Lázaro Quincas Saldanha
Idade: 41 a 45
Raça: negro
Cidade: Boa Vista
Condenação: não
Crime: tráfico de drogas, outros
biografia: O preso tinha voltado para a cadeia havia pouco tempo. Ele estava em liberdade condicional desde 2014 — depois de três anos de prisão por tráfico, havia sido liberado para passar o dia fora e voltar para dormir na cela. Em novembro do ano passado, porém, foi recapturado após ser encontrado com uma arma e objetos roubados. Nem mesmo os agentes entendem por que Lázaro foi escolhido para morrer.
frase final: Ele sangrou até morrer
Lenilson Calixto Pires
Lenilson Calixto Pires
Idade: 36 a 40
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: roubo e furto
biografia: Cumpria pena de dois anos e quatro meses por furto no Compaj, em Manaus, onde morreu. Também já havia respondido por crimes em Rondônia, onde ficou preso e chegou a participar de uma tentativa frustrada de fuga. No estado, foi denunciado pelo Ministério Público por dano ao patrimônio público após serrar as grades da cela onde ficava, junto com outros dois detentos. No entanto, foi absolvido da acusação.
frase final: Ele morreu assassinado
Lenilson De Oliveira Melo Silva
Lenilson De Oliveira Melo Silva
Idade: 26 a 30
Raça: dado desconhecido
Cidade: Natal
Condenação: sim
Crime: roubo e furto, outros
biografia: Filho de Francisco e Maria Cícero, Lenilson foi preso por roubo e porte ilegal de arma de fogo. O processo no Tribunal de Justiça do RN mostra que ele conseguia a progressão de regime para o semiaberto, mas sempre acabava encarcerado de novo. Em 2016, foi preso e condenado novamente por outro roubo. Sua pena passou de seis para 14 anos em regime fechado. O laudo do Itep aponta que Lenilson morreu de “anemia aguda” devido a ferimento no tórax e pescoço por objeto “perfuro-cortante”.
frase final: Ele morreu com duas facadas, no peito e pescoço.
Leonis Aris Gama Filho
Leonis Aris Gama Filho
Idade: 18 a 25
Raça: índio
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: homicídio
biografia: Condenado em março de 2013 a 12 anos de prisão por homicídio, era um dos cinco presos indígenas que morreram no Compaj, em Manaus. O crime foi cometido na cidade de Maués, no interior do Amazonas, onde Leonis cumpria pena. No início de 2016, com problemas de saúde, foi transferido para a capital com o objetivo de ser submetido a tratamento médico.
frase final: Ele morreu assassinado
Linekim Marinho De Lira
Linekim Marinho De Lira
Idade: 18 a 25
Raça: índio
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: homicídio, roubo e furto, outros
biografia: Apelidado de “Diabinho”, era um dos cinco presos indígenas que morreram no Compaj, em Manaus. Detido desde janeiro de 2016, cumpria pena de 31 anos e cinco meses de reclusão pelos crimes de latrocínio, tráfico de drogas e porte ilegal de armas. Em janeiro do ano passado, após fazer uma série de assaltos com um comparsa, esfaqueou um motorista de ônibus que reagiu ao roubo de uma moto. Pelo crime, foi condenado a 25 anos de reclusão.
frase final: Ele morreu assassinado
Lucas Alves De Souza
Lucas Alves De Souza
Idade: 18 a 25
Raça: branco
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: estupro
biografia: Preso desde 2014 por estupro de vulnerável, Lucas morreu no Compaj, em Manaus. Ainda restavam sete dos nove anos e quatro meses aos quais foi condenado pelo crime.
frase final: Ele morreu assassinado
Luis Oliveira Dos Santos
Luis Oliveira Dos Santos
Idade: 46 a 50
Raça: branco
Cidade: Boa Vista
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas, homicídio
biografia: Era um preso antigo e conhecido no sistema prisional. Teria sido assassinado devido à influência que exercia em alguns colegas de cela por ser um dos mais velhos por lá. Ele deixaria a penitenciária nos meses seguintes, segundo a ex-mulher. Luiz teria ainda ligado para ela, umas duas horas antes do início do massacre, pedindo para que a mulher cuidasse dos dois filhos que o casal teve.
frase final: Ele morreu assassinado
Luiz Carlos Da Costa
Luiz Carlos Da Costa
Idade: 18 a 25
Raça: dado desconhecido
Cidade: Natal
Condenação: sim
Crime: roubo e furto
biografia: Até uma semana antes do massacre que matou Luiz Carlos, de 24 anos, sua esposa, Anaíris, de 23, e a filha, hoje com 1 ano, o visitavam no presídio da Ribeirinha, bairro de Natal onde os dois viviam antes da prisão. Ele tinha pela frente 8 anos de regime fechado por um roubo à mão armada. A mulher diz que o marido assumiu “um erro que não era dele”.
Não entende o tamanho da pena que ele recebeu, já que era réu primário. Queria brigar na Justiça para diminuir a permanência de Luiz Carlos em Alcaçuz. Não deu tempo. Ela tinha ido até a casa de detenção na sexta-feira (13/1) para fazer a carteirinha que permitiria visitá-lo na nova “casa”. No dia seguinte, o marido foi morto na rebelião.
Quando as imagens do terror começaram a circular pelos telefones de parentes e curiosos, Anaíris reconheceu Luiz Carlos. Ele aparece em uma das fotos com um ferro atravessado na boca. “Tinha esperança de que saísse mudado, de cabeça erguida”, lamenta, com um olhar mais raivoso do que triste.
frase final: Ele morreu esfaqueado
Luiz Otávio Sampaio De Almeida
Luiz Otávio Sampaio De Almeida
Idade: 26 a 30
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: homicídio, roubo e furto
biografia: Condenado a 30 anos e sete meses de reclusão, morreu no Compaj, em Manaus, onde cumpria pena desde 2013 pelo homicídio de uma mulher e uma tentativa de assassinato contra a mãe dela. Luiz Otávio prestava serviços de jardinagem às vítimas e foi até a casa delas cobrar uma dívida de R$ 100. A mais jovem teria dito que não tinha o dinheiro. Ele então a matou a bengaladas e facadas. Depois, tentou assassinar a mãe dela para que não a socorresse. Ao cometer o crime, disse que não gostou da “arrogância” da vítima. Também respondia por furto.
frase final: Ele morreu assassinado
Machel Bruno De Souza Barros
Machel Bruno De Souza Barros
Idade: 26 a 30
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: homicídio, roubo e furto
biografia: Cumpria desde 2013 a pena de 26 anos e quatro meses de reclusão no Compaj, em Manaus, onde morreu. Em 2008, foi condenado, pela primeira vez, a 4 anos de prisão pelo roubo de uma moto. Com uma arma, ameaçou um casal de amigos e levou o veículo em que estavam, mas a polícia o pegou instantes depois. Em 2010, foi novamente sentenciado, dessa vez por latrocínio. Junto com dois comparsas, tentou roubar um malote de dinheiro que estava com dois homens, dentro de um banco. Uma das vítimas reagiu e foi baleada por um dos companheiros de Machel. Pelo crime, recebeu a condenação de 20 anos e 10 meses de prisão. Recorreu e, em 2013, foi condenado em segunda instância.
frase final: Ele morreu assassinado
Maelson Augusto Barbosa Da Costa
Maelson Augusto Barbosa Da Costa
Idade: 31 a 35
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: homicídio, roubo e furto, outros
biografia: Morto no Compaj, em Manaus, ainda precisava cumprir 22 anos da pena de 31 anos de reclusão a qual foi condenado. Respondia pelos crimes de homicídio, roubo e privação de liberdade. Entre 2006 e 2010, conseguiu duas vezes a progressão de cumprimento de pena para o regime semiaberto. No entanto, em ambas as ocasiões, parou de fornecer informações à Justiça e foi considerado foragido. Desde então, teve todos os pedidos de progressão de regime rejeitados.
frase final: Ele morreu assassinado
Magaiwer Vieira Rodrigues
Magaiwer Vieira Rodrigues
Idade: 18 a 25
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas, roubo e furto
biografia: Condenado pelo roubo de um celular, foi morto no Compaj, em Manaus, onde cumpria pena. Também já havia sido apreendido com drogas por diversas vezes em Manaus e respondia a pelo menos três processos por tráfico. Foi um dos primeiros enterrados na quadra 34 do cemitério Parque Tarumã, em Manaus.
frase final: Ele morreu assassinado
Manoel Freitas Barros
Manoel Freitas Barros
Idade: 46 a 50
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: roubo e furto
biografia: “Manoel Tatu”, como era conhecido, morreu no Compaj, em Manaus, onde estava desde janeiro de 2014. Nascido em Itacoatiara, no interior do Amazonas, era um dos líderes da FDN no estado e foi morto por um desentendimento dentro da facção. Cumpria uma das maiores penas entre os mortos no massacre: 75 anos, por participação em diversos assaltos. Em 2010, foi transferido para um presídio federal em Mato Grosso do Sul, mas voltou ao Compaj em outubro de 2012. Em Manaus, era acusado de incitar rebeliões e de ser indisciplinado. Também em 2012, foi transferido novamente para um presídio em outro estado — desta vez, Rondônia. Em 2014, voltou ao Compaj, apesar de protestos de autoridades, que temiam a repercussão da volta de “Manoel Tatu” ao estado.
frase final: Ele morreu assassinado
Marcelo Pena Lima
Marcelo Pena Lima
Idade: 31 a 35
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas, roubo e furto
biografia: Trabalhava como ajudante de pedreiro antes de fazer parte da lista de detentos do Compaj, em Manaus, onde morreu. Cumpria sentença de 11 anos de prisão por roubo e tráfico de drogas. Quatro desses anos eram resultado de uma condenação pelo roubo de um celular. Segundo a denúncia, Marcelo e um comparsa roubaram o celular de uma vítima utilizando uma arma de brinquedo. Em abril do mesmo ano, foi preso em casa, no bairro Tancredo Neves, Zona Leste de Manaus, com 1,5kg de maconha prensada.
frase final: Ele morreu assassinado
Márcio Correia Marcelo
Márcio Correia Marcelo
Idade: 36 a 40
Raça: branco
Cidade: Boa Vista
Condenação: sim
Crime: homicídio, tráfico de drogas
biografia: Foi preso por homicídio e iria para o regime semiaberto em maio deste ano, mas acabou morrendo dois meses antes. Segundo a família, era um preso tranquilo, que não pertencia a nenhuma facção e só queria “cumprir a pena”. Já os agentes penitenciários alegam que ele teria “flertado” com a antiga facção, chamada Comando da Maioria. Foi o bastante para ser assassinado pelo PCC.
frase final: Ele morreu assassinado
Marcos Aurélio Costa Do Nascimento
Marcos Aurélio Costa Do Nascimento
Idade: 26 a 30
Raça: dado desconhecido
Cidade: Natal
Condenação: sim
Crime: roubo e furto, outros
biografia: Cumpria pena de 10 anos em Alcaçuz no regime fechado por roubo à mão armada e tentativa de latrocínio. Foi condenado duas vezes por crimes diferentes, mas acabou saindo e voltando à prisão inúmeras vezes por descumprimento do semiaberto — algo que muitos dos mortos na rebelião tinham em comum. A última vez havia sido em novembro de 2015 em Santa Cruz, cidade do sertão potiguar, a duas horas da capital. Ele e outro homem foram abordados pela polícia porque, segundo os agentes, tinham “atitude suspeita”. Dois revólveres calibre .38 estavam com a dupla e foram apreendidos. Marcos Aurélio, que cumpria pena no semiaberto no Presídio Raimundo Nonato, em Natal, foi levado para Alcaçuz. Policiais dizem que a dupla roubava motos na estrada e chegou a atirar em algumas vítimas.
frase final: Ele morreu assassinado
Marcos Frederico Gomes Rocha Pereira
Marcos Frederico Gomes Rocha Pereira
Idade: 26 a 30
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: tráfico de rogas, homicídio, roubo e furto
biografia: Condenado a 24 anos de prisão pelos crimes de homicídio, roubo e tráfico de drogas, morreu no Compaj, em Manaus. Desde 2011, conseguia sucessivas progressões para o regime semiaberto, mas sempre voltava ao fechado após cometer outros crimes e ser condenado novamente. Na última vez em que foi preso, em 2014, estava com 64 trouxinhas de entorpecente — 32 de oxi e 32 de cocaína. Ao receber voz de prisão, tentou subornar os policiais. Não teve sucesso e voltou à prisão.
frase final: Ele morreu assassinado
Marlon De Araujo Da Silva
Marlon De Araujo Da Silva
Idade: 26 a 30
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: roubo e furto
biografia: Morreu no Compaj, em Manaus, onde cumpria pena de 16 anos e nove meses de reclusão por diversos roubos. Em um dos crimes, assaltou um mercadinho no bairro Vila da Prata, na Zona Oeste de Manaus.
frase final: Ele morreu assassinado
Marlon Pietro Da Silva Nascimento
Marlon Pietro Da Silva Nascimento
Idade: 18 a 25
Raça: dado desconhecido
Cidade: Natal
Condenação: sim
Crime: roubo e furto
biografia: Tinha acabado de chegar à maioridade quando foi preso, em 2012, em uma ação cinematográfica. Segundo a Polícia Militar, Marlon tinha roubado, em sequência, pelo menos 10 pessoas no mesmo dia, na capital do Rio Grande do Norte. Protagonizou um arrastão. A perseguição durou cinco horas. Ele acabou preso em flagrante enquanto tentava se esconder debaixo da cama de uma casa que encontrou com o portão aberto. Um comparsa de Marlon escapou. Em Alcaçuz, cumpriria, de acordo com sua sentença, 13 anos e 6 meses de reclusão. Era casado com uma universitária, Ludiele. O laudo do Itep aponta que Marlon Pietro morreu de anemia aguda causada por ferimento no tórax e na região cervical.
frase final: Ele morreu esfaqueado no peito e no pescoço
Michel Wendell Melgueiro Da Costa
Michel Wendell Melgueiro Da Costa
Idade: 18 a 25
Raça: índio
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: homicídio, roubo e furto
biografia: Um dos assassinados no Compaj, em Manaus, estava preso por crimes como furto, roubo e homicídio. Cumpria condenação de 15 anos de reclusão pelo assassinato de William dos Santos Azevedo, cometido em conjunto com outro preso morto no massacre: Jackson Oliveira Avelino. O mentor do crime seria um tio de Michel. Em dezembro do ano passado, poucos dias antes do massacre, foi um dos 14 presos que fugiram do Compaj durante um motim. No entanto, foi recapturado no mesmo dia.
frase final: Ele morreu assassinado
Mizael Guimarães Da Silva
Mizael Guimarães Da Silva
Idade: 26 a 30
Raça: negro
Cidade: Boa Vista
Condenação: não
Crime: outros
biografia: Mizael havia sido detido 12 dias antes de ser assassinado, após uma briga de bar. Foi preso porque já tinha tentado matar a ex-mulher. A pena por esse crime havia sido cumprida. Pode ter sido assassinado por vingança contra o irmão, preso na mesma cadeia, acusado de tráfico de drogas.
frase final: Ele morreu decapitado e esquartejado
Moacir Jorge Pessoa Da Costa
Moacir Jorge Pessoa Da Costa
Idade: 46 a 50
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: homicídio, tráfico de drogas
biografia: Foi vítima de uma das mortes mais brutais ocorridas no massacre do Compaj, em Manaus. Relatos apontam que teria sido esquartejado e carbonizado. Os outros detentos teriam até comido seus olhos. Ex-policial militar, “Moa”, como era conhecido, cumpria pena de 27 anos no presídio por homicídio. Era acusado de participar de um grupo de extermínio comandado pelo ex-deputado estadual do Amazonas Wallace Souza. O objetivo dos crimes seria exibi-los em um programa policialesco que o ex-parlamentar apresentava na televisão amazonense. O caso ganhou projeção nacional, à época. Primeiro, confessou os crimes. Depois, passou a negá-los. Foi absolvido em primeira instância, mas condenado em segunda. Cumpria pena em uma ala do “seguro” e já tinha denunciado diversas ameaças sofridas dentro do Compaj.
frase final: Ele morreu esquartejado e carbonizado
Não Identificado
Não Identificado
Idade: dado desconhecido
Raça: dado desconhecido
Cidade: Manaus
Condenação: dado desconhecido
Crime: dado desconhecido
biografia: As autoridades não conseguiram identificar a vítima.
frase final: Não informado
Não Identificado
Não Identificado
Idade: dado desconhecido
Raça: dado desconhecido
Cidade: Natal
Condenação: dado desconhecido
Crime: dado desconhecido
biografia: As autoridades não conseguiram identificar a vítima.
frase final: Não informado
Não Identificado
Não Identificado
Idade: dado desconhecido
Raça: dado desconhecido
Cidade: Natal
Condenação: dado desconhecido
Crime: dado desconhecido
biografia: As autoridades não conseguiram identificar a vítima.
frase final: Não informado
Não Identificado
Não Identificado
Idade: dado desconhecido
Raça: dado desconhecido
Cidade: Natal
Condenação: dado desconhecido
Crime: dado desconhecido
biografia: As autoridades não conseguiram identificar a vítima.
frase final: Não informado
Não Identificado
Não Identificado
Idade: dado desconhecido
Raça: dado desconhecido
Cidade: Natal
Condenação: dado desconhecido
Crime: dado desconhecido
biografia: As autoridades não conseguiram identificar a vítima.
frase final: dado desconhecido
Nilson Sales Sousa
Nilson Sales Sousa
Idade: 31 a 35
Raça: negro
Cidade: Boa Vista
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas, roubo e furto
biografia: Ele era preso constantemente por crimes de menor periculosidade. A última vez que voltou para a cadeia foi em 2012, após roubar uma moto em Boa Vista (RR) e tentar cruzar a fronteira para a Guiana. Segundo a família, Nilson era uma pessoa calma, que não pertencia a nenhuma facção e deixaria a cadeia em abril deste ano. Morreu com várias perfurações no corpo, no entanto, ainda de acordo com a família, foi um dos poucos que não foram esquartejados.
frase final: Ele morreu esfaqueado
Paulo César Silva Guimarães Filho
Paulo César Silva Guimarães Filho
Idade: 36 a 40
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: roubo e furto
biografia: Membro de uma quadrilha especializada em roubos a residências, Paulo morreu no Compaj, em Manaus. Cumpria pena de 10 anos de prisão, após ser condenado por dois assaltos. Em um deles, invadiu uma casa, rendeu os moradores e, junto com um comparsa, roubou objetos. Depois, a dupla fugiu no carro de uma das vítimas. Estava preso desde junho de 2015.
frase final: Ele morreu assassinado
Paulo Henrique Dos Santos Lagos
Paulo Henrique Dos Santos Lagos
Idade: 26 a 30
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: não
Crime: tráfico de drogas
biografia: Um dos presos decapitados na Unidade Prisional do Puraquequara, em Manaus, Paulo estava preso provisoriamente desde novembro de 2016, por tráfico. Taxista, foi detido depois que policiais encontraram 200kg de drogas no carro que ele usava para trabalhar. Aos policiais, à época da prisão, Paulo afirmou que havia recebido R$ 200 para transportar a “mercadoria”. Após dois meses preso, morreu sem ser julgado.
frase final: Ele morreu assassinado
Paulo Henrique Lima Dos Santos
Paulo Henrique Lima Dos Santos
Idade: 18 a 25
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: homícidio, roubo e furto
biografia: Conhecido como “Carreirinha”, morreu no Compaj, em Manaus, onde cumpria pena de 15 anos de reclusão por homicídio e roubo. Era acusado de participação em diversos assaltos na capital amazonense e suspeito de envolvimento em três assassinatos, inclusive no de um policial militar.
frase final: Ele morreu assassinado
Paulo Marcelo Santos Nascimento
Paulo Marcelo Santos Nascimento
Idade: 41 a 45
Raça: branco
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: homicídio, tráfico de drogas
biografia: “PC”, como era conhecido, é um dos detentos mortos no Compaj, em Manaus. Apontado como o chefe do tráfico de drogas na Zona Sul da capital amazonense, cumpria pena de 29 anos e seis meses de reclusão por esse crime e por homicídio. A esposa, Karen Anny Farias, havia sido presa como traficante junto com ele, em 2011. Ficou dois anos detida, mas foi absolvida em julgamento. No dia da prisão, “PC” garantia que a mulher não estava envolvida nos crimes. Natural de Santarém (PA), deixou, além da esposa, uma filha.
frase final: Ele morreu assassinado
Paulo Wendel Guimarães Cardoso
Paulo Wendel Guimarães Cardoso
Idade: 18 a 25
Raça: branco
Cidade: Boa Vista
Condenação: não
Crime: roubo e furto
biografia: Era réu primário e não há nada sobre ele no site do TJRR. Foi preso em novembro de 2015, acusado de roubo em Nova Colina, município de Rorainópolis, no interior de Roraima. No fim do ano passado, a defensoria chegou a pedir sua liberdade provisória, mas o juiz negou ao afirmar que a criminalidade na região havia diminuído depois da prisão de Paulo Wendel. Outro argumento para não libertá-lo foi o de que a família do acusado era de Manaus (AM) e, caso ele retornasse para lá, poderia não ser mais encontrado. A mãe não quis dar informações por medo da facção. Ele tinha uma audiência marcada para um dia antes de morrer, na qual se decidiria sobre sua permanência na prisão até o julgamento. A audiência, no entanto, foi cancelada.
frase final: Ele morreu assassinado
Pedro Henrique Alves De Souza
Pedro Henrique Alves De Souza
Idade: 26 a 30
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: roubo e furto
biografia: Morto no Compaj, em Manaus, Pedro tinha apenas um delito na ficha criminal. Foi condenado a cinco anos e nove meses de prisão pelo assalto a um restaurante na Zona Sul de Manaus. A ação, realizada com a ajuda de três comparsas, foi impedida por um policial militar que estava de folga no local. Houve troca de tiros e Pedro Henrique acabou ferido, mas conseguiu fugir. Foi preso quatro dias depois e sempre negou sua participação no crime.
frase final: Ele morreu assassinado
Rafael Brazão Gonçalves
Rafael Brazão Gonçalves
Idade: 18 a 25
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: roubo e furto
biografia: Condenado a 11 anos e dois meses de prisão, Rafael cumpria pena no Compaj, em Manaus, onde morreu. Foi sentenciado por dois roubos e respondia a um terceiro processo pelo mesmo crime. Em uma das ocasiões, roubou o celular de uma mulher sob ameaça de uma faca. Cumpria a pena em regime semiaberto até outubro do ano passado, quando foi considerado foragido e recolhido ao Compaj.
frase final: Ele morreu assassinado
Rafael Moreira Da Silva
Rafael Moreira Da Silva
Idade: 18 a 25
Raça: dado desconhecido
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: homicídio, roubo e furto
biografia: Um dos presos mortos no Compaj, em Manaus, Rafael cumpria pena de 20 anos de reclusão por homicídio. Ficou conhecido por assassinar um caseiro de 27 anos, em abril de 2014. Junto com outras três pessoas, Rafael, supostamente após ter usado drogas, pediu dinheiro à vítima assim que ela saiu de um ônibus. Ao ouvir do homem que não tinha dinheiro, atirou contra ele. Antes de ser preso, morava na Zona Rural de Manaus com a mãe e já respondia na Justiça por um roubo.
frase final: Ele morreu assassinado
Raijean Da Encarnação Medeiros
Raijean Da Encarnação Medeiros
Idade: 31 a 35
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: dado desconhecido
Crime: estupro, roubo e furto
biografia: Condenado a 23 anos e seis meses de prisão por estupro e roubo, Raijean morreu no Compaj, em Manaus, onde cumpria pena. Deixou mulher e filhos. Antes do motim, pediu à esposa que cuidasse bem dos pequenos porque sentia a possibilidade de uma rebelião no presídio.
frase final: Ele morreu assassinado
Renato Maciel Do Nascimento
Renato Maciel Do Nascimento
Idade: 18 a 25
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação:
Crime: homicídio, roubo e furto
biografia: Integrante de uma família de seis filhos, Renato teve uma infância pobre na periferia de Manaus. Criado no bairro São José Operário, na Zona Oeste da capital amazonense, largou os estudos na 5ª série. Segundo a mãe, a auxiliar de serviços gerais Maria de Fátima Maciel, 41 anos, nessa época, o rapaz já matava aula para ficar com os amigos. “Foram eles que o levaram para o mau caminho”, diz.
Maria de Fátima afirma que, até os 15 anos, a vida do jovem foi tranquila. Mas tudo mudou após a primeira apreensão pela polícia, por tráfico de drogas. “Ele tinha ido morar com uma tia e, depois de algum tempo, me disse que estava desconfiado do envolvimento dela com o tráfico. Um dia depois que me falou isso, a polícia apareceu lá e prendeu todo mundo”, conta.
Como era adolescente, Renato foi liberado algum tempo depois. Mas a partir daí, os problemas com a lei passaram a ser frequentes. Ainda jovem, foi apreendido outras sete vezes, mas a mãe não detalha os crimes. Passou a trabalhar como ajudante de carpinteiro e morava em um quarto alugado a alguns metros da casa de Maria de Fátima.
Em 2013, no entanto, logo após completar 18 anos, cometeu o crime que lhe renderia a pena de 20 anos de reclusão que cumpria no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus: o homicídio do taxista João Carlos Crespo Assunção. Em setembro de 2012, junto com duas adolescentes, Renato roubou o carro do taxista e atirou contra ele. A vítima chegou a ser socorrida, mas morreu no hospital alguns dias depois.
Após o crime, Renato procurou a mãe: “Me disse que se alguém passasse por aqui procurando por ele, eu devia dizer que não sabia onde estava. Alguns dias depois, foi preso”, conta Maria de Fátima. Desde a condenação, estava detido no Compaj.
Durante o período na penitenciária, a mãe afirma que o visitava toda semana e levava geladinhos para que ele vendesse entre os outros detentos. Após a eclosão da rebelião do dia 1º de janeiro, ela enfrentou uma via-crúcis para saber notícias do filho: “Primeiro me disseram que ele tinha fugido, mas eu sabia que não. Se tivesse escapado, teria vindo até mim”. O corpo de Renato só foi identificado e liberado no dia 10 de janeiro. Foi um dos últimos reconhecidos entre os 64 mortos na chacina. Está enterrado no cemitério Parque Tarumã.
“O que mais tenho saudade são as ligações que eu recebia dele. Sempre ficava brincando comigo, fazendo gracinhas. Hoje em dia é muito difícil ver o meu celular e não achar o nome dele lá chamando”, finaliza Maria de Fátima.
frase final: Ele morreu assassinado
Rildo Da Silva Nascimento
Rildo Da Silva Nascimento
Idade: 31 a 35
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: não
Crime: homicídio, tráfico de drogas, roubo e furto, outros
biografia: Morto na Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa, em Manaus, Rildo tinha passagens pela polícia por crimes como homicídio, tentativa de homicídio, tráfico de drogas, porte ilegal de armas, ameaça, uso de documento falso e roubo. Uma das vítimas do rapaz foi o próprio pai, Jair Leocádio do Nascimento, 61 anos, morto em 2014. De acordo com a Polícia Civil do Amazonas, ele tramou com um cunhado a morte do pai para ficar com a casa do aposentado. Rildo teria pago R$ 100 ao comparsa para que cometesse o crime. Antes de ser preso, trabalhava como confeiteiro.
frase final: Ele morreu assassinado
Robson Souza Da Costa
Robson Souza Da Costa
Idade: 36 a 40
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: homicídio, roubo e furto
biografia: Com uma condenação de 41 anos de reclusão por homicídio e roubo, Robson foi morto no Compaj, em Manaus. Ele também respondia na Justiça por um estupro e, em 2012, foi condenado a 19 anos pelo assassinato de um colega de cela na penitenciária de Purarequara. Desde 2005, conseguiu progressão para o regime semiaberto três vezes, mas voltava ao fechado após cometer novos crimes.
frase final: Ele morreu assassinado
Romulo Fernandes Da Silva
Romulo Fernandes Da Silva
Idade: 26 a 30
Raça: branco
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas
biografia: A pena a que foi condenado por tráfico de drogas, de 13 anos e sete meses de reclusão, estava sendo cumprida no Compaj, em Manaus, onde morreu. Em 2010, foi detido com 12kg de cocaína e um arsenal de armas. O motivo de sua última prisão, em 2014, também foi tráfico de drogas. Ele tinha em seu poder 11kg de maconha distribuídas em 7 tabletes.
frase final: Ele morreu assassinado
Romulo Harley Da Silva
Romulo Harley Da Silva
Idade: 36 a 40
Raça: branco
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: homicídio
biografia: Morto no Compaj, em Manaus, Romulo tinha um delito na ficha criminal. O eletricista, natural de Boa Vista (RR), foi condenado a 14 anos de prisão pelo homicídio de Jonny Silva Freitas, em 2014. Respondeu ao processo em liberdade e, condenado, entrou com diversos recursos. Todos foram negados.
frase final: Ele morreu assassinado
Ronei Pinheiro Filgueira
Ronei Pinheiro Filgueira
Idade: 36 a 40
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: homicídio, roubo e furto
biografia: “Já Morreu”, como era conhecido, foi assassinado no Compaj, em Manaus, onde cumpria pena por homicídio e tentativa de homicídio. Pelos dois crimes, foi condenado a 20 anos e cinco meses de reclusão. Em 2014, ao tentar matar um desafeto, atingiu com diversos tiros uma garota de 14 anos.
frase final: Ele morreu assassinado
Rubiron Cardoso De Carvalho
Rubiron Cardoso De Carvalho
Idade: 26 a 30
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: homicídio, roubo e furto
biografia: Natural de Barreirinha, no interior do Amazonas, foi morto na Cadeia Pública Desembargador Vidal Pessoa, em Manaus. Na semana anterior, após sobreviver ao massacre do Compaj, havia sido transferido para o local. Rubiron cumpria pena de cinco anos e quatro meses por roubo. Em março de 2014, fugiu do cárcere. Foi encontrado em outubro do mesmo ano.
frase final: Ele morreu assassinado
Sebastião Ribeiro Marinho Filho
Sebastião Ribeiro Marinho Filho
Idade: 46 a 50
Raça: índio
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas, homicídio, roubo e furto
biografia: Apelidado de “Velho Sabá”, Sebastião morreu no Compaj, em Manaus. Cumpria pena de 16 anos e três meses por roubo e tráfico de drogas. Respondia ainda a diversos processos por crimes como latrocínio e homicídio.
Era apontado como o chefe de um esquema de extorsão e invasão de terrenos no bairro Cidade da Luz, na Zona Oeste de Manaus, e acusado de liderar um grupo de furto, receptação de produtos roubados e tráfico de drogas.
Velho conhecido da polícia local, o primeiro registro de prisão dele é de 2003 e, desde então, teve diversas passagens pela cadeia.
frase final: Ele morreu assassinado
Tarcísio Bernardino Da Silva
Tarcísio Bernardino Da Silva
Idade: 31 a 35
Raça: dado desconhecido
Cidade: Natal
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas, outros
biografia: Nascido em Ruy Barbosa, um municípios de 3 mil habitantes a 90km da capital do Rio Grande do Norte, Tarcísio cumpria pena em Alcaçuz por tráfico de drogas e porte ilegal de armas – pelos crimes, acumulava duas condenações diferentes. Ficaria 15 anos atrás das grades. A primeira prisão de Tarcísio ocorreu em 2010. Foi apanhado com uma grande quantidade de drogas durante uma ronda policial na periferia de Natal. Com ele, a polícia encontrou 261 trouxinhas de maconha, 11 de cocaína e 114 de crack, além de dinheiro – inclusive notas de dólar. Segundo o Itep, Tarcísio morreu de anemia aguda após ferimento no tórax por arma branca.
frase final: Ele morreu esfaqueado
Tassio Caster De Souza
Tassio Caster De Souza
Idade: 26 a 30
Raça: branco
Cidade: Manaus
Condenação: não
Crime: tráfico de drogas, outros
biografia: Detido desde setembro de 2016, foi morto na Cadeia Pública Desembargador Vidal Pessoa, em Manaus. Estava preso provisoriamente pelos crimes de tráfico de drogas, corrupção ativa e uso de documento falso. Natural de Tabatinga, no interior do Amazonas, era empresário e vivia luxuosamente antes de ser preso. Segundo as investigações da Polícia Civil do estado, o traficante possuía diversas empresas de fachada para disfarçar a atividade que exercia. O pai e o irmão dele também foram presos em 2015. Ao ser detido, Tassio apresentou uma identidade falsa e ofereceu suborno de R$ 50 mil aos policiais, que não aceitaram.
frase final: Ele morreu assassinado
Thiago Juvino De Oliveira
Thiago Juvino De Oliveira
Idade: 36 a 40
Raça: negro
Cidade: Boa Vista
Condenação: não
Crime: tráfico de drogas
biografia: Segundo a polícia, ele era o comandante de uma boca de fumo na periferia de Boa Vista. Detido por esse crime em abril de 2016, aguardava julgamento. Em 2011, já havia sido preso e julgado por roubo. Agentes penitenciários contam que era um preso calmo, que não procurava confusão com ninguém e teria morrido por não querer participar do PCC.
frase final: Ele morreu assassinado
Wendel Francisco De Souza Esquerdo
Wendel Francisco De Souza Esquerdo
Idade: 18 a 25
Raça: negro
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: roubo e furto
biografia: Condenado a sete anos de prisão por roubar celulares de passageiros de um ônibus em Manaus, Wendel morreu no Compaj, na capital amazonense. Segundo a mãe, Rosana de Souza, ele vendia bombons em terminais de ônibus da cidade para ajudar no orçamento da família. Deixa uma filha de três anos.
frase final: Ele morreu assassinado
Willamys Silva De Souza
Willamys Silva De Souza
Idade: 26 a 30
Raça: branco
Cidade: Manaus
Condenação: sim
Crime: tráfico de drogas, roubo e furto, outros
biografia: Membro do PCC, Willamys foi morto no Compaj, em Manaus, onde cumpria pena por roubo, tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo. Pelos crimes, foi condenado a nove anos e quatro meses, dos quais restavam sete a serem cumpridos.
frase final: Ele morreu assassinado
Willian Anden Santos De Souza
Willian Anden Santos De Souza
Idade: 18 a 25
Raça: pardo
Cidade: Natal
Condenação: sim
Crime: roubo e furto, outros
biografia: William tinha 14 anos quando cometeu o primeiro roubo, de acordo com sua família. Começou roubando bolsas e objetos em lojas. Passou uma temporada em um centro de internação para jovens infratores em Natal, mas voltou para o crime quando botou os pés na rua. “Eram amizades ruins”, acredita sua irmã, Ilana de Souza, de 26 anos.
William foi preso com 18 anos, acusado de invadir a casa de um policial na capital potiguar. Ele e outros dois rapazes teriam surpreendido uma mulher, que estava com um bebê de 1 ano, e revirado o local. No quarto, teriam encontrado uma farda – o dono estava trabalhando, no momento.
Segundo relatos, eles torturaram a mulher, dizendo que esperariam o policial chegar em casa, arrancariam seus dedos e depois o matariam. Os três até chegaram a ser detidos, mas, sem flagrante, foram soltos. William foi preso dias depois em um carro roubado. Pegou 13 anos de detenção.
A família conta que ele estudou até o 5º ano do ensino fundamental. Não conversava muito com os parentes, que só descobriram recentemente que era pai de um menino de 3 anos. Era apegado ao sobrinho de 5 anos. O jovem integrava a facção Sindicato do Norte.
frase final: Ele morreu esfaqueado
Uma vez que os mortos foram identificados e catalogados pela reportagem, sabe-se: 44,7% do grupo cometeram crimes hediondos. Ou seja, 45 dos 123 exterminados em janeiro eram assassinos. E 12 deles foram condenados, pelo menos, por estupro.
Quase metade dessas pessoas (47,2%) tinha entre 18 e 30 anos, faixa etária de jovens. E a maioria (56%) era formada por negros e pardos. Dos 123 presos assassinados, apenas 15 não haviam sido julgados, o que representa 12,2% do total. Destes, 11 eram acusados de tráfico de drogas, mas ainda não tinham sido condenados.
Michael Melo/MetrópolesAbel de Souza, morreu antes de ter sido julgado. Ele foi acusado de tráfico de drogas
É o caso de Abel Paulino de Souza. Ele foi preso em 5 de dezembro de 2016, denunciado por um vizinho, que o delatou por tráfico. Era réu primário e, quando detido, não portava drogas. O argumento que o levou para a Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista (RR), veio de um inquérito da Polícia Civil, segundo o qual Abel havia entregado entorpecentes a um jovem. A juíza achou por bem mantê-lo preso preventivamente.
Em 6 de janeiro deste ano, Abel mandou uma mensagem de celular para a mulher. Dizia: “Acho que vão matar gente aqui hoje. Tá tudo estranho. Se eu for, amo vocês todos”. Abel foi decapitado. E enterrado dois dias depois, justamente quando completaria 25 anos.
A diminuição da população carcerária não pode ser pensada de forma isolada, deve vir acompanhada de políticas públicas para impedir o ingresso dos jovens na criminalidadeFernando Fidalgo, diretor do Observatório Nacional do Sistema Prisional (Onasp)
Dados do massacre
Degolados de Roraima
Quinta-feira, 06/01/2017
2h30
PAMC
Presos das alas 13, 14 e 15 quebraram os cadeados das celas e as frágeis paredes que os separavam de um pátio conhecido, por quem ali circulava, como “favelinha”. O ponto para iniciar o massacre foi escolhido a dedo, pois ficava à vista de quase todas as guaritas do presídio. Os líderes do motim esperavam que o barulho do ataque distraísse os vigias para que não notassem os outros crimes, cometidos em seguida.
Quinta-feira, 06/01/2017
2h45
PAMC
Na frente dos agentes, os seis primeiros detentos foram assassinados. Segundo relatos, assim que os vigias começaram a atirar com balas de borracha, o som do projéteis serviu como sinal para que as demais mortes acontecessem dentro das celas. Outros 27 presos foram executados simultaneamente nas alas 2, 4, 5, 6, 7 e 9 e a maioria foi esquartejada ou degolada.
Quinta-feira, 06/01/2017
5h
PAMC
Por questão de segurança, equipes do Bope, da Polícia Militar e agentes penitenciários só entraram na cadeia ao amanhecer.
Cadeia Pública de Boa Vista
População carcerária no dia da rebelião: 330
Capacidade: 120
Inauguração: 1998
Localização: Centro de Boa Vista, atrás da Secretaria de Justiça
A cadeia deveria ser usada por presos do regime semiaberto. Mas após o massacre de 2016, os detentos da facção Comando Vermelho foram transferidos para o local
Penitenciária Agrícola de Monte Cristo
População carcerária no dia da rebelião: 1.475
Capacidade: 650
Inauguração: 1989
Localização: 10km de Boa Vista
A 780 quilômetros dali, no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus (AM), Errailson Ramos de Miranda também chegava a seu último dia de vida. Teve um fim parecido ao de Abel, mas com um histórico bem diferente. Estuprou e matou a facadas uma garota de quatro anos de idade em março de 2009, barbárie que chocou a população amazonense.
Na ocasião, Errailson respondia por homicídio e tráfico de drogas. Condenado, pegou 41 anos de cadeia. Ele estava entre os 64 mortos no maior massacre já registrado depois do Carandiru. Os detentos do Compaj foram queimados, esfaqueados, asfixiados, decapitados.
Michael Melo/Metrópoles
Oito dias de terror em Manaus
Sábado, 31/12/2016
23h30
Anísio Jobim
Os detentos do regime fechado do Complexo Penitenciário Anísio Jobim tiveram uma grande festa de ano-novo. Familiares, defensores públicos e até agentes penitenciários afirmam que houve entrada liberada de bebidas alcoólicas e drogas. Além disso, mulheres de presos passaram a noite no Compaj.
Domingo, 1/1/2017
14h
Anísio Jobim
Era dia de visitas na unidade. Os detentos pediram, antes do horário final, para que os familiares deixassem o presídio. Os parentes estranharam o comportamento dos presos.
Domingo, 01/01/2017
15h
Anísio Jobim
Presos do Complexo Penitenciário Anísio Jobim Semiaberto fizeram um buraco no muro e invadiram o presídio vizinho, o Compaj Fechado.
Domingo, 01/01/2017
16h
Anísio Jobim
Familiares começaram a receber informações de um possível motim dentro da unidade prisional e alguns se dirigiram ao local. Houve trocas de tiros entre detentos e policiais militares que faziam a guarda do Compaj.
Domingo, 01/01/2017
20h
Anísio Jobim
Governo local confirmou a rebelião e comunicou a morte de pelo menos seis detentos e a manutenção de 12 reféns — funcionários da empresa Umanizzare, responsável pela administração do presídio.
Domingo, 01/01/2017
22h
Anísio Jobim
Secretaria de Segurança Pública do Amazonas anunciou a liberação de quatro dos 12 reféns.
Segunda, 02/01/2017
7h
Anísio Jobim
Os últimos oito reféns foram liberados sem ferimentos graves, após negociações com o governo, que retomou a gestão do presídio.
Segunda, 02/01/2017
11h
Anísio Jobim
Secretaria de Administração Penitenciária fez coletiva de imprensa e noticiou a morte de pelo menos 60 detentos (o número depois seria ajustado para 56) e a fuga de outros 148. Além disso, confirmou que o motim foi fruto de desavença entre as facções Família do Norte (FDN) e Primeiro Comando da Capital (PCC).
Segunda, 02/01/2017
17h
Unidade Prisional de Puraquequara
Após o massacre contra o PCC no Complexo Anísio Jobim, a tensão entre as duas facções chegou à Unidade Prisional de Puraquequara (UPP). Durante o banho de sol, quatro detentos do grupo criminoso foram decapitados pelos membros da FDN. A situação foi controlada logo depois.
Cerca de 280 presos integrantes do PCC foram transferidos para a Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa, após o massacre no Compaj. Sete dias depois, no entanto, houve um novo motim que deixou quatro mortos e dois foragidos. Segundo o governo do Amazonas, a violência foi causada por um conflito interno à facção.
Complexo Penitenciário Anísio Jobim (COMPAJ)
População carcerária no dia da rebelião: 1.224
Capacidade: 454
Inauguração: 1999
Localização: 30 km de Manaus
Os presídios ficam em meio a uma mata densa e a única forma de chegar ao local é por meio de uma estrada de asfalto
No dia do massacre, os presos do regime semiaberto fizeram um buraco no muro e invadiram o regime fechado
Localização: Centro de Manaus — 2km do Teatro Amazonas
A cadeia foi desativada em outubro de 2016, após recomendação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por condições precárias
Após o massacre no Compaj, o governo do Amazonas resolveu usar o espaço para direcionar os presos do PCC, que continuavam sob ameaça de morte na unidade. De acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) do Amazonas, a medida é de urgência e provisória
Daniel Ferreira/MetrópolesNa periferia de Manaus, crianças brincam ao lado de pontos de tráfico de drogas.
Daniel Ferreira/MetrópolesAlguns pequenos até arriscam a vida em busca de diversão diante das poucas opções de lazer.
Daniel Ferreira/MetrópolesBecos e vielas estreitas e mal-iluminadas dão um ar fantasmagórico a partes do centro histórico da cidade amazonense.
Daniel Ferreira/MetrópolesO saneamento básico é precário. No bairro São José Operário, rios de esgoto correm em meio às casas e deixam um cheiro podre.
Daniel Ferreira/MetrópolesDurante o dia, as estreitas ruas do centro manauara ficam abarrotadas de carros.
Daniel Ferreira/MetrópolesÀ noite, no entanto, as avenidas ficam desertas e o policiamento é precário.
Daniel Ferreira/MetrópolesVista da Ponte Rio Negro, que conecta Manaus ao município vizinho de Iranduba.
Daniel Ferreira/MetrópolesVista do Teatro Amazonas, principal ponto turístico bem no centro de Manaus.
Daniel Ferreira/MetrópolesA auxiliar de serviços gerais Maria de Fátima Maciel ainda não se habituou à morte do filho, Renato Maciel.
Daniel Ferreira/MetrópolesA dor pela morte do filho Joniarlison Feitosa ainda assombra os dias da costureira Divaneide.
Daniel Ferreira/MetrópolesO massacre no Compaj também deixou órfãos, como os dois filhos de Antônio Muniz, morto no dia 1º de janeiro.
Daniel Ferreira/MetrópolesA manicure Angelina, mãe de Anthony e Antônio Muniz, ambos mortos no massacre, guarda fotos dos filhos no celular.
Daniel Ferreira/MetrópolesÀ Angelina restou a tarefa de cuidar dos filhos de Antônio, depois que a mãe das crianças as deixou.
O levantamento do perfil dos envolvidos nas chacinas de janeiro separa claramente criminosos perversos de outros que cometeram ilegalidades, mas não mataram nem violentaram. A cada 10, seis nunca haviam matado. E tinham mais chances de recuperação para convivência em sociedade.
No mesmo balaio de detentos muito perigosos, aqueles que praticaram furto, roubo ou tráfico ficaram expostos duplamente: de se tornarem alvos preferenciais nas mãos de matadores incorrigíveis e de se juntarem a eles. Nos três cenários das tragédias, uma constatação se repete. Uma vez detidos, eles tinham de escolher um lado, que não era o da ressocialização, mas o de uma ou outra facção.
“Quando o governo abre mão de sua autoridade, alguém ocupa esse espaço de poder. O sistema prisional está dominado pelas facções”, diz Natanael de Lima Ferreira, corregedor-geral da Defensoria Pública de Roraima, um dos três estados atingidos pela crise prisional de janeiro.
Ele conta que, na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), um terço dos presos é provisório e, uma vez dentro da cadeia, eles são coagidos a entrar em organizações criminosas administradas a partir dos próprios presídios. “Recebemos familiares desesperados porque têm parentes com prazo para serem batizados nas facções e, se negarem, pagarão com a vida. O massacre de janeiro era esperado e outros podem acontecer, se nada for feito”, prevê o corregedor.
Substituir grandes penitenciárias por cadeias menores evita que organizações criminosas se tornem vigorosasHenrique Baltazar Vilar dos Santos, juiz titular da Vara de Execuções Penais de Natal (RN)
Segundo ele, os apenados de Roraima são obrigados a pagar taxas periódicas de R$ 50 para manter o funcionamento das organizações criminosas: “E quem está do lado de fora tem de praticar novos delitos a mando dos bandidos”.
A Secretaria de Justiça de Roraima admite que a não separação entre criminosos brutais e não assassinos agrava o tensionamento da comunidade prisional no estado. O diretor do Departamento do Sistema Penitenciário de Roraima, Alain Delon, justifica a mixórdia com a falta de estrutura, ao mesmo tempo que reconhece sua consequência mais óbvia: “Nessas condições, é quase impossível que o Estado impeça um parceiro de cela de matar um colega”.
As circunstâncias que Alain Delon discretamente pontua não são uma brecha no sistema, mas viraram o próprio sistema, em que presos têm acesso a celulares, drogas, armas brancas e de fogo e circulam livremente pelos corredores dos cárceres. Nas cadeias de Boa Vista, os apenados mantinham barracas improvisadas nas cozinhas, eles que guardavam as chaves para controlar a entrada e saída das celas, e os agentes só entravam duas vezes por dia nos presídios.
Rafaela Felicciano/Metrópoles
“Aqui manda quem pode e obedece quem tem juízo”10 mandamentos da Família – FDN – C.V.R.L (MC Pedrinho)
A ausência do Estado, que abriu mão de analisar, entender e controlar a rotina nas comunidades carcerárias, somada ao ambiente hostil e insalubre em que convivem pessoas de índoles erráticas criaram uma atmosfera de crise permanente. Como o Poder Público pode ser o detentor da responsabilidade por um sistema se sequer conhece a cor das pessoas que estão sob sua tutela? No Brasil é assim.
As fichas de registro para o ingresso na prisão de Alcaçuz, em Natal, referentes aos 26 mortos no local, estavam incompletas. Em 23 casos, a raça não era conhecida (confira no filtro que reúne as informações sobre os 123 assassinados durante os massacres). E o mais chocante: no caso de quatro deles não se sabia o crime que os mantinha encarcerados. Quatro outros cadastros não informavam se o apenado havia sido condenado ou se aguardava julgamento.
Daniel Ferreira/MetrópolesNo Compaj, em Manaus, ocorreu um dos piores massacres da história do sistema carcerário do Brasil
Daniel Ferreira/MetrópolesO complexo de Manaus possui condições insalubres para a vida dos presos
Daniel Ferreira/MetrópolesBanheiros em condições precárias: restos de materiais de obras se acumulam no ambiente
Daniel Ferreira/MetrópolesApós as rebeliões, alas do Compaj, em Manaus, tiveram de ser reformadas
Daniel Ferreira/MetrópolesDentro do complexo amazonense, morreram 64 presos na primeira quinzena de janeiro de 2017
Daniel Ferreira/MetrópolesOs detentos do Compaj tinham trânsito livre pelas celas durante todo o dia. As alas eram controladas por “xerifes” do crime
Daniel Ferreira/MetrópolesAs alas do “seguro” no Compaj tiveram de ser reformadas para apagar marcas de sangue e destroços deixados por incêndios
Daniel Ferreira/MetrópolesA crise nos presídios do Amazonas atingiram o Compaj, a Cadeia Pública Vidal Pessoa e a Unidade Puraquequara
Daniel Ferreira/MetrópolesA administração do Compaj, presídio da capital amazonense, é feita pela empresa Umanizzare
Rafaela FeliccianoEm Natal, a Penitenciária Estadual de Alcaçuz ficou destruída depois da rebelião que terminou com 26 mortos
Michael MeloAssim como nas outras cidades dos massacres, em Boa Vista, detentos vivem em celas superlotadas
Nas dezenas de depoimentos colhidos pela reportagem ao longo dos seis meses de apuração, um drama se replica. Mães, irmãs, viúvas (os pais são figuras quase sempre ausentes) dos detentos mortos nas chacinas se ressentem de seus familiares não terem tido a chance nem de recuperação, nem de sobrevivência. Elas admitem as condutas criminosas deles, mas não se conformam com a impotência das autoridades.
O mesmo Estado que não consegue conter a criminalidade nas ruas, não controla a violência nas dependências dos presídios e sequer evita que delinquentes continuem a matar, roubar, estuprar e extorquir a partir de comandos emitidos por internos.
As rebeliões de 2017 evidenciaram que as cadeias brasileiras não são um ponto-final para ciclos de violência. Mas funcionam como motores que impulsionam novos episódios de bestialidade. Romper com essa lógica depende de um estudo criterioso e estratégico das comunidades carcerárias.
As tragédias realçam falhas, brechas, injustiças, incompetências, corrupções do regime prisional no maior país da América do Sul. Fechar olhos e ouvidos para uma realidade que atinge diretamente 622 mil famílias não elimina seus efeitos colaterais em toda uma sociedade presa ao sentimento de eterna insegurança.
Natal em chamas
Sábado, 14/1/2017
15h50
Alcaçuz
Era dia de visita em Alcaçuz e no chamado Pavilhão 5, o Presídio Estadual Rogério Coutinho Madruga, seis agentes penitenciários estavam de plantão. Três deles entregavam os pertences pessoais das visitas. Integrantes do PCC, abrigados no local, se recusavam a voltar para as celas. Diziam temer uma invasão dos presos da facção rival, encarcerados em Alcaçuz.
Sábado, 14/1/2017
16h
Alcaçuz
O clima esquentou. Mulheres de integrantes da facção perceberam presos de Alcaçuz em cima dos telhados dos pavilhões. Com medo de uma invasão, começaram um tumulto.
Sábado, 14/1/2017
16h10
Alcaçuz
Enquanto isso, agentes do Pavilhão 5 saíram do perímetro do complexo penitenciário, onde bloqueadores de sinal até então impediam a comunicação via celular, e telefonaram para o diretor da unidade, cargo na época ocupado por Ivis Ferreira. Ele deixou a cadeira em 17 de fevereiro. Ferreira orientou os guardas a voltarem ao presídio e “convencerem” os presos a entrar nas celas. Em troca, prometeu transferi-los, já que se sentiam ameaçados.
Sábado, 14/1/2017
16h25
Alcaçuz
No Pavilhão 5, os presos ficavam mais agitados a cada minuto. Afoitos para retomar o controle da situação, agentes atiraram com balas de borracha. Em resposta, os confinados colocaram fogo em colchões. Por causa da fumaça, os policiais recuaram. O presídio tinha apenas uma porta de entrada e saída e nenhuma de emergência. Eles foram para Alcaçuz e se refugiaram em uma espécie de esconderijo construído por eles no alto de uma escada improvisada.
Sábado, 14/1/2017
16h30
Alcaçuz
Os detentos do Pavilhão 5 atravessaram o único portão que os separava de Alcaçuz. A rebelião explodiu. Eles se juntaram aos presos do Pavilhão 3 e, juntos, invadiram o Pavilhão 4.
Sábado, 14/1/2017
16h40
Alcaçuz
Agentes de plantão em Alcaçuz acionaram a guarda do presídio, que ficava do lado de fora, para fazer as primeiras contenções. Os funcionários se refugiaram no hall de entrada de Alcaçuz, um espaço amplo entre as grades que separam a rua do pátio da penitenciária.
Sábado, 14/1/2017
17h30
Alcaçuz
No meio da confusão, cerca de 500 presos tentaram sair pela porta da frente de Alcaçuz — a do hall, onde estavam os agentes. Policiais e presos trocaram tiros.
Sábado, 14/1/2017
20h30
Alcaçuz
A primeira equipe de reforço chegou: quatro motos da Rocam – Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicleta – da Polícia Militar. Eles disseram que a confusão foi controlada por volta de 21h.
Quarta-feira, 18/01/2017
Alcaçuz
O governador Robinson Faria (PSD) autorizou a transferência de 205 presos ligados ao Sindicato do Crime RN. À noite, a tensão saiu do presídio e chegou às ruas. Revoltados, integrantes do Sindicato incendiaram ônibus e veículos e atiraram contra prédios públicos. Incidentes do tipo foram registrados em pelo menos oito cidades do Rio Grande do Norte.
Quinta-feira, 19/01/2017
Alcaçuz
A transferência do dia anterior fez o clima voltar a esquentar em Alcaçuz. Houve novos confrontos e o diretor da unidade, Ivo Freire, levou um tiro de raspão. No mesmo dia, o presidente Michel Temer autorizou o emprego das Forças Armadas nas ruas da capital do estado para conter a onda de violência iniciada na noite anterior.
Sexta-feira, 27/01/2017
Alcaçuz
Com 13 dias de rebelião, o Estado decidiu retomar de vez o controle da situação. Homens do Grupo de Operações Especiais do Rio Grande do Norte e da Força Nacional de Intervenção Penitenciária entraram na penitenciária de Alcaçuz. A ação fazia parte da chamada Operação Phoenix que, além de retomar o controle do presídio, coordenou varreduras, busca por corpos e a reconstrução da unidade – ou do que foi possível recuperar dela.
Penitenciária Estadual de Alcaçuz
População carcerária no dia da rebelião: 1.163
Capacidade: 650
Inauguração: 1998
Localização: Nísia Floresta (20km de Natal)
Abriga apenas presos condenados. Nenhum dos mortos era preso provisório
Próximo a pontos turísticos importantes do estado, como O Maior Cajueiro do Mundo e a praia de Pirangi do Sul, uma das mais badaladas da região, onde grandes shows e eventos acontecem