Saulo Araújo

Saulo Araújo

28/07/2019 5:30

Pablo Henrique Nunes observa o colete à prova de balas e, instantaneamente, retorna ao dia 18 de janeiro de 2019. Nessa data, durante a tarde, uma chuva fina caía sobre a BR-319, estrada que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM). Dentro de um carro-forte, o vigilante de 36 anos e três companheiros de trabalho viram a tranquila viagem ser interrompida por uma rajada de fuzil.

Em plena luz do dia, oito bandidos fortemente armados, num Renault Duster e em uma Caminhonete S-10, metralharam o blindado em que Pablo estava até o veículo perder força e parar em uma propriedade rural. Os seguranças da empresa Prossegur desembarcaram e reagiram. Com espingardas calibre 12 e revólveres .38, tentaram enfrentar o bando, que estava munido com arsenal de guerra.

Pablo Henrique

IDADE: 36 anos

LOCAL DO ATAQUE: Porto Velho

Ficou cego ao levar um tiro de fuzil no rosto

No combate desigual, um tiro atingiu o rosto de Pablo. A bala rompeu a têmpora, saiu na altura da sobrancelha e tirou para sempre a visão do olho esquerdo do morador de Porto Velho (RO). Embora tenha ficado cego de um lado e perdido parcialmente os movimentos da face, a maior dor do agora ex-profissional de segurança privada é recordar-se do amigo Jairo Leite, 45 anos, abatido no mesmo confronto.

Alvejado no fêmur, Jairo resistiu por uma semana internado em um hospital na capital de Rondônia, mas morreu em decorrência de uma infecção generalizada.

“Ele foi um herói. Enfrentou os ladrões e deu cobertura para que os outros companheiros voltassem ao carro-forte e me socorresse em segurança. Eu já me sentia praticamente morto, estava sem forças e completamente ensanguentado”, narra Pablo, com lágrimas nos olhos.

Pablo, Jairo e mais dois companheiros de trabalho foram atacados por oito bandidos fortemente armados em uma estrada de Rondônia

Pablo, Jairo e mais dois companheiros de trabalho foram atacados por oito bandidos fortemente armados em uma estrada de Rondônia
Hugo Barreto/Metrópoles
2015
2016
2017
2018
2019

Ataques acarros-fortes

Entre 2015 e 2018, o aumento de óbitos foi de 233% e o de feridos, 70%

0

dos ataques foram em estradas
  • 0 Vigilantes mortos

  • 0 Vigilantes feridos

  • *Até maio de 2019
    2015
    59
    Brasil

    Locais deataques acarros-fortes

    Navegue e conheça 126 atentados contra blindados ocorridos nos últimos anos

    Mutilados

    A “guerra” às margens da rodovia federal fez Pablo entrar para um exército de vigilantes mutilados após sofrerem ataques de quadrilhas especializadas em assaltos a carros-fortes. O Metrópoles mergulhou no cotidiano dos cerca de 30 mil trabalhadores de empresas de transporte de valores, profissão considerada uma das mais arriscadas do planeta.

    Durante três meses de apuração, foram feitas dezenas de entrevistas, em quatro estados percorridos, a fim de mostrar como a sangrenta atuação dessas organizações criminosas nas estradas brasileiras impôs a esses profissionais sequelas físicas e emocionais irreversíveis.

    Além do esforço logístico para realizar as viagens ao redor do país e conversar com vigilantes, a equipe do Metrópoles organizou o material em infográficos interativos, com local, dinâmica e data dos assaltos. O leitor pode navegar pelo mapa do Brasil e ler sobre 126 ataques a carros-fortes — de um total de 355 — que aconteceram nos últimos três anos.

    De 2015 até abril de 2019, 151 seguranças privados ficaram feridos após investidas de piratas do asfalto. As estatísticas confirmam operações cada vez mais violentas das gangues: nos últimos quatro anos, 25 vigilantes morreram enquanto transportavam dinheiro. Entre 2015 e 2018, o aumento de óbitos foi de 233% e o de feridos, 70%.

    Armamentos dos vigilantes

    • escopeta .12
    • calibre .38

    Armamentos dos bandidos

    • calibre .40
    • carabina .50
    • rifle .308
    • fuzil 762
    • fuzil 556
    • submetralhadora
    • metralhadora .50
    • granada
    • dinamite

    Os números da Associação Brasileira de Transporte de Valores (ABTV) revelam predileção dos ladrões por assaltos em estradas. Dos 333 ataques computados entre 2015 e 2018, mais de 60% ocorreram em rodovias brasileiras. Para furar a blindagem dos veículos, os bandidos se valem dos mais modernos equipamentos bélicos. Metralhadora .50, fuzil 762, rifle .308, dinamites e até bazuca integram a pesada artilharia.

    Esses crimes mostram a incoerência do aparato de segurança. O revestimento deveria ser inviolável e à prova das armas mais perigosas. Mas, na verdade, esse tipo de veículo é vulnerável a ponto de ser perigoso para os seguranças privados que carregam milhões de reais em malotes.

    Mudança no modus operandi

    As estatísticas apontam ainda mudança drástica no modus operandi das quadrilhas. Se, por um lado, disparou a quantidade de ataques a carros-fortes, por outro, despencou o número de assaltos a agências bancárias, onde criminosos mantinham reféns em ações cinematográficas.

    Conforme dados fornecidos pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), no ano de 2000, o Brasil chegou a contabilizar 1.903 roubos a instituições financeiras. Após investimento da ordem de R$ 9 bilhões em tecnologia — medida que reforçou os sistemas de segurança, houve queda substancial: em 2016, o número já havia caído para 339. No ano seguinte, foram computadas 217 ocorrências e, em 2018, 171. Ou seja, de 2000 a 2018, observou-se redução de 91,1% desse tipo de modalidade criminosa.

    Ataques a agências bancárias

    2016339

    2017217

    2018171

    Redução de 91,1% de 2000 a 2018Fonte: Federação Brasileira de Bancos (Febraban)

    Explodiram a minha perna”

    Um dos mais impressionantes ataques a veículos de transporte de valores ocorreu em 26 de novembro de 2018, na altura do KM 39 da BR-40, próximo a Paracatu (MG). Na ocasião, após interceptarem um carro-forte, os bandidos renderam os vigilantes e explodiram o blindado. Os seguranças não se feriram na ação.

    Motoristas que passaram pelo local pouco depois do assalto registraram o estado do veículo – que foi detonado por uma carga de dinamite. As fotos, impressionantes, mostram o carro-forte completamente destruído.

    Pelas características da ação, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) acredita tratar-se de uma quadrilha inexperiente nesse tipo de delito. Explica-se: por terem usado grande quantidade de dinamite, os bandidos – mesmo conseguindo acesso ao cofre – queimaram todo o dinheiro.

    Os marginais fortemente armados, e responsáveis por essa tentativa de assalto na BR-040, pouparam os vigilantes. Newton Bernardes, 54 anos, não teve essa sorte. O veículo onde estava foi explodido quase no mesmo trecho há duas décadas. Naquela época, ele explica, tal modalidade de crime não era comum nas rodovias. “Ataques em estradas eram raros, mas, nesse dia, lançaram uma granada com morteiro que acertou a frente do carro-forte”, relembra.

    A explosão foi tão violenta que rasgou a parte frontal do blindado e dizimou uma perna de Newton. Do assalto, ele se recorda pouco. “Desmaiei e acordei no hospital, já amputado”, conta. Os outros três companheiros dele não se feriram com gravidade.

    Newton Bernardes

    IDADE: 54 anos

    LOCAL DO ATAQUE: BR-040, na altura de Paracatu (MG)

    Teve uma perna amputada após ser atingido por um morteiro

    Duas décadas separam os dois ataques na BR-040, mas um fato pode explicar a preferência dos bandidos pelo trecho: a falta de sinal de telefone celular. Para o coordenador do Comando de Operações Especializadas de Fronteira da Polícia Rodoviária Federal (PRF), inspetor Fábio Cassimiro, a carência de cobertura é um facilitador para organizações criminosas bem-estruturadas.

    “A polícia cria estratégias para combater o crime e os bandidos pensam em táticas para que seus assaltos sejam exitosos. Por isso, algumas quadrilhas levam em consideração a falta de comunicação em muitos trechos das estradas”

    Inspetor Fábio Cassimiro, coordenador do Comando de Operações Especializadas de Fronteira da Polícia Rodoviária Federal (PRF)

    Newton Bernardes perdeu a perna após bandidos soltarem uma granada no carro-forte em que ele estava

    Newton Bernardes perdeu a perna após bandidos soltarem uma granada no carro-forte em que ele estava
    Rafaela Felicciano/Metrópoles

    Com efetivo defasado — são 10 mil policiais responsáveis por 76,5 mil quilômetros de rodovias federais, segundo dados do Ministério da Infraestrutura –, a corporação tenta desenvolver ações a fim de minimizar o impacto causado pela escassez de mão de obra.

    Em 2019, a Operação Lábaro foi deflagrada com o objetivo de potencializar o enfrentamento ao crime organizado, atuando nas divisas dos estados e nas regiões de corredores estratégicos. A ideia é estar um passo à frente com o uso de tecnologia e análise criminal.

    “Temos conseguido apresentar resultados expressivos focando em inteligência policial. Estamos concentrando maior atenção nas áreas de sombra, que são aquelas sem comunicação”, destaca Cassimiro.

    Segundo Fábio Cassimiro, inspetor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), a corporação tenta desenvolver ações que minimizem os efeitos da escassa mão de obra

    Segundo Fábio Cassimiro, inspetor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), a corporação tenta desenvolver ações que minimizem os efeitos da escassa mão de obra
    JP Rodrigues/Metrópoles

    Armamento obsoleto

    Uma das mais antigas reivindicações de entidades e associações que representam vigilantes é o aumento do poderio de fogo de quem presta serviço em carros-fortes. A Lei nº 7.102, de 1983, permite que esses profissionais portem, em atividade, revólveres calibres 32 ou 38, cassetete de madeira ou de borracha e espingarda de calibres 12, 16 ou 20, de fabricação nacional.

    Para o presidente do Sindicato dos Empregados nas Empresas de Transporte de Valores no Estado de Minas Gerais (Sinttrav-MG), Emanoel Sady, a legislação vigente precisa ser alterada para reduzir a chance de morte desses funcionários.

    “A segurança privada trabalha amparada por uma lei feita na época em que ainda se usava máquina de escrever. De lá para cá, as quadrilhas que atacam nas estradas evoluíram e os vigilantes não dispõem de equipamentos para enfrentá-los. Uma espingarda calibre 12 não faz frente a um bandido atirando de metralhadora .50”, queixa-se Emanoel, que também é membro da Comissão Consultiva de Assuntos de Segurança Privada da Polícia Federal.

    Para Emanoel Sady, presidente do Sinttrav-MG, a lei que protege os vigilantes necessita de atualização

    Para Emanoel Sady, presidente do Sinttrav-MG, a lei que protege os vigilantes necessita de atualização
    Igo Estrela/Metrópoles

    Derruba até aeronave

    A metralhadora .50 integra o material bélico do exército dos Estados Unidos. Com 1,68 metro de comprimento e pesando 38 quilos, seus disparos são capazes de abater aeronaves de grande porte e transpassar blindagens. Com manutenção em dia, é possível efetuar até 600 tiros por minuto.

    Um vigilante que trabalha há quase uma década no transporte de valores contou que existe praticamente um pacto velado da categoria de evitar, ao máximo, o confronto nas estradas. “Só reagimos até conseguir um local seguro. É impossível passar muito tempo trocando tiros com bandidos que estão em maior número e com armamento mais pesado. Fora isso, eles se garantem devido ao fator surpresa”, detalha.

    Na Câmara dos Deputados, corre uma proposta que, se aprovada, autoriza as empresas de vigilância a dotar seus funcionários com armas mais potentes. De autoria do deputado Capitão Fábio Abreu (PTR-PI) — licenciado da Casa para assumir a Secretaria de Segurança Pública do Piauí, a matéria permite ao profissional trabalhar com “arma de fogo de cano curto, de uso restrito e com calibre não superior a 7,62 milímetros”.

    “Se quisermos pôr fim à carnificina de vigilantes no país, temos, pelo menos, que autorizar o uso de fuzis 7,62 ou 556”, defendeu Abreu.

    Mesmo afastado do Parlamento, o congressista licenciado diz articular, junto ao presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a inclusão do projeto de lei no pacote anticrime proposto pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.

    “Infelizmente, temos visto grande resistência das próprias empresas de transporte de valores, pois aumentar o calibre do vigilante implicará em custos, com a aquisição de armamento e realização de treinamento. Mas, a longo prazo, a relação custo-benefício é bem melhor. Minha estratégia, agora, é tentar fazer com que o PL seja avaliado como parte do pacote anticrime. As chances de aprová-lo são maiores”, destaca Fábio Abreu.

    Cleia Viana/Câmara dos Deputados
    O deputado Capitão Fábio Abreu (PTR-PI) apresentou projeto de lei que autoriza as empresas de vigilância a dotar seus funcionários com armas mais potentes
    O deputado Capitão Fábio Abreu (PTR-PI) apresentou projeto de lei que autoriza as empresas de vigilância a dotar seus funcionários com armas mais potentes

    Escotilhas

    Outra reclamação recorrente de quem trabalha em carro-forte é a falta de escotilhas na traseira dos blindados. Os veículos autorizados a transportar cédulas país afora são equipados com aberturas nas laterais e na parte frontal.

    “Normalmente, os criminosos atacam por trás. Por eles saberem que não temos como atirar desse ângulo, chegam bem perto do carro-forte. Uma escotilha traseira permitiria, ao menos, mantê-los distantes. Ganharíamos um pouco mais de tempo até a chegada da polícia”, relata um segurança que prefere não mostrar o rosto.

    O presidente da Confederação Nacional dos Vigilantes, José Boaventura, diz que a falta de escotilhas na parte traseira dos blindados é somente uma das inúmeras mudanças necessárias no sentido de preservar a vida dos trabalhadores.

    “Precisamos de uma norma que limite a quantidade de dinheiro transportado nos carros-fortes. Uma equipe não pode pegar estrada carregando R$ 20 milhões. É inadmissível”

    José Boaventura, presidente da Confederação Nacional dos Vigilantes

    Quatro perguntas para o coroneldo Exército Brasileiro Fernando Montenegro

    Especialista em material bélico e comandante da Operação Arcanjo, responsável pela ocupação nos complexos do Alemão e da Penha, entre 2010 e 2011

    1- Muitas quadrilhas que atacam carros-fortes utilizam metralhadoras .50 e fuzil 7,62. Qual é o real poder de destruição dessas armas?

    Calibres .50 e 7,62 são exclusivamente militares. A .50 é concebida como antimaterial, ou seja, para danificar viaturas ou aeronaves, por exemplo. Já o 7,62 tem concepção antipessoal, objetivando causar lesões no corpo humano. São armamentos usados, inclusive, em defesa antiaérea, devido à potência e ao alcance. Existem vários tipos de blindagem, o que interfere diretamente na resistência aos impactos. Tanques militares possuem várias angulações em suas carrocerias, visando, também, o ricochete de disparos de diversos tamanhos e forças. O mesmo não ocorre com carros-fortes.

    2- Então, a .50 é capaz de romper com facilidade a blindagem de um carro-forte?

    O calibre .50 perfura todos os carros-fortes de que tenho conhecimento. Com o 7,62, se vários disparos forem realizados no mesmo lugar, também é possível romper a camada de proteção.

    3- Normalmente, qual trajeto essas armas percorrem até chegarem às mãos dessas quadrilhas?

    Muitas vêm do Paraguai, outras chegam camufladas em navios, dentro de contêineres. Até mesmo de avião comercial isso ocorre. Pouco tempo atrás, a Polícia Federal descobriu um carregamento de armas da República Tcheca que chegou ao Aeroporto do Galeão (RJ) via Miami (EUA).

    4- De 2015 a 2018, houve aumento de 80,56% na quantidade de ataques a carros-fortes no país. No entendimento do senhor, o que explica esse incremento?

    Impunidade é o maior estímulo ao prosseguimento das quadrilhas. Esses veículos, recheados de dinheiro, fazem grandes deslocamentos porque o Brasil possui dimensões continentais. Eles andam pelas estradas com quase nenhum controle por parte do governo e das forças de seguranças. O ‘novo cangaço’ se caracteriza pelo refinamento das táticas e dos procedimentos durante a prática criminosa. Os bandidos usam equipamentos de rádio para manter contato durante os atos e, nas maiores cidades, já existem grupos especializados nesse tipo de roubo. Alguns, inclusive, dominam técnicas de utilização de explosivos em cofres ou caixas-eletrônicos. Além disso, a Polícia Rodoviária Federal precisaria ampliar seus efetivos para aumentar a capacidade de mitigar esse problema. É essencial a cooperação entre os diversos segmentos policiais e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

    Baque na economia

    Os violentos ataques a carros-fortes produzem efeitos catastróficos não somente para os vigilantes responsáveis pela custódia de valores. Com a média de um assalto a cada três dias, a economia brasileira acumula prejuízos milionários anualmente. A preocupação com a segurança tem afetado, inclusive, a cadeia de produção de muitas empresas, como explica o coordenador do Programa de Segurança de Operações de Transporte (Proteger) da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Getúlio Bezerra Santos.

    “De maneira geral, o roubo a cargas em rodovias debilita o estado e compromete o desenvolvimento das empresas. Empreendedores, muitas vezes, deixam de aplicar investimentos em tecnologias de seus produtos e serviços para aumentar os sistemas de segurança”

    Getúlio Bezerra Santos, coordenador do Programa de Segurança de Operações de Transporte (Proteger) da Confederação Nacional do Transporte (CNT)

    Segundo Getúlio, a preocupação do empresariado em proteger seus carregamentos se justifica por números impressionantes: estudo da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) indica que, somente em 2016, foram computados 24.563 roubos de cargas no país, totalizando um prejuízo de R$ 1,3 bilhão à economia brasileira. Mas o dado é maior, pois, nesse montante, não está computado o dinheiro levado dos carros-fortes.

    TIRO NA ECONOMIA

    Dinheiro roubado de empresas de transporte de valores

    2016R$ 87,5 milhões

    2017R$ 89,1 milhões

    2018R$ 84,7 milhões

    Fonte: Sinttrav-MG

    Nesse mesmo ano, bandos armados conseguiram levar R$ 87,5 milhões dos blindados. Em 2018, o estrago foi um pouco menor: R$ 84,7 milhões. Os números são do Sindicato dos Empregados nas Empresas de Transporte de Valores (Sinttrav). “O roubo de cargas é a nova fronteira do crime organizado, pois se tornou uma fonte permanente de quadrilhas que acabam se capitalizando para promover assaltos em segmentos como o de transporte de valores, bancos e caixas-eletrônicos”, frisa Bezerra.

    De acordo com Getúlio Bezerra Santos, da CNT, a economia também sofre com o ataque a carros-fortes nas estradas brasileiras

    De acordo com Getúlio Bezerra Santos, da CNT, a economia também sofre com o ataque a carros-fortes nas estradas brasileiras
    Andre Borges/Especial para o Metrópoles

    Para José Boaventura, presidente da Confederação Nacional dos Vigilantes, a resistência das próprias empresas de transporte de valores em modernizar as operações de carregamento de malotes é um fator determinante para que parte da riqueza do país seja desviada.

    “Este é um tema especial porque mexe muito com a economia. Além de expor os trabalhadores a situações desiguais, promove retrocesso econômico. As empresas não podem mais resistir a avanços, pois isso resultará em mais gastos”, salienta Boaventura.

    Danos psicológicos irreversíveis

    Vigilantes que se veem em risco iminente de morte no desempenho de suas funções podem desenvolver traumas psicológicos difíceis de serem revertidos. Para o doutor e mestre em psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Carlos Carrusca, há uma preocupação ainda tímida das empresas em ofertar suporte emocional a funcionários submetidos a cargas elevadas de perigo no serviço.

    “O estresse pós-traumático se apresenta em pessoas expostas a ameaças em nível tão alto que quase resultaram em suas mortes, como ocorre nos ataques a carros-fortes. É muito comum o profissional desenvolver perturbação e flashback da agressão sofrida, como se ele estivesse revivendo aquela situação”, sublinha Carrusca, que também é pós-doutorando pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e um dos autores do livro O Cotidiano dos Vigilantes: Trabalho, Saúde e Adoecimento.

    Jornada excessiva

    fazem hora extrarelatam sono irregularjá sofreram ataques e sequer foram afastados do trabalho

    Fonte: O cotidiano dos vigilantes: trabalho, saúde e adoecimento – PUC-MG/UFMG

    A obra, considerada o mais completo dossiê da atividade de vigilância já produzido no país, foi escrita por Carrusca em parceria com outros cinco professores, a Procuradoria Regional do Trabalho da 3ª Região e o Sindicato dos Empregados de Empresas de Vigilância de Transporte de Valores de Minas Gerais.

    O exemplar reúne pesquisas que ajudam a traçar um perfil da atividade no país e a entender a relação desses profissionais com as empresas do setor. Após centenas de entrevistas, os autores do livro colheram resultados assustadores: 80% dos vigilantes relataram fazer hora extra; 37% têm sono irregular e 61% dos que já sofreram ataques sequer foram afastados do trabalho.

    “As empresas não reconhecem a dimensão do problema. Independentemente da atividade, é necessário avaliar o custo humano, e não apenas os índices de produtividade. A reexposição da pessoa ao ambiente onde ela passou por situação traumática seguramente a tornará mais vulnerável se não houver sério acompanhamento psicológico”, destaca Carrusca.

    “Ele me olhava com sadismo e dizia que ia me matar”

    O terror imposto por uma quadrilha a Alexandre Ayala em seu serviço clarifica a fala do especialista. O vigilante de 47 anos descreve sua vida como “um inferno” desde 18 de dezembro de 2014.

    Na manhã daquele dia, escalado para dar cobertura na manutenção de um caixa eletrônico em Belo Horizonte (MG), Ayala deixou a base de valores da empresa Rodoban — vendida em 2018 para a Brink’s — acompanhado do colega Clayton Ronaldo Vieira, 52 anos.

    Alexandre Ayala

    IDADE: 47 anos

    LOCAL DO ATAQUE: Minas Gerais

    Ficou com sequelas psicológicas após sofrer atentado

    Enquanto acompanhava o técnico dar assistência no equipamento, Ayala viu Clayton — que fazia a cobertura — ser rendido em frente ao carro. Mesmo sem esboçar qualquer reação, Clayton levou um tiro no pescoço. Fora de controle, o mesmo bandido chegou a encostar o cano da arma na testa de Ayala e puxou o cão — dispositivo para destravar o objeto.

    “Eu podia sentir o revólver ainda quente do tiro que ele havia dado no Clayton. O assaltante me olhava com olho arregalado, tinha uma cara de sádico, suava muito e me ameaçava de morte. Só desistiu de puxar o gatilho porque o comparsa dele estava apressado e o chamou”, conta.

    Pela forma como o amigo caiu ao receber o disparo, Ayala teve a impressão de que o companheiro de trabalho tivesse falecido. “Eu virei o Clayton e vi que tinha muito sangue. Achei que estava sem vida, mas ouvi um gemido. Ele só pedia para eu não deixá-lo morrer naquele chão, porque precisava cuidar da família. De repente, começou um grande alvoroço e eu entrei em choque.”

    Com as mãos sujas de sangue, Ayala e populares colocaram Clayton dentro de um veículo particular e seguiram para um hospital. Sob efeito de forte carga emocional, Ayala teve de ser internado. Ao receber alta no dia seguinte, descobriu que o amigo estava entre a vida e a morte e, mesmo se sobrevivesse, nunca mais poderia andar.

    Fisicamente, Ayala saiu ileso do ataque ao carro-forte em que trabalhava. Psicologicamente, ficou destruído

    Fisicamente, Ayala saiu ileso do ataque ao carro-forte em que trabalhava. Psicologicamente, ficou destruído
    Igo Estrela/Metrópoles

    O diagnóstico médico de Clayton foi um duro golpe para Ayala, que, após se sentir responsável pelo acidente, caiu em depressão profunda e nunca mais voltou a ser o mesmo. “Carrego um remorso enorme. Nem era para o Clayton ter saído naquele dia, mas, como éramos muito amigos, pedi para ele ir comigo. Essa culpa ninguém vai tirar de mim”, penaliza-se.

    Afastado do trabalho em função das crises, Ayala só consegue dormir e ter uma vida minimamente ativa por causa dos 11 comprimidos que toma por dia: remédios para dormir, controlar a ansiedade, reduzir alterações de humor e até para amenizar dores estomacais.

    “Eu era extremamente saudável, mas, hoje, sobrevivo à base de um monte de drogas. Meu sentimento de culpa pelo que aconteceu com Clayton é muito doloroso. Às vezes, eu me obrigo a ficar deitado no chão por várias horas, sem me mexer, quero viver um pouco a experiência de ser tetraplégico como ele”

    Alexandre Ayala

    Para a psicóloga Patrícia Cruz, as empresas de vigilância falham ao não ofertar um acompanhamento sistemático voltado à saúde mental dos seus funcionários. “A natureza do trabalho do segurança de carro-forte já é tensa. Esse trabalhador deveria ter uma capacitação continuada e planos de saúde para ter apoio psicológico ou psiquiátrico sempre que julgar necessário”, ressaltou Patrícia, que é gestora pública pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e especialista em saúde mental em segurança pública.

    PEDRO VALENTE/METROPOLES
    “A natureza do trabalho de vigilante de carro-forte é tensa. Esse trabalhador deveria ter apoio psiquiátrico sempre que julgar necessário”, acredita a psicóloga Patrícia Cruz
    “A natureza do trabalho de vigilante de carro-forte é tensa. Esse trabalhador deveria ter apoio psiquiátrico sempre que julgar necessário”, acredita a psicóloga Patrícia Cruz

    “Esfarelou minha medula

    Clayton Ronaldo Vieira, 52 anos, costuma dizer que se vive um dia de cada vez. Para ele, as horas passam devagar e a paciência tornou-se o principal exercício desde quando perdeu a mobilidade das pernas e dos braços. Clayton era o companheiro do vigilante Alexandre Ayala naquela fatídica manhã de 18 de dezembro de 2014.

    O então segurança já estava em contagem regressiva para a sua aposentadoria. Mesmo ainda faltando cinco anos para deixar de trabalhar, fazia planos de envelhecer em um sítio ao lado da esposa e das três filhas. O sonho foi interrompido por um tiro que destroçou sua medula e o deixou tetraplégico. Antes desse assalto, Clayton nunca havia sacado a arma em serviço.

    Ao embarcar no veículo da empresa de transporte de valores Rodoban com o amigo Ayala, jamais poderia imaginar o evento doloroso que mudou para sempre a sua vida e, por consequência, a de sua família.

    Antes da confirmação do diagnóstico de tetraplegia, Clayton ficou internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por seis meses. A esposa, Regina Faria Vieira, 52, mudou-se para o hospital a fim de ficar mais perto do marido.

    Clayton Ronaldo Vieira

    IDADE: 52 anos

    LOCAL DO ATAQUE: Minas Gerais

    Ficou tetraplégico após levar um tiro no pescoço

    “Os médicos diziam que as chances de ele sobreviver eram mínimas, mas me recusava a ouvi-los. Não aceitava imaginá-lo saindo do hospital em um caixão. Hoje, estamos em casa em meio a muitas dificuldades, mas juntos”

    Regina Faria

    Clayton não tem o movimento das pernas nem dos braços. Com muito esforço, mexe o pescoço. Os dedos das mãos conservam certa sensibilidade, mas ainda são incapazes de segurar com firmeza talheres, copos e outros objetos. Por esse motivo, o ex-vigilante é alimentado pela esposa. A fala também ficou prejudicada – ele até consegue se comunicar, mas com extrema dificuldade.

    Com ajuda de doações e do sindicato da categoria, Regina comprou, por R$ 4,5 mil, um guincho elétrico, desenvolvido exclusivamente para o transporte de pessoas sem mobilidade. “Esse equipamento facilitou demais a minha vida, porque não preciso pedir auxílio a ninguém para colocá-lo na cama ou no carro”, diz a companheira de Clayton.

    Clayton ficou tetraplégico após o traumático ataque. Hoje, depende da companheira para tomar banho e comer

    Clayton ficou tetraplégico após o traumático ataque. Hoje, depende da companheira para tomar banho e comer
    Igo Estrela/Metrópoles

    Casamento da filha

    O problema irreversível, diz Clayton, o fez dar mais valor a coisas simples. Mesmo com a mobilidade comprometida, alimenta o sonho de entrar com a filha mais velha na igreja. A jovem, de 24 anos, casa-se em agosto.

    “Isso me motiva a cuidar da minha saúde e estar bem para conduzi-la ao altar”, projeta Clayton. Antes de encerrar a entrevista, ele fez questão de eximir o vigilante Alexandre Ayala de qualquer responsabilidade pelo assalto.

    “Ele se sente culpado, mas não havia nada que pudesse fazer. Usaram o fator surpresa para nos atacar covardemente. Ayala sozinho não iria evitar os tiros e, se tentasse, poderia ter sido mais uma vítima”, diz Clayton, tranquilizando o amigo.

    Mpt cobra ação de empresas

    Com a média de um ataque a cada três dias, órgãos de controle começaram a observar com rigor a rotina no segmento. A partir do recebimento de denúncias, a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Rio Grande Norte (SRTE/RN) fez, em 2016, uma fiscalização na Prosegur, empresa com operação em 21 países.

    Em oito meses de inspeção, foram detectadas 1.768 ocorrências de profissionais submetidos à jornada de trabalho superior a 12 horas por dia. Em algumas situações, vigilantes chegaram a prestar serviço por 18 horas seguidas.

    Com períodos reduzidos de descanso e para fazer suas necessidades fisiológicas, os seguranças passam por momentos constrangedores. Os fiscais descobriram que era comum vigilantes urinarem em garrafas pets dentro dos blindados. Em circunstâncias extremas, defecavam no interior dos veículos em recipientes plásticos.

    ASCOM/MPT-RN
    A procuradora regional do Trabalho IIeana Neiva Mousinho acredita que um vigilante extenuado não terá capacidade plena de reação a um ataque
    A procuradora regional do Trabalho IIeana Neiva Mousinho acredita que um vigilante extenuado não terá capacidade plena de reação a um ataque

    Por essas e outras violações aos direitos trabalhistas, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT/RN) condenou a Prosegur ao pagamento de multa no valor de R$ 1 milhão. A ação civil pública foi movida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Segundo a procuradora do órgão IIeana Neiva Mousinho, que assina o instrumento processual, os próprios patrões contribuem para a situação insalubre. Afinal, exaustos, os funcionários não teriam condições de dar o melhor em suas tarefas.

    “As empresas devem tratar tal atividade com mais observância. Chegaram a alegar que, pela natureza do ofício, essas irregularidades seriam normais. Mas é dever constitucional caminhar no sentido de procurar a redução de riscos e danos. Se um vigilante está extenuado, a capacidade dele de reação a um ataque não será plena. É preciso, sim, conciliar escalas razoáveis com o fator segurança”, destaca a procuradora do MPT.

    Ilena acrescenta outro exemplo para mostrar a gravidade de manter em atividade um vigilante de carro-forte fadigado: “Quem fiscaliza o contrato de órgãos públicos com a prestadora do serviço não consegue detectar que os profissionais estão cansados e que essa sobrecarga compromete a segurança do serviço”.

    Faturamento do segmento de transporte de valores:

    2010R$ 3,6 bilhões

    2011R$ 4,09 bilhões

    2012R$ 4,2 bilhões

    2013R$ 4,9 bilhões

    2014R$ 6,5 bilhões

    2015R$ 6,8 bilhões

    2016R$ 7,07 bilhões

    Em Minas Gerais, a Procuradoria Regional do Trabalho da 3ª Região também encontrou elementos para denunciar a Prosegur por descumprimento de acordos básicos na relação com seus empregados.

    Na ação civil proposta pelo MPT-MG, a procuradora do Trabalho Advane Moreira de Sousa elencou motivos que a levaram a pedir a condenação da empresa: “Não é aceitável um indivíduo com jornada de 12 a 14 horas diariamente. Não podíamos admitir funcionários fazendo refeições dentro dos carros-fortes e sendo tratados com desdém e xingamentos caso se queixassem. Verificamos, durante nossas inspeções, um comportamento bastante desrespeitoso da empresa com seus colaboradores”, diz.

    Advane ainda expôs práticas vexatórias na Prosegur, como um supervisor controlar os horários de os trabalhadores irem ao banheiro. Ao analisar os fatores listados na denúncia pelo Ministério Público do Trabalho, a juíza da 10ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais (TRT-MG) Wilméia da Costa Benevides declarou ter encontrado “22 provas independentes, válidas e robustas de atos de assédio moral”.

    “Exigir dos trabalhadores das rotas de transporte de valores o cumprimento de várias tarefas com tempo por demais exíguo; submetê-los ao trabalho em veículos sem os equipamentos de segurança ou sem a escolta necessária prevista em contrato com as seguradoras; impor um ritmo e sistema de trabalho que obriga os empregados a fazer suas refeições e suas necessidades fisiológicas dentro dos veículos de carro-forte; expor os empregados a jornadas extenuantes; não manter o ambiente de trabalho em condições salubres e não tentar minimizar os riscos de acidentes laborais; exigir autorização da supervisão para que o trabalhador possa se levantar ou ir ao banheiro; exigir de trabalhadores a realização de serviços para os quais não estão qualificados ou aquém de sua qualificação e expor trabalhadores a situações vexatórias e humilhantes”, cita na decisão, antes de sentenciar a multinacional espanhola a pagar valor equivalente a R$ 2 mil por trabalhador prejudicado.

    Fuzilado na porta do blindado

    Maurício Fernandes Oliveira, 53 anos, dedicou mais de uma década da vida à atividade de vigilante de transporte de valores. Embora fale com paixão do ramo, admite ter cumprido jornadas cansativas, que chegavam a 12 horas diárias. “Era puxado: para conseguir, tinha que gostar muito, e eu gostava”, diz.

    Nascido e criado na Vila Penha, o carioca vivia o melhor momento da vida profissional até sofrer atentado em um blindado da extinta empresa Transprev e ter sua carreira interrompida, há 15 anos. Recém-promovido ao cargo de chefe de equipe, Maurício conduzia mais uma operação de entrega de malotes no centro do Rio de Janeiro, quando 10 ladrões deflagraram um violento ataque.

    “Nessa profissão, você tem de estar preparado para matar e morrer, é o risco. Naquele dia, eu praticamente morri, mas, felizmente, estou aqui para contar minha história.”

    Maurício Oliveira

    IDADE: 53 anos

    LOCAL DO ATAQUE: Rio de Janeiro

    Teve a perna esquerda amputada e perdeu os movimentos da mão esquerda após receber sete tiros, sendo três de metralhadora .50 e quatro de pistola 9 milímetros

    Com a intenção de resguardar os malotes de dinheiro e documentos, Maurício tentou voltar ao carro-forte e se refugiar, mas acabou alvejado ainda na porta do blindado. Dois tiros de metralhadora .50 causaram tamanho estrago em sua perna esquerda que não foi possível fazer a reconstrução dos ligamentos. Acabou amputado.

    Um outro disparo de metralhadora .50 atingiu o pulso esquerdo do então vigilante, restando danos irreparáveis nas articulações e tirando-lhe para sempre os movimentos do membro. Já sem forças e deitado, recebeu, à queima-roupa, mais quatro tiros de pistola 9 milímetros na barriga, na cabeça e na coxa. “Eles não queriam só roubar, queriam matar.”

    Apesar do quadro crítico, Maurício conseguiu sobreviver após passar seis meses internado, sendo 26 dias na UTI. “Foi a fé que me manteve vivo, eu creio nisso.”

    Dois tiros de metralhadora .50 causaram tamanho estrago na perna de Maurício Fernandes que não foi possível fazer a reconstrução dos ligamentos

    Dois tiros de metralhadora .50 causaram tamanho estrago na perna de Maurício Fernandes que não foi possível fazer a reconstrução dos ligamentos
    Rafaela Felicciano/Metrópoles

    Explosivos

    O êxito das quadrilhas em operações de assaltos a carros-fortes passa por um fator determinante: o arrombamento dos cofres dos blindados. Feito de material extremamente resistente, tiros ou maçaricos mostram-se incapazes de romper o envoltório. O meio mais rápido e eficaz que os bandidos utilizam para levar o dinheiro é instalando dinamites nos veículos.

    A facilidade das organizações criminosas em desviar cargas de explosivos tem preocupado o segmento. Para o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Transporte de Valores (ABTV), Ruben Schechter, as normas que estabelecem o transporte desse tipo de material no país precisam ser revistas urgentemente.

    Roque de Sá/Agência Senado
    Para o presidente da ABTV, Ruben Schechter, a legislação que orienta essa atividade necessita passar por alterações com urgência
    Para o presidente da ABTV, Ruben Schechter, a legislação que orienta essa atividade necessita passar por alterações com urgência

    “Esse tipo de assaltante se apoia em dois elementos para obter sucesso: acesso a armas de grosso calibre e explosivos. Não diria que o Exército Brasileiro falha na fiscalização, os militares atuam nos limites das regras. Para mim, as leis são falhas e precisam ser revistas. O Congresso Nacional deve, urgentemente, estabelecer protocolos para o emprego e transporte de explosivos por parte de pedreiras no país”, defende Ruben.

    Em resposta, o Exército Brasileiro, por meio do Comando Logístico (Colog) e da Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados (DFPC), limitou-se a informar que “realiza sistematicamente operações de fiscalização de produtos controlados em todo o território nacional”.

    José Maria

    IDADE: 54 anos

    LOCAL DO ATAQUE: Belo Horizonte, Minas Gerais

    Perdeu parte da sensibilidade de um dos braços ao levar tiro de pistola à queima-roupa

    Vigilante de transporte de valores há mais de duas décadas, José Maria Rocha, 54 anos, faz parte dos insatisfeitos com o tímido combate ao comércio clandestino de armas no país. Ele tem um motivo a mais para se revoltar: em agosto de 2008, em Belo Horizonte, durante um serviço de transporte de dinheiro, acabou vítima de uma organização criminosa.

    José Maria reagiu e só não morreu por milagre, como ele mesmo define a experiência. “Um marginal encostou a arma no meu rosto. Consegui me desvencilhar e tentei derrubá-lo, mas escorreguei e caí. Já no chão, ele me deu um tiro à queima-roupa. Só não acertou minha barriga porque, na hora, eu estava tentando sacar minha arma e a bala parou no meu braço”, relata.

    Dez anos depois, José Maria ainda não voltou a ter 100% de sensibilidade no membro atingido. “Nunca mais fui o mesmo, mas pelo menos sobrevivi. É uma atividade extremamente arriscada e temos de ter ciência de que estamos expostos a esses acontecimentos”, pondera.

    José Maria reagiu a um assalto a carro-forte e só não morreu por milagre

    José Maria reagiu a um assalto a carro-forte e só não morreu por milagre
    Igo Estrela/Metrópoles
    Diretora-Executiva
    Lilian Tahan
    Editora-Executiva
    Priscilla Borges
    Editora-Chefe
    Maria Eugênia
    Coordenação
    Olívia Meireles
    Reportagem
    Saulo Araújo
    Revisão
    Viviane Novais
    Edição de Arte
    Gui Prímola
    Design
    Moisés Dias
    Edição de Fotografia
    Daniel Ferreira
    Fotografia
    Andre Borges, Hugo Barreto, Igo Estrela, JP Rodrigues, Rafaela Feliciano
    Edição de Vídeo
    Tauã Medeiros
    Tecnologia
    Allan Rabelo, Saulo Marques, André Marques