O assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSol) e de seu motorista, Anderson Pedro Gomes, completa um mês neste sábado (14/4) sem culpados para responsabilizar e punir. Uma série de perguntas continua no ar: quem matou Marielle e Anderson? Há pistas concretas sobre os suspeitos? O que as investigações revelaram?
Até o momento, essas perguntas não foram respondidas por completo pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, responsável por nortear as apurações sobre o crime, tampouco pela Secretaria de Segurança Pública do estado. O governo federal também não se pronuncia, há dias, a respeito do caso. A pauta da vez é a intervenção militar, instaurada na cidade maravilhosa há quase dois meses, sem, contudo, reduzir de forma significativa a violência em território fluminense e o medo da população.
Apesar de supostas informações sobre o crime terem sido publicadas por veículos nacionais de comunicação, atualmente, indicando vazamento de dados por parte dos investigadores, assim como falhas na coleta de depoimentos de testemunhas, a Polícia Civil do estado fluminense afirmou ao Metrópoles em nota que “o inquérito sobre este caso está sob sigilo”, portanto, ” informações não podem ser repassadas à imprensa”.
Em 30 dias de apuração, os responsáveis pelas investigações ainda não apresentaram informações sobre o mandante do crime. Entretanto, pistas vêm sendo reunidas. Uma delas vem de imagens de câmeras instaladas perto do sobrado onde Marielle promovia debates antes de ser morta, na Lapa, centro do Rio. O vídeo revelou a existência de um carro parado por duas horas próximo ao evento. Esse automóvel teria saído quando o veículo da vereadora carioca deixou o local.
Outro fato auxiliar no processo investigativo é a identificação da munição utilizada pelos criminosos. De acordo com a perícia feita pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, as balas pertencem ao mesmo lote usado no caso que terminou com 17 mortos e sete feridos na Grande São Paulo em 2015. Essa foi a maior chacina registrada na história paulista. Além disso, no dia 19 de março, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou que as cápsulas poderiam ter sido extraviadas da Polícia Federal.
Com o objetivo de acompanhar as apurações sobre o caso, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), autorizou no dia 15 de março a abertura de uma comissão externa. O pedido de criação do colegiado foi protocolado pelos partidos de oposição da Casa durante sessão solene realizada em homenagem à parlamentar.
Em entrevista ao Metrópoles, o coordenador dos trabalhos realizados pelo grupo, deputado federal Jean Wyllys (PSol/RJ), disse que o caso da vereadora Marielle, por se tratar de execução política, é complexo e requer discrição em relação a determinados pontos da investigação. “Ainda não há, por exemplo, uma explicação satisfatória para o sumiço das munições de propriedade da PF, e que também foram utilizadas em uma execução policial recente”, destacou. “Há uma extensa rede criminosa a ser exposta pelo processo investigativo, e nosso trabalho como Comissão é garantir completa elucidação de todos os fatos”, finalizou.
O parlamentar comentou ainda que cobrou em reunião, realizada na segunda-feira (9/4), no Ministério da Defesa, em Brasília, “ações dos órgãos de segurança pública” e tratou sobre programas de proteção às testemunhas. De acordo com Wyllys, representantes políticos têm sido ameaçados de morte por realizarem trabalhos em defesa das populações vulneráveis.
Nessa sexta-feira (13/4), o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia, se pronunciou sobre a demora em encontrar os criminosos que executaram a parlamentar carioca. Em nota oficial, ele reafirmou a necessidade de resolver o caso com total prioridade, por se tratar de “um ataque direto às instituições da democracia”. O dirigente também fez alerta quanto à gravidade do crime que vitimou Marielle, o qual já apresenta eventos associados, como o assassinato do líder comunitário Carlos Alexandre Pereira Maria, ocorrido na noite de domingo (8/4), no Rio de Janeiro. “A sociedade precisa de respostas e de ações concretas contra a insegurança e a impunidade vigentes”, declarou.
“Não esqueçam Marielle e Anderson”
A assessora parlamentar de Marielle Franco (PSol), Daniella Monteiro, que atuava ao lado da vereadora carioca no movimento negro, de mulheres e da comunidade, afirmou ao Metrópoles nessa quinta-feira (12/4) acompanhar as investigações pela mídia. Durante a entrevista, ela enfatizou a importância da repercussão do caso nos veículos de comunicação para que não haja esquecimento da gravidade do fato.
“Temos pouco acesso sobre esse processo investigativo por questão de segurança. Há muita pressão da mídia para obter informações. A imprensa tem feito esse papel de cobrar também. Descobrimos vários coisas em sites de notícias”, destacou. “Apesar do nosso luto, é importante fazer com que isso não seja esquecido. Há falhas no sistema público de segurança do Rio de Janeiro. Há casos similares sendo investigados que precisam ser repercutidos na mídia”, finalizou.
Questionada sobre a origem do crime, a assessora e amiga de Marielle respondeu acreditar ser algo encomendado e que os envolvidos estavam muito bem preparados. O caso está prestes a completar 30 dias e Daniella Monteiro afirmou não “esperar muita coisa da polícia sobre as investigações”. Entretanto, ela tem expectativa de que “essa tragédia sirva para motivar a polícia e o general da intervenção no Rio, Walter Braga Netto, a pensarem em ações inteligentes a fim de desmontar, de forma estrutural, esses grupos de criminosos do Rio”, declarou.
A vereadora carioca Marielle Franco (PSol) e seu motorista, Anderson Pedro Gomes, foram assassinados a tiros dentro do carro em que estavam, na noite de 14 de março, após saírem de um evento. O ataque aconteceu na Rua Joaquim Palhares, no centro do Rio. Segundo a perícia, quatro dos nove tiros disparos contra o carro atingiram a cabeça de Marielle, que morreu na hora. O condutor do automóvel levou pelo menos três tiros nas costas e também faleceu no local. A principal linha investigativa é de execução. A parlamentar era militante dos direitos humanos e costumava denunciar abusos de poder.