A vida pede carona

A saga dos condutores de ambulância

para salvar pessoas na pandemia

Trabalhadores da categoria ainda lutam para serem reconhecidos como profissionais da saúde

JULIANA CONTAIFER

25/07/2021 5:00, atualizado 25/07/2021 5:33

Para quem está desesperado, precisando de assistência médica urgente, o som da sirene é o prenúncio de que o socorro está a caminho – e está vindo o mais rápido possível, cortando o trânsito de forma eficiente.

Na pandemia de Covid-19, com muitas pessoas contaminadas esperando o desenrolar dos sintomas em casa, o atendimento de urgência se tornou ainda mais frequente. Quando faltava ar, e o paciente estava muito fraco para ser transportado sem expertise profissional, lá estavam ambulância e equipe, prontas para o resgate.

O condutor de ambulância é fundamental nessa assistência, pois auxilia enfermeiros, técnicos de enfermagem e médicos, no trabalho de atender às primeiras necessidades do paciente, e imobilizá-lo ou carregá-lo, quando necessário. Além disso, é esse profissional que desvia de buracos, acha caminhos no trânsito, conhece atalhos e garante que a pessoa doente ou machucada tenha acesso ao atendimento necessário.

O Brasil parou, mas as viaturas de assistência médica continuaram rodando. Segundo o Ministério da Saúde, há 3.546 ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) em todo o Brasil – 2.910 de suporte básico e 636 de suporte avançado. O quantitativo disponível é o suficiente para cobrir cerca de 178 milhões de pessoas em 3.795 municípios brasileiros, o que corresponde a 85,45% da população do país. Isso sem contar as viaturas particulares, ou as menores, que fazem o transporte entre hospitais ou em municípios muito pequenos.

A categoria é grande – são cerca de 1,1 milhão de trabalhadores, de acordo com a Associação Brasileira de Condutores de Ambulâncias (Abramca) –, mas ainda é praticamente invisível. A maioria dos funcionários não é contratada diretamente pelas secretarias de Saúde, mas apenas presta serviços a empresas terceirizadas.

Os condutores são profissionais de saúde, mas não são. São motoristas, mas as atribuições do trabalho ultrapassam as funções relacionadas à direção automotiva. É um serviço específico, que precisa ser qualificado. “A gente tem uma ferramenta que pode salvar vidas nas mãos, e saber usá-la é primordial”, explica Manoel Araújo, condutor há mais de 30 anos em Manaus.

Sem serem reconhecidos como profissionais da Saúde, os condutores não são agraciados com os benefícios das categorias definidas por lei como sendo da área. Não receberam aplausos das janelas, nem foram priorizados na fila das vacinas. Em alguns estados, a equipe da ambulância foi imunizada, mas o condutor, não. Foi necessário entrar na Justiça para garantir a imunização.

Esses trabalhadores estão na linha de frente da pandemia, em contato direto com pacientes contaminados, mas precisam lutar pelo acesso a equipamentos de proteção, pela vacina, por expedientes com horários plausíveis. Ainda de acordo com a Abramca, mais de 5 mil condutores morreram em consequência da Covid-19 até o início de junho de 2021. Cerca de 40% da categoria foi infectada pelo coronavírus, em algum momento da pandemia.

Para contar um pouco sobre a rotina desses profissionais, as dificuldades do dia a dia, e a experiência de acompanhar, em primeira mão, o desenrolar da pandemia de Covid-19, o Metrópoles produziu um podcast. Em áudio, condutores de vários estados arranjaram um espacinho entre plantões para relatar a rotina durante a crise de saúde pública e a luta da categoria por regulamentação e reconhecimento.

DIRETORA-EXECUTIVA
Lilian Tahan
EDITORA-EXECUTIVA
Priscilla Borges
EDITOR-CHEFE
Otto Valle
COORDENAÇÃO E EDIÇÃO
Olívia Meireles
REPORTAGEM
Juliana Contaifer
REVISÃO
Juliana Afioni
Juliana Garcês
EDICÃO DE ARTE
Gui Prímola
DESIGN
Yanka Romão
EDIÇÃO E CAPTAÇÃO DE ÁUDIO
Gabriel Foster
Tauã Medeiros
TECNOLOGIA
Allan Rabelo
Daniel Mendes
Saulo Marques