Treinados para investigar e combater crimes complexos, agentes de segurança estão perdendo economias de uma vida – dinheiro amealhado ao longo de suas carreiras profissionais e até recursos de aposentadorias – em um clássico golpe de pirâmide. Empresas fraudulentas que supostamente vendem criptomoedas estão buscando novas vítimas nos quartéis e nas delegacias brasileiras com a promessa de triplicar a quantia investida logo nos primeiros meses.
Se há alguns anos os golpes de pirâmides tinham como alvo trabalhadores humildes, com pouca instrução, hoje isso parece ter mudado. Com o aumento da entrada de pessoas físicas na bolsa de valores e uma maior atenção da sociedade para o mundo dos investimentos, o principal foco desses esquemas bilionários têm sido gente instruída e com dinheiro no bolso, próximos da aposentadoria, mas com pouca informação sobre o mercado financeiro.
Mesmo vítimas, vários agentes e militares entendem que compartilham parte da responsabilidade. O sucesso das pirâmides financeiras tem a ver com a maneira com que o golpe se distribui, normalmente entre pessoas do círculo de confiança das primeiras pessoas que entram no esquema e logo são responsáveis por espalhar a rede, na busca de lucros na forma de comissões. Então, além de se sentirem vulneráveis, inseguros, envergonhados e humilhados, muitos são tomados pela culpa.
Quando eles se enxergam em um patamar de prejuízo, laços familiares ficam abalados, casamentos são destruídos e alguns até cometem suicídio. “Imagina quando o policial se dá conta de que foi enganado? Entra um mix de emoções, ele deixa de ser um agente da lei para ser vítima. Entra a questão da vergonha (como assim um policial caiu num golpe?), depois vem o desespero financeiro (perdi tudo), os neurotransmissores entram, com certeza, em curto circuito”, pondera a psicóloga Patrícia Viana Cruz, especialista em saúde mental na segurança pública.
Durante mais de dois meses, o Metrópoles se dedicou a buscar informações e explicações sobre o assunto e a identificar prejuízos amargados por vítimas integrantes de forças de segurança. Na Polícia Federal, não há estatísticas oficiais sobre agentes que se envolveram em esquemas fraudulentos. No entanto, entidades ligadas à categoria estão atentas ao problema e têm criado mecanismos para proteger a saúde mental dos funcionários e até oferecido orientação jurídica às vítimas.
A reportagem entrevistou mais de 20 pessoas de diferentes unidades da Federação – entre policiais militares, civis, servidores da força aérea brasileira, educadores financeiros, advogados, psicólogos e psiquiatras – a fim de reportar dramas pessoais e indicar serviços de ajuda disponíveis. Mais do que isso: chamar a atenção de possíveis novos investidores e evitar perdas irreversíveis. A reportagem não divulgará os nomes dos envolvidos para não expô-los. Por isso, nomes fictícios foram criados com o objetivo de deixar o texto mais fluido.