O dia em que a corrupção entranhada na política do DF foi exposta ao país
A vasta apuração que envolveu a Operação Caixa de Pandora, incluindo inquéritos policiais e denúncia do Ministério Público, resultou em 20 processos de improbidade administrativa contra ex-gestores do Distrito Federal. Isso na esfera cível. Na seara criminal, o escândalo compreende 24 ações penais. Somadas e considerando o Inquérito nº 650 e seus apensos, são, aproximadamente, 1 mil volumes – cadernos processuais com média de 200 folhas cada.
Essas cerca de 200 mil páginas estão armazenadas em uma sala da 7ª Vara Criminal de Brasília, no quinto andar da sede do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT). Quem entra no espaço, onde também estão outros processos que tramitam no órgão, se impressiona com a quantidade de pastas de cartolina azul, nas quais estão acondicionados dados como provas colhidas durante as investigações e depoimentos de réus e testemunhas. É tanto material que a presença de traças é inevitável – os pequenos insetos de hábito noturno se alimentam de papel.
O baú da corrupção
Veja curiosidades sobre o escândalo da Caixa de Pandora
Ainda há milhares de páginas alusivas às outras partes do processo em primeira instância que tratam de improbidade administrativa. Esse acervo está na 2ª Vara de Fazenda Pública, no prédio localizado nas proximidades do Palácio do Buriti, atrás da sede da Agência de Desenvolvimento do DF (Terracap), no Fórum Desembargador Joaquim de Sousa Neto.
Nesse outro edifício do TJDFT, estão os 20 volumes de acusações cíveis, que apontam dano ao erário. Do total, 11 resultaram em condenações. Três já passaram pelos tribunais superiores e transitaram em julgado – são processos referentes aos ex-deputados distritais Rogério Ulysses, Eurides Brito e Aylton Gomes.
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Em fevereiro de 2019, o TJDFT publicou a Portaria Conjunta n° 24/2019, determinando a conversão de todos os processos judiciais físicos em trâmite no órgão para o meio digital e posterior cadastramento dos autos no sistema do Processo Judicial Eletrônico (PJe). Boa parte da papelada relativa à Pandora, contudo, segue em estantes da Corte.
As condenações
Das 24 ações penais que compõem a Caixa de Pandora, houve sentenças em quatro – em duas delas, já ocorreu o julgamento em segunda instância e, hoje, o caso está em cortes superiores.
Na esfera criminal, até o momento, foram condenados seis réus: o ex-governador José Roberto Arruda; os ex-deputados distritais Eurides Brito, Odilon Aires e Geraldo Naves; além de Antônio Bento da Silva, ex-funcionário da Companhia Energética de Brasília (CEB); e Rodrigo Diniz Arantes, ex-secretário particular e sobrinho do ex-governador.
Arruda teve duas condenações: uma delas se refere à chamada Farra dos Panetones, na qual foi simulada a aquisição de produtos alimentícios, com notas frias, para justificar o desvio de recursos flagrados no vídeo em que o ex-governador aparece recebendo maços de dinheiro de Durval Barbosa.
Ficha suja e longe das urnas
Confira quem se tornou inelegível devido à Operação Caixa de Pandora
José Roberto Arruda ex-governador
Durval Barbosa delator do esquema
Aylton Gomes ex-deputado distrital
Benedito Domingos ex-deputado distrital
Eurides Brito ex-deputada distrital
Jaqueline Roriz ex-deputada distrital
Leonardo Prudente ex-deputado distrital
Rogério Ulysses ex-deputado distrital
Roney Nemer ex-deputado distrital
Rubens Cesar Brunelli ex-deputado distrital
Manoel Neto, empresário, marido de Jaqueline Roriz
A pena decretada foi de 3 anos e 10 meses por falsidade ideológica. Em recursos apresentados pela defesa de Arruda, a 3ª Turma Criminal do TJDFT reduziu a condenação para 2 anos e 11 meses. O Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) pediu o aumento da sentença novamente ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que ainda analisa a questão.
A outra condenação, ainda em primeira instância, considera que o ex-gestor cometeu os crimes de falsidade ideológica e corrupção de testemunha, com objetivo de atrapalhar as investigações. Arruda foi sentenciado a 8 anos e 20 dias de prisão, em regime fechado, por ter oferecido vantagem financeira a Edmilson Edson dos Santos, o Sombra, para que o jornalista prestasse depoimento falso à Polícia Federal.
No mesmo caso, foram definidas penas para outros envolvidos. Um deles é Geraldo Naves, condenado a 4 anos e 4 meses de prisão, em regime inicial semiaberto. A pena de Rodrigo Diniz Arantes foi de 5 anos, 11 meses e 20 dias de prisão, em regime inicial semiaberto. Já Antonio Bento da Silva teve punição de 5 anos, 8 meses e 20 dias de prisão, em igual regime, pelos mesmos crimes.
Já a ex-distrital Eurides Brito, filmada por Durval Barbosa colocando dinheiro na bolsa, foi condenada por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Recebeu pena de 8 anos e 4 meses de detenção, além de ter que pagar 140 dias-multa, equivalentes a dois salários mínimos da época dos fatos e, ainda, indenizar os cofres públicos em R$ 420 mil. Porém, apresentou recurso de embargo de declaração contra a decisão e aguarda análise.
Odilon Aires, que teve três mandatos como deputado distrital, foi condenado a 9 anos e 4 meses de prisão em regime fechado por corrupção passiva, além do pagamento de 250 dias-multa e ressarcimento de R$ 150 mil. Ele também não está preso: hoje, trava luta contra a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), doença degenerativa que compromete os movimentos do corpo.
Improbidade e absolvições
Das 20 ações de improbidade, três já tiveram o trânsito em julgado, ou seja, quando não cabem mais recursos. Os três condenados são os ex-deputados Eurides Brito, Aylton Gomes e Rogério Ulysses. Todos ficaram inelegíveis e proibidos de contratar com o poder público ou de receber benefícios fiscais ou creditícios.
Em outras duas ações, foram absolvidos os também ex-deputados Berinaldo Pontes e Pedro do Ovo. Assim, os 20 processos originais foram reduzidos para 15.
Embora o ex-vice-governador Paulo Octávio, o ex-corregedor-geral do DF Roberto Giffoni e o ex-secretário Ricardo Penna também tenham sido absolvidos da acusação de improbidade, como a ação a que eles respondiam envolve outros réus, esse processo, referente à empresa Linknet, continua em tramitação, agora, excluindo o nome deles.
No julgamento de uma das ações penais, a de nº 2013.01.1.188163-3, foi inocentado Haroaldo Brasil de Carvalho, ex-diretor da Companhia Energética de Brasília (CEB). Outro nome que estava na ação era o de Weligton Moraes, secretário de Comunicação do Distrito Federal no governo Arruda. Hoje, ele tem o mesmo cargo na gestão Ibaneis. Ambos foram acusados de falsidade ideológica e corrupção de testemunha.
Haroaldo conseguiu a absolvição em primeira instância. Weligton nem chegou a ser julgado porque foi inocentado a pedido do Ministério Público, que entendeu não haver, por parte dele, nenhuma responsabilidade no episódio.
Conheça, no domingo (01/12/2019), detalhes da vida de Durval Barbosa, o homem-bomba que implodiu a gestão Arruda e Paulo Octávio.
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