A vitória do petista Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de 2022 não foi aceita por parte dos eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o Brasil viveu episódios de grande tensão institucional nas semanas seguintes ao segundo turno, em 30 de outubro daquele ano. Rodovias foram bloqueadas em mais de 300 pontos país afora; torres de redes elétricas foram atacadas, acampamentos foram montados em frente aos quartéis pedindo um golpe militar e criminosos chegaram a plantar uma bomba em um caminhão-tanque que se dirigia ao Aeroporto de Brasília.
Essa tensão teve seu ápice há exatamente um ano, num domingo, quando milhares de "patriotas" desfilaram pela Esplanada dos Ministérios, em Brasília, com bandeiras do Brasil, camisetas com as cores nacionais e a missão de causar um caos tamanho que pudesse justificar uma intervenção militar e, nos sonhos golpistas mais extremos, a remoção de Lula do poder.
Nesta reportagem especial, o Metrópoles relembra o que aconteceu do ponto de vista de alguns dos principais personagens, além de mostrar, nos mínimos detalhes, o que se passou naquele fatídico 8 de janeiro no simbólico prédio desenhado por Oscar Niemeyer para ser a sede do Poder Executivo federal, o Palácio do Planalto.
Além de nomes como Ricardo Cappelli, que foi nomeado interventor na Segurança Pública do Distrito Federal naquele mesmo dia; o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPMI do 8/1, e o presidente da República, Lula, também ouvimos jornalistas que estavam em campo durante as invasões, contando o que eles viram. É o caso da repórter fotográfica Rafaela Felicciano, que foi agredida e ameaçada, vivendo o momento mais tenso de uma longa e premiada carreira.
São relatos que dão dimensão do que aconteceu dentro do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo.
A invasão captada por todas as câmeras do Planalto
Por meio das imagens de todas as câmeras de segurança do local, mostramos momentos icônicos, como a invasão; a depredação de patrimônios públicos como um raro relógio do século 17; a débil reação das forças de segurança; a chegada de um atônito então chefe do GSI e a reação de Lula ao voltar a Brasília e se deparar com os estragos.
Um ano depois, país ainda digere os atos golpistas
Incentivados por influenciadores digitais incendiários e por mensagens anônimas que circulavam como pólvora acesa em grupos de aplicativos como WhatsApp e Telegram, esses brasileiros insatisfeitos com a eleição de Lula encontraram pouca resistência de uma Polícia Militar em presença insuficiente ao chegarem na região da simbólica Praça dos Três Poderes naquele 8 de janeiro de 2023.
Eles estavam inflamados pela tese de que as urnas eletrônicas não seriam seguras, que vinha sendo nutrida há anos entre os eleitores bolsonaristas, e por notícias e promessas falsas.
O resultado foi a depredação dos prédios que simbolizam a República, seguida por mais de duas mil prisões naquele e no dia seguinte. Um ano depois, porém, o país está longe de acertar as contas com sua história.
Das pessoas que estiveram presencialmente nos atos golpistas, três dezenas foram condenadas a penas que variam de 3 a 17 anos de prisão. Outras centenas esperam suas sentenças.
No final de dezembro do ano passado, a Procuradoria-Geral da República apresentou a primeira denúncia contra um financiador dos atos golpistas. O alvo é um morador de Londrina, no Paraná, que fretou quatro ônibus para levar manifestantes a Brasília, gastando R$ 59,2 mil. Se condenado, ele poderá pegar mais de 30 anos de cadeia.
E ainda se fala na responsabilização de personagens com culpa política pelo que aconteceu, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele chegou a ter o indiciamento pedido pela CPMI que movimentou o Congresso Nacional em 2023, mas não houve denúncia do Ministério Público Federal contra ele e as investigações para buscar autores intelectuais continuam.
Um ano depois dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, o Brasil ainda luta para lidar com o que aconteceu em Brasília.