“As organizações criminosas estão se transformando em grandes marketplaces de serviços”, diz o promotor Fábio Ramazzi Bechara, do MPSP.
Segundo ele, o PCC tem usado sua estrutura para tentar abocanhar contratos públicos e, silenciosamente, infiltrar-se em administrações pelo país. Entre os setores que já apareceram sob suspeita de envolvimento da máfia brasileira, estão transporte público e limpeza urbana, contratados por prefeituras.
Crédito: Emiliano Hagge/Fecomercio SPPara o promotor Fábio Ramazzi Bechara, do MPSP, o PCC tem usado sua estrutura para tentar abocanhar contratos públicos “Há baixo risco de detecção, que se perde no gigantismo dos contratos. Cada órgão toma conta de uma coisa, e eles não se comunicam entre si. Isso cria oportunidade e incentivo [para práticas ilícitas]”, diz o promotor.
Para Bechara, a corrupção é uma “característica essencial de qualquer organização criminosa”. Na década de 1990, esse já era o principal meio para fazer drogas, armas e celulares entrarem nos presídios. Hoje, a prática é replicada nas ruas. “Este é um custo operacional necessário. Senão, o PCC não sobrevive.”
Em novembro de 2016, a Operação Ethos, do MPSP, prendeu mais de 30 advogados e o vice-presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana do Estado de São Paulo (Condepe), acusados de receber propina e fazer lobby para favorecer o PCC. Marcola foi condenado por liderar o esquema.
Investir na variação criminosa de “advocacy”, como são chamadas as práticas no mundo corporativo de pressionar por decisões políticas ou alocação de recursos públicos, é uma sofisticação dos métodos do PCC. A violência explícita contra autoridades deixou de ser a primeira opção.
Nos anos 2000, a organização, de fato, matou o juiz corregedor José Machado Dias, de Presidente Prudente, e José Ismael Pedrosa, ex-diretor do Piranhão, cadeia onde a máfia nasceu. A execução das autoridades causou comoção social e piorou o regime prisional de lideranças.
Crédito: Reprodução/ TV FronteiraO juiz Antônio José Machado Dias foi executado com quatro tiros na saída do fórum Uma das preocupações das autoridades é que o PCC consiga usar doações para impulsionar candidatos ligados à organização. “O sistema de fiscalização apresenta vulnerabilidades que não permitem verificar quem são exatamente os fornecedores e as empresas prestadoras de serviço nas campanhas”, diz Bechara.
Na eleição de 2018, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) emitiu alerta para o financiamento da parte de organizações criminosas. Levantamento da Receita Federal mostrava que 300 mil dos 730 mil doadores, ou 40%, não possuíam receitas condizentes com os valores repassados às campanhas.
Os Atentados
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O PCC tem largo histórico de promover ataques e ameaças a autoridades, postos policiais e prédios públicos. Os atentados servem para reivindicar mudanças nas cadeias e fazer pressão por regimes mais leves para suas lideranças.