Como o racionamento de água afetou restaurantes do DF
Compra de caixas d’água, caminhões-pipa e até troca de descargas estão entre as medidas adotadas para lidar com a crise hídrica
atualizado
Compartilhar notícia
Desde 16 de janeiro de 2017, os moradores do Distrito Federal têm de lidar com uma situação complicada: o racionamento de água, que atinge quase 90% da população local. O corte no abastecimento prejudica bastante atividades simples, como tomar banho. No caso do comércio, os entraves são ainda maiores. Para manter as louças sempre limpas, restaurantes gastam milhares de litros d’água para higienizar os utensílios.
Além dos pratos, talheres e copos, há muitas panelas, pegadores, tábuas de corte e outros equipamentos que precisam do devido cuidado. O chão tem de ser limpo, os alimentos devem ser lavados e a água é importante no cozimento.Com o corte de água uma vez por semana e a possibilidade de ficar mais de 24h desabastecidos, devido ao prazo para o retorno do fluxo, muitos estabelecimentos gastronômicos sofreram até se adaptarem. Quando o racionamento cai nos dias de maior movimento, como sextas-feiras e sábados, a situação piora. Se em uma residência, com menos de cinco pessoas, já é difícil lidar com dois dias de estiagem; em um ponto comercial, as coisas se complicam ainda mais.
Na Lalé Café e Doceria (411 Sul), a adaptação teve de ser radical. No dia do corte de água, todos os pratos, talheres e copos são substituídos por versões de plástico ou isopor. Há sete meses, o estabelecimento modifica o serviço dessa forma. Duas caixas d’água foram instaladas para garantir uma reserva emergencial.
E mesmo com toda a questão ética da crise hídrica, Larissa Pissarra, sócia proprietária da Lalé, conta que há alguns clientes insatisfeitos: “Tem gente muito exigente, que não aceita talheres de plástico. Mas a maioria compreende a situação e não reclama”.
Ela afirma não se incomodar com a falta de água, mas, sim, com o ajuste operacional do racionamento. “A pressão já estourou canos aqui, pois quando o abastecimento volta, vem muito ar junto. A máquina de café é a mais prejudicada. Sempre temos que gastar tempo desconectando os cabos para colocar em galões de água mineral e continuar produzindo os cafés”, reclamou.
À Moda Antiga
No Universal Diner (210 Sul), de Mara Alcamim, a chef conta que foi pega de surpresa com o racionamento e não teve tempo para se planejar. “No começo era coisa de chácara. Botamos um balde bem grande com água e uma cuia no banheiro, para que lavassem as mãos”.
Apesar da compreensão dos clientes com o “imprevisto”, Mara precisou desembolsar uma média de R$ 1 mil na compra de caminhões-pipa toda semana: um gasto extra de R$ 4 mil a R$ 5 mil por mês. Após um tempo, preferiu instalar caixas d’água extras, ganhando reserva de 20 mil litros.
O planejamento nesse caso é essencial. Mara sentou e fez as contas até descobrir para onde vai cada litro d’água. No banheiro, as descargas foram trocadas por opções mais econômicas. Apesar dos problemas que implicaram maior gasto em estrutura, a chef é a favor do racionamento.
Aprendi a economizar em casa. Foi a maior peleja, mas tem que racionar para as pessoas usarem de forma consciente
Mara Alcamim
Opinião de especialista
Jael Antonio da Silva, presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar), reforça o mantra repetido por muitos donos de estabelecimentos da capital federal: “Só nos resta ter paciência e aguardar a boa vontade do governo”.
Para ele, o grande problema é que a falta de água está se tornando permanente, devido ao grande tempo de racionamento.
“Como essa situação se instaura há mais de um ano; os investimentos mais altos, como caminhões-pipa e caixas d’água já foram feitos. É um dinheiro que já teve de ser absorvido pelos empresários”, opina.
Em coletiva de imprensa realizada na quarta-feira (14/3), o governador do Distrito Federal Rodrigo Rollemberg afirmou que o racionamento deve se encerrar logo. “Não tem data ainda, mas será neste ano”, prometeu.