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Você sabe o que é um bebê de alta demanda?

O conceito foi apresentado pela primeira vez pelo casal de pediatras americanos William e Martha Sears, no livro The fussy baby book

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Todo mundo que já teve um recém-nascido nos braços sentiu o pânico de ver aquele pacotinho chorar desesperadamente – muitas vezes, sem que haja sinais claros da causa do desconforto. Agora, imagine que essa situação seja muito exacerbada. E que, em vez de o bebê chorar por minutos, ele fique aos prantos por várias horas diárias. Assustador, não?

Essa era a realidade da jornalista e psicóloga Thaís*. Mãe de uma menina de 2 anos, ela passou a enfrentar o choro forte e exigente da filha por quatro, cinco horas diárias quando a neném completou 10 dias de vida. Thaís investigou doenças e alergias, deu colo, buscou ajuda profissional, mas nada explicava as manifestações da menina. Via-se cansada, ainda mais sobrecarregada que as outras mães. Pior: passou a ter que lidar com o ceticismo dos médicos com quem conversava e os julgamentos de amigos e familiares.

A situação começou a mudar quando Thaís conheceu o livro The fussy baby book (O livro do bebê agitado, em tradução livre). Escrito pelo casal de pediatras norte-americanos William e Martha Sears, o livro traz o conceito de high-need baby, o bebê de alta demanda, mais exigente (e em mais aspectos) do que a maioria das crianças.

Não há um consenso entre os pediatras sobre a real existência de bebês com esse “perfil”. Muitos sequer sabem da existência do termo. A Sociedade Brasileira de Pediatria informou não haver documentos oficiais da entidade a respeito do assunto. Mas é o que tem ajudado Thaís a levar o dia a dia com sua filha. Leia, abaixo, trechos do depoimento dela:

“Meu nome é Thaís*, tenho 44 anos e uma filha de 2. Tive uma gravidez tardia: minha filha nasceu quando eu já tinha 42 anos. Foi uma bebê muito esperada. Eu queria muito engravidar e não conseguia. Fiz quatro tentativas de fertilização in vitro até que, finalmente, a quinta deu certo.

Quando minha filha completou 11 dias de vida, começou a chorar e não parou mais. Até o sétimo mês, ela chorava por quatro, cinco horas seguidas. Não era fralda, não era fome ou sono. Ela só parava depois de muito tempo sendo ninada, e não porque se sentisse confortável, mas de exaustão mesmo.

Como mãe de primeira viagem, eu só pensava: minha filha tem algum problema. Mas fiz todos os exames, para investigar alergias, refluxo. A única coisa que amenizou um pouco o quadro foi quando introduzimos a mamadeira. Então, havia uma questão relacionada à alimentação, mas não era só isso. Ela chorava durante cinco horas seguidas. Ainda era muita coisa. Eu olhava para minhas amigas, também mães de crianças pequenas, e me percebia muito mais cansada. Só pensava que estava errando em meu papel de mãe.

A conversa com os pediatras era difícil. Eles costumam ter uma prática médica muito voltada para a saúde e o bem-estar físico e pouco preparo para lidar com demandas relacionadas ao comportamento das crianças. Quando eu descrevia o quadro, ouvia coisas muito ruins, do tipo “você quis mesmo esse filho?” ou “você está dormindo bem?” ou, ainda, “criança é assim mesmo.” Também é muito desagradável lidar com o julgamento dos amigos e da família, achando que eu não dou limites ou estou sendo manipulada. Eu sabia que minha filha tinha algo diferente.

Até que, pela internet, conheci um livro chamado The fussy baby book, um verdadeiro divisor de águas. Todo bebê tem alta demanda, precisa de apego e atenção individualizada, mas, no caso das crianças definidas como high-need, isso se dá de uma forma muito mais acentuada. O que os diferencia dos demais é que eles precisam de atenção em muitos aspectos: na alimentação, no sono, no contato com outras pessoas e ambientes. O livro foi escrito por um casal de pediatras, pais de oito filhos. A terceira filha deles tinha esse perfil.

Desde então, tenho procurado colocar em prática muitas coisas recomendadas no livro. Mudei meu olhar em relação à minha filha e passei a entender que as manifestações dela são necessidades muito particulares, sobre as quais ela não tem controle. Tenho sido flexível e, com isso, paramos de ter conflitos de poder. Minha filha está mas tranquila e eu também.

Segundo os pediatras, o quadro melhora com o passar do tempo. Quando são adolescentes e adultos, os bebês high-need tendem a ter bastante empatia e nenhuma dificuldade para expressar seus sentimentos – isso, claro, se eles tiveram suas demandas atendidas. É o que estou procurando fazer com minha filha.”

*Nome fictício a pedido da entrevistada.

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