Um viva às mães que não dão conta de tudo

Tempos atrás, em uma manhã na qual os meninos não nos acordaram ao raiar do sol, o despertador tocou e meu marido, naquele sono em vigília, quis saber por que eu precisava levantar tão cedo. Meio enfurecida com a pergunta (certamente não é porque eu gosto!), comecei a enumerar todas as coisas que tinha para fazer.

Depois de me ouvir falar de reuniões, da entrega de textos, de dois frilas, de uma ida à costureira e à aula de pilates – em meio à rotina de cuidados com as crianças – ele concluiu: não sei como você dá conta.

Na hora, não rebati, mas a resposta é bastante simples: eu não dou conta.

Sempre que estou me dedicando a uma atividade – especialmente as profissionais, as outras ficam “sacrificadas”. Eu sou só uma e ainda não inventaram um jeito de fazer o dia ter 30 horas. Se inventassem, eu seria igualmente ocupada, suspeito.

Nós, mulheres com filhos, vivemos sob a pressão (criada pela sociedade e reforçada por nós mesmas) de dar conta de tudo. De ser supermãe, dedicada, divertida e paciente, ser a fortaleza da casa, se dar bem na carreira, assumir compromissos, ter vida social, sexual e afetiva sempre em dia. Sem surtar e sem engordar.

(E nem vou entrar aqui na questão da sobrecarga mental e doméstica que recai sobre as mulheres. Isso é assunto para outra coluna.)

Mas, adivinha só? A gente não dá conta. Eu não dou conta.

Racionalmente, eu sei disso. Mas, ainda assim, sinto-me uma mãe de merda com mais frequência do que gostaria. Como em um dia desses, quando precisei resolver uma pendência de trabalho logo após buscar os meninos na escola. Eles estavam sujos, famintos e cansados, não paravam de brigar um com o outro e eu acabei dando uns berros. Eles estavam me deixando louca.

Mais tarde, calma, procurei me retratar com eles. E fiquei pensando: não tem fórmula para dar conta de tudo. Às vezes, eu vou ter que dizer “não” para aquele trabalho superbacana ou deixar minha chefe me esperando. Em outras ocasiões, terei de ser menos presente na vida dos meus filhos para me dedicar a outras coisas – também importantes para mim. E, em certas circunstâncias, vou surtar, perder o controle e querer fugir para as montanhas.

Feliz dia para as mães que não dão conta de tudo!