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Sou humana. Às vezes, sinto raiva dos meus filhos

Eles são as pessoas mais preciosas da minha vida, mas a verdade é que ter essa fúria é normal

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Kids having quarrel over tired mother
1 de 1 Kids having quarrel over tired mother - Foto: iStock

Vou confessar uma coisa: às vezes, eu sinto raiva dos meus filhos.

Tenho raiva quando o caçula não quer subir na cadeirinha do carro de maneira alguma – a despeito de todas as minhas tentativas de negociação –, e eu sou obrigada a colocá-lo à força. Ele berra, tenta me bater, eu preciso segurar os bracinhos e, ao mesmo tempo, afivelar o cinto. Assim, nós protagonizamos um lamentável show no estacionamento da escola.

Tenho raiva quando o mais velho diz “mãe” pela 380ª vez em cinco minutos, enquanto eu tento esquentar o jantar, tirar as roupas sujas da mochila e convencê-los a irem para o chuveiro – e eu simplesmente não posso gritar “vê se me erra!”.

Tenho raiva quando o pequeno percebe que estou atarefada com outra atividade e decide que é uma ótima ideia jogar todos os grãos de feijão que estão no prato pela sala.

Tenho raiva quando o maior e um amiguinho transformam o sofá em uma pista de carrinhos e cravam vincos profundos no estofado de camurça – e eu não posso jogar nenhum dos dois pela janela.

Tenho raiva quando eu não apenas quero, mas preciso, transar com o meu marido, e um dos meus filhos – ou os dois – decidem ficar acordados até muito mais tarde do que o normal, literalmente, empatando o esquema.

Tenho raiva quando estou muito cansada, torcendo para que eles estiquem o sono até umas oito da manhã, mas eles despertam antes da sete. E não tem nada que os convença que o papai pode ir no meu lugar, tem que ser a mamãe (na verdade, nesse caso, é menos raiva e mais vontade de chorar em posição fetal).

Eu poderia terminar este texto dizendo que qualquer resquício dessas raivas todas desaparece quando eu os abraço. Ou quando pegam no sono no sofá e eu os levo para a cama, sentindo aquele cheirinho único que eles têm. Poderia falar sobre essas coisas – e outras tantas – que fazem valer os momentos difíceis e me recordam de que meus filhos são as coisas mais preciosas da minha vida.

E dizer isso é a mais pura verdade, mas é verdade também que ter raiva é normal. Embora a maioria das situações de frustração tenha mais a ver com o meu estado de espírito – se estou cansada, chateada com alguma coisa do trabalho –, e não com as traquinagens ou os desvios das crianças, é um direito sentir raiva.

Como mãe, faço um esforço diário para lembrar que eu sou a adulta; sou eu quem precisa estar serena e não meus filhos, cujos cérebros ainda estão em amadurecimento. Ainda assim, às vezes, a minha corda arrebenta. Não sou super-heroína, tampouco tenho a pretensão de me tornar uma pessoa zen o tempo todo.

Então, quando a raiva toma conta de mim, eu respiro e me afasto. Procuro fugir do monstro da culpa materna e dizer a eles que reconheço não estar no meu melhor dia, mas que faço o possível diante das circunstâncias. E assim todos nós aprendemos. Eu, a aprimorar a minha maternidade e eles, a compreender que mamãe também é humana.

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