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Ser mãe é (também) negociar o tempo todo

Quando os filhos são pequenos, usam o choro para conseguir o que querem, mas logo adquirem a habilidade de argumentar e fazer exigências

atualizado

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woman telling tale to child at restaurant
1 de 1 woman telling tale to child at restaurant - Foto: iStock

A maternidade faz com que a gente adquira uma série de habilidades, algumas previsíveis, outras, inesperadas. Eu, por exemplo, aprendi a usar a panela de pressão, dormir de ouvidos bem atentos, inventar histórias fantásticas e a fazer e pensar em muitas coisas ao mesmo tempo. Mas o que eu não imaginava era que, depois de ter filhos, me tornaria também uma grande negociadora.

O treinamento não começa logo de cara. Quando eles são muito pequeninos e usam prioritariamente o choro como ferramenta de comunicação, não há qualquer margem para o diálogo. A única conversa possível é “faço qualquer coisa para que você pare de berrar e se sinta acolhido e confortável”.

Mas eles crescem e, rapidinho, aprendem que podem ter desejos não apenas primitivos (fome, sono, fralda suja). E aí começa a nossa luta para ensinar que não dá para fazer tudo na hora que bem entendem.

– Mãe, qual vai ser a sobremesa?
– Não tem sobremesa hoje, só no fim de semana.
– Ahhh, mãe… mas o que eu vou comer de doce?
– Agora não é hora de doce, é hora de comer o jantar, comida salgada.
– Posso comer uma banana de sobremesa?
– Pode. Mas só depois do jantar.
– E uma bolacha?

Não sei como é na casa de vocês, mas eu passo o tempo todo estabelecendo acordos: para comer, brincar debaixo do bloco, ver televisão, dormir. A prática está tão disseminada, que, por vezes, quando meu filho mais velho quer pedir alguma coisa, começa a argumentar: “mãe, vamos fazer um combinado”, com o dedinho em riste e ar de quem está agindo com muita sapiência. E não está?

Os especialistas em desenvolvimento infantil costumam dizer que não é lá muito bom usar a chantagem e as recompensas para fazer com que as crianças se comportem de determinada maneira. Na disciplina positiva, há a recomendação de tentar mostrar para os pequenos, a longo prazo, que é possível ficar feliz consigo mesmo fazendo o que é certo, sem receber nada em troca. Confesso que, na maioria das vezes, não consigo ser tão evoluída. E suspeito que grande parte das famílias também não.

Dia desses, no estacionamento da escola, enquanto eu aguardava meus filhos apertarem todos os botões do painel do carro, fiquei pasma ao ver a facilidade com que outra mãe conseguiu colocar as suas crianças nas cadeirinhas. Em menos de três minutos, os dois estavam sentados e tranquilos. Não me segurei e perguntei: “como você faz isso?!” Ao que ela me explicou: “quando chegamos em casa, os deixo brincar debaixo do bloco. Minha luta é para fazê-los subir.”

Ufa. Cada um escolhe seus métodos e instrumentos de barganha.

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