Que tal um terceiro filho?
Quando nasce um bebê, a gente se rompe e precisa renascer, em um processo mais demorado que os meses de licença-maternidade
atualizado
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Não faz muito tempo, uma amiga recém-mãe me ligou para saber qual destino dar para as roupas de grávida que eu emprestara. Enquanto ela falava sobre as possibilidades – distribuir entre outras gestantes ou guardar consigo até que nos encontrássemos –, eu fiquei pensando sobre o significado daquilo em mim. Desfazer-me de calças e shorts com o cós elástico representava, lá no fundinho, assumir: não terei mais filhos.
A mesma sensação surgiu recentemente, em meio à tradicional organização dos armários no fim do ano. Chupetas, conchas e sutiãs de amamentação foram achados nas gavetas, e eu fiquei num misto de alívio, por não mais precisar desses recursos, e nostalgia. É isso mesmo? Acabaram os nenéns?
Depois de dois, em escadinha, parece não apenas óbvio, mas também sensato. Na sociedade em que a família ideal é a da propaganda de margarina, ter duas crianças já está de bom tamanho. Você não é a mãe do filho único, a egoísta que “vai deixar o pobre coitado crescer sozinho e mimado”, tampouco a “doida desvairada” que vai partir para o terceiro, quarto, com as mensalidades escolares pela hora da morte.
Confesso, porém, que já houve momentos de dúvida. Há alguns meses, Miguel estava encasquetado com a ideia de ter uma irmã. Volta e meia, fazia o pedido com a vozinha arrastada, e a menina já tinha até nome: Clara. Lá pelas tantas, eu lhe disse: “Tudo bem. Mas você sabe que, se a mamãe engravidar de novo, pode vir outro menino, né? Que nem o Solano”. Ele fez uma careta e desistiu da ideia. Ufa!
Por causa dessas mesmas questões, minha mãe conta ter sofrido muito depois do segundo parto. Ficou triste e chorosa, pois sabia ser minha irmã o último bebê. Comigo foi justamente o contrário. Se, com Miguel, eu me senti meio deprimida devido a todas as mudanças, com Solano me sentia forte, potente, uma supermulher – mesmo dormindo pouquíssimas horas por noite. Será que isso significa uma terceira criança no futuro?
A Carol de hoje tem certeza que não. Sinto saudade dos meus meninos pequenos, é claro, mas tenho achado tão mais legal a fase de agora, quando podemos conversar sobre o mundo, estabelecer combinados. Bebê é uma delícia, mais ainda quando a gente pode beijar, abraçar, devolver para a mãe e ter uma noite inteira de sono.
Mas, mais do que o cansaço físico, o que pega mesmo é a doação emocional. Quando nasce um bebê, a gente se rompe, quebra em pedaços e precisa renascer, em um processo muito mais demorado do que os meses de licença-maternidade.
Eu vou querer passar por toda essa bagunça de novo, logo agora, quando estou em um trabalho legal, animada para fazer um mestrado?
Não, obrigada.