Que lição passamos para as crianças ao protagonizar brigas em público?
Ao estacionar em um local que não devia, um homem me xingou de burra na porta da escola da amiga do meu filho. Eu tinha vontade de chorar de raiva e de impotência
atualizado
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Poucas coisas são tão reveladoras do nosso fracasso como seres humanos quanto os comentários da internet e as discussões de trânsito. No primeiro caso, é possível não ler e escapar de uma parte do ódio e da intolerância. Já no segundo, a gente não tem muito como fugir.
Foi o que percebi há umas duas semanas, enquanto buscava a filha de uma amiga na escola. O colégio, no Lago Sul, tem uma infraestrutura que permite o que chamo de “drive thru de criança”: os pais formam uma fila de carros e, na porta do prédio, recebem seus filhos.
Na maioria das vezes, os funcionários reconhecem a família e já chegam com o aluno pela mão. Obviamente, não foi o que aconteceu comigo. Fui, então, orientada por uma das funcionárias a parar um pouco mais para frente, pois teria que mostrar meu documento para poder levar a filha da minha amiga.
Quando havia acomodado a menina e meu filho mais velho no carro e estava me preparando para partir, surgiu um homem, levando duas menininhas pela mão, aos berros. Demorei alguns instantes para perceber que ele estava se dirigindo a mim.– Você é muito burra mesmo! Isso aqui é uma calçada! Quantos neurônios você tem? Dois?
Fiquei em choque. Tentei me desculpar e explicar que era a segunda ou terceira vez que estava naquele colégio, que havia sido orientada a parar onde parei, que ele não precisava gritar e me ofender. Mas ele simplesmente não me deixava falar, só repetia, gritando, o quanto eu era burra e sem noção.
Aquilo me deixou atônita. Mais que isso: deixou meu filho, a filha da minha amiga e as duas meninas que acompanhavam o sujeito absolutamente mudas e espantadas.
Eu tinha vontade de chorar de raiva e de impotência. Só que não podia. Eu precisava manter o controle e dizer para as crianças que estava tudo bem, que aquele não era o jeito certo de tratar as pessoas.
“Miguel e Manu, quando vocês forem adultos, por favor, nunca tratem os outros dessa forma, tá?”, eu disse, com um fio de voz. Fui o caminho todo de volta chorando em silêncio. Como pode uma pessoa que nunca me viu na vida falar assim? Que tipo de lição a gente passa para as crianças ao protagonizar uma cena deprimente como essa?
Sim, eu, de fato, estava parada sobre um pequeno trecho de calçada. Em minha defesa, devo dizer, porém, que não era um lugar muito utilizado, uma vez que a maioria dos pais pega seus filhos sem precisar estacionar. E, além disso, eu havia sido orientada a aguardar ali. De qualquer forma, eu estava errada. Mas penso que o homem podia ter chegado e me dito: “Por favor, não pare aqui, não é o lugar adequado”.
Do fundo do meu coração, desejo que meus filhos aprendam essa lição. Por mais que os problemas nos exijam firmeza, é preciso ter calma, tratar o outro com gentileza. O nome disso é empatia, e faz um bem danado para a humanidade.