Não é a mamãe! Por que as crianças às vezes “preferem” um dos pais?
“Não há nada de errado nesses processos”, garante a psicóloga Maria José Gontijo. Se os pais sentirem que há isolamento ou agressividade excessiva da criança, vale consultar o pediatra
atualizado
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Há alguns dias, o Miguel disse, pela primeira vez, que me ama. Fiquei superemocionada e contei para o meu companheiro, que ficou maluco para ouvir a mesma coisa.
– Mimi, eu te amo.
– Eu amo a mamãe – respondia Miguel, deixando o Lourenço frustrado (e eu, me achando um pouquinho).
Não é de hoje, porém, que Mimi parece “gostar” mais de mim do que do pai. Há alguns meses, ele começou a requisitar a minha presença em vários momentos que antes eram administrados por outro adulto. Requisitar não; bater o pé, gritar e espernear, dizendo “eu queio a mamãe!!!”, sem qualquer chance de negociação.
A cena mais clássica acontece logo quando ele acorda. Ele vem para a nossa cama e, se está já bastante desperto, começa a tentar abrir as minhas pálpebras “mamãe, você acorda! Levanta, mamãe!”. Eu, que passei boa parte da madrugada amamentando, tento me fazer de morta, mas não adianta.
Lourenço sai da cama e o chama para ir à sala, mas ele não se convence. E começa a gritaria “eu queio a mamããããe!”, todo mundo acorda – eu, meu companheiro, Miguel e o bebê – de mau humor, antes das 6h da manhã. Fim.
Conversando com outras mães sobre isso, descobri que é algo bastante comum. E que, em algumas casas, a “preferência” é pelo pai ou, até mesmo, pela babá. Por que isso acontece, afinal?
“A criança pequena, até por volta dos três anos, fica mais apegada ao cuidador principal, que passa mais tempo com ela, é normal”, diz a psicóloga Maria José Gontijo, colaboradora do Conselho Federal de Psicologia. “Com o passar do tempo, ela se sente mais segura para se distanciar desse cuidador e para interagir com outras pessoas, inclusive, com outras crianças”, acrescenta.É também nessa fase que começa o processo de construção da identidade de gênero e do posicionamento sexual, como explica Maria José: “No caso do menino, ele quer marcar o terreno e faz isso rivalizando com o pai e usando seu principal ‘objeto de poder’, que é a mãe.” Para as meninas, acontece o mesmo, só que o antagonismo se dá em relação à figura materna. “Esse é um processo natural, importante para o desenvolvimento das crianças”, esclarece a psicóloga.
Além disso, é possível que a demanda fique mais pronunciada quando há a chegada de um irmão – exatamente o que aconteceu aqui em casa. O filho mais velho passa, então, a exigir mais a atenção da mãe porque se sente ameaçado pela chegada do novo membro à família.
“Não há nada de errado nesses processos”, garante Maria José. Se os pais sentirem que há isolamento ou agressividade excessiva da criança, vale consultar o pediatra – e, se for o caso, buscar a ajuda de um especialista.