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Meu filho engoliu uma “pílula falante”

Eu, que passei horas repetindo “ma-ma-ma” em seu ouvido, hoje sinto saudades dos dias de silêncio

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Em uma das cenas mais clássicas da literatura de Monteiro Lobato, a boneca Emília – muda de nascença – engole uma das pílulas falantes do Doutor Caramujo e desata a falar todas as palavras que nunca havia dito.

Atordoada, Narizinho pergunta ao especialista se não seria o caso de fazer Emília vomitar o remédio e dar uma nova dose, mais fraca. Ao que o Doutor Caramujo lhe esclarece: “Isto é fala recolhida, que tem que ser botada para fora.”

Lembrei desse episódio, descrito no livro Reinações de Narizinho, há alguns dias, quando eu implorei ao meu filho mais velho para que, por favor, parasse de falar. “Então eu não posso mais dizer nada, mãe?”, ele me perguntou, com o olhar de quem se sente vítima de uma tremenda injustiça.

 

Deve ser um fenômeno que acomete todas as crianças na faixa dos 4 ou 5 anos. Há uma urgência em falar o tempo todo, de tudo, sobre as coisas que aconteceram e surgem na mente deles. “Mãe, olha este guindaste conectado em uma pista muito alta, e o meu carro sai voando bem rápido, para dar a volta por cima de uma montanha e cair na lava!”Acompanhou?

Impossível não lembrar daqueles primeiros meses, com um bebezinho que mal diferenciava o dia da noite. Eu, uma mãe babona e bocó, balbuciando as sílabas “ma- ma-ma”, fazendo a minha parte para que o primeiro traço de linguagem verbal do meu filho tivesse a mim como referência. Hoje, às vezes sinto saudades do silêncio.

 

“Uma criança na faixa dos 5, 6 anos fala, em média, de 75 a 85 palavras por minuto”, diz Michelle Procópio, fonoaudióloga especialista em desenvolvimento da linguagem e membro do Conselho Federal de Fonoaudiologia. A título de comparação, um pré-adolescente de 11 ou 12 anos costuma falar 90 palavras por minuto.

Há a questão ambiental, contudo. “A criança tende a imitar um modelo. Se, em casa, há alguém que fale muito alto ou muito rápido, ela deve repetir esse padrão”, afirma Michelle. É comum também que, até por volta dos 6 anos, haja uma certa disfluência na linguagem de meninos e meninas, como uma gagueira. “Por estar aprendendo muitos sons e palavras novas, a criança pode encontrar alguma hesitação na hora de reproduzi-las”, explica a especialista.

Nesta tabela, o Conselho Federal de Fonoaudiologia apresenta uma lista de ações e comportamentos esperados quanto ao desenvolvimento da linguagem nos primeiros anos de vida. Michelle reforça, ainda, a importância de os pais estarem atentos às questões comportamentais que podem surgir na primeira infância.

“A forma como a criança conversa ou manipula brinquedos, por exemplo, pode dar sinais sobre eventuais problemas de desenvolvimento”, detalha.

Outra questão é o volume da conversa: em muitos casos, um tom acima do normal pode indicar alguma dificuldade auditiva. “Em todos os casos, se a família tiver qualquer dúvida, é importante procurar um fonoaudiólogo, para que sejam descartadas situações que possam comprometer o aprendizado.”

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