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Mães são as principais vítimas da crise econômica

Nós amargamos mais duramente os efeitos da crise, uma vez que nós podemos engravidar

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1 de 1 maternidade mãe bebê mercado de trabalho trabalho - Foto: iStock

Aconteceu esta semana com a amiga de uma amiga (mas poderia ter sido comigo ou com qualquer outra mãe).  O celular tocou, era sobre uma vaga de emprego. Ela tentava ouvir a interlocutora e a filha gritava: “Mamãe, mamãe!”. Pediu um instante para acalmar a menina e, quando voltou à ligação, a recrutadora havia desligado.

É dessa forma que o mercado de trabalho, normalmente, trata as mães. Não existem números específicos sobre desemprego entre mulheres gestantes ou com filhos, mas as taxas de desocupação são sempre maiores entre a população feminina. No segundo trimestre deste ano, 14,9% das brasileiras estavam sem emprego, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre os homens, o índice era de 11,5%.

Esta reportagem, publicada em janeiro do ano passado, traz um bom panorama das razões para as estatísticas. Mas, em resumo, isso acontece porque nós amargamos mais duramente os efeitos da crise, uma vez que nós podemos engravidar.

Na lógica da grande maioria das empresas, não é negócio contratar uma funcionária se você pode contratar um funcionário. Mulheres gestam, precisam ir a consultas, se afastam das atividades no pós-parto (ao menos, idealmente). São as que acodem os filhos quando se machucam na escola, que madrugam no posto de saúde quando eles precisam de atendimento médico.

Historicamente, nós ganhamos o mercado de trabalho, já não somos “só” donas de casa, mas ainda pesa sobre nossos ombros o custo social da criação de meninos e meninas. O cuidado é visto como coisa de mulher – na infância e na velhice. Quantas babás homens você conhece? Quantos cuidadores de idosos? Quantos professores de educação infantil? Não por acaso, são também profissões malremuneradas.

Romper com essa cultura não é tarefa fácil. Mas existem algumas coisas que podem ser feitas para iniciar a mudança. Uma delas é a divisão do trabalho doméstico. Alô, você, homem e pai de família: mesmo que seu dia tenha sido conturbado no escritório, ajude com as tarefas, com a limpeza, com o cuidado dos filhos. Isso, além de ser justo, vai ensinar às crianças que todos são responsáveis pela casa, não apenas as mulheres.

(Se eu fosse pai, aliás, já teria começado uma revolução por isso. Ficaria chateada ao ver a sociedade inteira se reportando à mãe quando o assunto é a criação dos meninos – que o diga meu marido, que fica possesso quando a escola manda recado apenas para mim.)

As empresas também precisam fazer a sua parte – e não falo aqui do óbvio respeito às funcionárias mães e gestantes, ao não assédio moral, às ameaças de demissão para aquelas que não podem “vestir a camisa” (eufemismo para ‘trabalhe até morrer’). Algumas rotinas também ajudam (mães e pais), como, por exemplo, a proibição de realização de reuniões depois das 18h, quando alguém precisa pegar as crianças na escola.

(É claro que há empresas com outras realidades, mas falo aqui de uma forma geral, das organizações que funcionam em horário comercial.)

Por fim, ajudaria muito se tivéssemos, no governo, representantes que não vissem as mulheres como as únicas responsáveis pela sacrossanta missão de cuidar da casa e dos filhos.

A amiga da minha amiga – e tantas outras mulheres – agradeceriam.

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