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Filhos, eu queria que o tempo passasse devagar

Não pensem que isso é papo de maluco; é que a gente só entende esse saudosismo antecipado quando viramos mãe e pai

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Arquivo Pessoal
Licença Maternidade Solano Miguel
1 de 1 Licença Maternidade Solano Miguel - Foto: Arquivo Pessoal

Filhos, eu queria congelar o tempo. Queria colocar vocês em uma caixinha, desse jeito que vocês são hoje, pequenos, curiosos, inventivos, com as mãos que me procuram para um abraço. Eu queria gravar o cheiro da pele suada de vocês depois de um dia de brincadeiras, o hálito doce e até aquele bafinho matinal. Eu queria ter uma fórmula para guardar mais do que memórias desse momento tão cheio de tarefas, aprendizados e novidades.

Especialmente de você, Miguel. Por ser o mais velho, é quem joga na minha cara, diariamente, que o relógio do tempo é implacável. Você, que nasceu miúdo, tem as calças dos pijamas nas canelas, e as mangas no meio dos braços. Esses dias, eu te disse que era para parar de crescer e você, chateado, me respondeu que não queria ficar pequenininho.

Não tem possibilidade de isso acontecer, eu te expliquei. Desde o dia em que saiu da minha barriga (e até lá dentro, a bem da verdade), você começou um caminho que não tem volta. Agora você entende e vem me contar, quase todos os dias: “Mamãe, eu tô ‘queçendo’. Eu vou ter 10 anos, que nem o Eduardo.” Vai, Mimi, vai ter muito mais.

Com você, Solano, o meu espanto é outro. Já vacinada sobre os atropelos do tempo, eu não canso de me assombrar com cada nova façanha sua. “Você viu que agora ele quer pular no sofá que nem o Miguel?”, “E agora, que o Solano está tentando repetir tudo que a gente fala?”, ficamos perguntando, eu e o pai de vocês. Solano, você parece ainda mais apressado que seu irmão; ou será que sou eu que percebo as coisas de um jeito diferente desta vez?

Filhos, não pensem que isso é papo de maluco; é que a gente só entende esse saudosismo antecipado quando viramos mãe e pai. Tem dias – noites, melhor dizendo – em que o desespero bate, e a gente só fica se perguntando quando é que vocês vão conseguir dormir sem ninguém para dar mamá, embalar, acarinhar. Mas aí, num piscar de olhos, vocês decidem fazer as coisas sozinhos, e nós ficamos ali, meio felizes, meio nostálgicos. Ter filhos deixa a gente contraditório mesmo.

Ver vocês crescendo é uma delícia, mas, por outro lado, traz a realidade de que eu também estou envelhecendo. Às vezes, eu penso que vou sentir saudade não apenas de vocês dois pequeninos, mas de mim mesma, essa ainda “recém-mãe”, que ainda não tem muita certeza se está fazendo as coisas do jeito certo. E algum dia a gente tem?

Por isso, sejam bondosos comigo. Por favor, cresçam devagar.

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