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Filhos mudam nosso senso de responsabilidade

Parece que até para adoecer preciso de um plano. “Não vai dar para ficar deitada me recuperando de uma gripe hoje… dá para adiar?”

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bebe primeiros passos criança filhos
1 de 1 bebe primeiros passos criança filhos - Foto: iStock

Dia desses, uma amiga – mais de Facebook do que de vida, infelizmente – virou tia e se pegou refletindo, na rede social, sobre como a chegada da menina mudou sua perspectiva sobre o mundo. Ela sempre achou que “a humanidade tinha mais é que se lascar”, uma vez que fazemos muito pouco para garantir a nossa sobrevivência, mas, com um serzinho tão minúsculo nos braços, essa ideia se transformou.

Achei o insight perfeito, um resumo sobre como eu, e outras mães e pais e tios, se sentem depois da chegada dos filhos. Ver a vida nascendo, crescendo, tão frágil e poderosa, é de um privilégio tão grande que é quase impossível não pensar no tipo de mundo que deixaremos para eles no futuro. É como se, depois das crianças, eu tivesse ligado uma chavinha eterna do senso de responsabilidade.

Não que eu fosse irresponsável antes, mas confesso que não me angustiava tão profundamente com coisas como crise hídrica. Ameaça à democracia. Atentados terroristas. Repressão. Violência policial e institucional. Possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial. Emissão de gases de efeito estufa. Eu era bem egoísta, na verdade.

O senso de responsabilidade comigo mesma também mudou radicalmente. Basicamente, porque agora eu não estou sozinha no mundo. Eu não me basto. Não posso me dar ao luxo de enlouquecer, largar meu trabalho, viver de qualquer jeito. Não posso ter uma síncope, mudar de país da noite para o dia. Ok, poder eu posso, mas é tudo muito mais difícil e delicado. As mudanças exigem planejamento e eu sempre me questiono “como ficarão os meninos?”.

Parece que até para adoecer preciso de um plano. “Ih, não vai dar para passar o dia deitada me recuperando de uma gripe hoje… será que dá para adiar para a próxima semana?”

Quando eu estava prestes a ganhar o Solano, meu segundo filho, tive uma crise. Tive medo do parto, de não dar conta, de que algo muito grave acontecesse. Sabia o quanto isso era improvável (o nascimento do meu primeiro filho foi natural, tudo certinho, sem intercorrências), mas, ainda assim, não conseguia deixar de me apavorar.

Olhando através da minha alma, uma das parteiras me explicou: “É porque, agora, você não pode morrer, né?”. Bingo. Era isso mesmo. Filhos fazem a gente ter a clara noção da fragilidade da vida, da nossa vida. E é só depois que eles nascem que percebemos o tamanho do desafio: ensiná-los a caminhar por si mesmos. Que baita missão, hein?

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