Filhos, é bom saber (e perceber) que vocês têm um ao outro
Que privilégio o meu ver vocês ficando grandes e me mostrando como foi certeira a escolha da nossa família
atualizado
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Queridos Miguel e Solano,
Ainda há pouco, eu estava aos berros com vocês, tentando fazer com que fossem logo para o chuveiro. A televisão ligada no jogo de futebol, carrinhos espalhados por toda a sala e meu desespero crescendo; tinha pressa em colocar ordem em tudo, ver vocês dormindo para que eu pudesse escrever logo esta coluna. Mas aí, você, Miguel, freou a minha urgência: “só um pouquinho, mãe! É que eu quero brincar com o Solano.”
De primeira eu pensei em responder: vocês já não brincaram que chega hoje? Gastaram pouca energia? Percebi, porém, que vocês estavam com saudade um do outro. Embora frequentem a mesma escolinha, têm horários diferentes. Quando chegam em casa, têm muita coisa para fazer juntos – inclusive, é claro, me enrolar para entrar no banho.
Essa é aliás, a prova irrefutável de que vocês incorporaram o espírito fraterno. Vocês se unem contra mim e o pai de vocês, dois revolucionários a combater o poder estabelecido, cada qual à sua maneira.
Se a pauta é comer doces, por exemplo, você, Mimi, começa a fazer conjecturas inspiradas na psicologia reversa, do tipo: “hoje é quarta, né? Não pode comer sobremesa na quarta, só no fim de semana.” Já você, Sossô, lança o seu sorriso mais fofo, une as mãozinhas em volta do rosto e pergunta: “pode comer um docinho?” E levanta o dedo indicador, para ninguém ter dúvidas de que é só unzinho mesmo.
Pobre de nós, mãe e pai, que caímos feito patos na arapuca.
Filhos, eu nunca tive dúvidas de que teria vocês dois, tampouco que vocês seriam amigos. A vovó, filha única, sempre buzinou na minha cabeça e na da tia Isa como era preciosa a oportunidade de ter irmãos. E, de fato, é! Mas parece que eu sequer preciso ficar dizendo isso para vocês (bem, talvez eu precise mais para frente, quando vocês forem pré-adolescentes mal-humorados e pentelhos).
Por enquanto, me encanta ver a forma como vocês vão se tornando companheiros de vida. Miguel, sempre preocupado (e meio paranoico): “Solano, não pode comer o biscoito que caiu no chão! Tem bactérias, eu não quero que você fique doente!”. E Solano, você sempre com uma verdadeira adoração pelo irmão, que obviamente não pode dar uma esticadinha sequer no sono da manhã sem que você vá lá acordá-lo para brincar.
Mimi, Sossô, que alegria é ver vocês contando um com o outro. Como quando há alguns dias, quando eu estava abarrotada de trabalho e vocês passaram horas juntos, montando mil versões de pistas de corrida, explorando novos declives e se desafiando a chegar em lugares diferentes.
Que privilégio o meu ver vocês ficando grandes, corrompendo a minha chatice de adulta, mostrando como foi certeira a escolha da nossa família. Amo vocês.