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Filho, um dia você vai ver que o seu irmão foi o seu melhor presente

Você vai se acostumar e vai aprender a enxergar o Solano como parte da sua vida. Acredite em mim, você vai amá-lo!

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Juliana Matos/Arquivo Pessoal
Solano Miguel Carolina Vicentin
1 de 1 Solano Miguel Carolina Vicentin - Foto: Juliana Matos/Arquivo Pessoal

São quase 22h e eu acabo de sair do seu quarto. Sua respiração é calma e profunda, o corpo entregue ao sono, as pernas compridas, ocupando cada vez mais espaço na cama. Quando foi que elas ficaram desse tamanho? Você já é mais menino que bebê, muito mais, mas ainda carrega aquela vozinha de quem está aprendendo a formular as frases.

Você ainda fala algumas palavras de um jeito encantadoramente errado e, volta e meia, se refere a si mesmo como “o Mimi”, embora cada vez menos.

Giovana BemBom/Metrópoles

Filho, eu sei que os últimos tempos não têm sido fáceis. Não bastassem todas as mudanças que aconteceriam naturalmente na sua vidinha, eu e seu pai resolvemos te dar um irmão. E você parece agora ter se convencido de que ele veio para ficar. Se antes o Solano era uma criaturinha que só chorava e dormia, agora ele sorri para tudo e para todos, pega seus brinquedos e parece não notar a sua antipatia – pelo contrário, ele te adora.

Miguel, eu sou solidária a você. Sei exatamente o que você está sentindo, aconteceu comigo também. Como irmã mais velha, eu senti na pele a dor de não ser mais a única pessoa fofa da casa. E sua tia Isa era muito mais feliz e sorridente do que eu quando criança; enquanto ela arrancava gracinhas das visitas, eu levava a fama de emburrada. No máximo, tímida.

Como mãe, Mimi, eu também te acolho, com toda a minha alma. Meu coração quase se partiu há alguns dias, quando você – ao constatar que seu irmão iria passar a fazer as refeições conosco, à mesa – decidiu se esconder debaixo da escrivaninha. “Não tem lugar pá mim”, você me disse, com o beicinho de tristeza. Filho, sempre vai ter lugar para você, não importa o quão pequena seja a nossa mesa e o quão grande seja a nossa família.

Giovana Bembom/Metrópoles

 

Como o primeiro, Mimi, você teve o privilégio da exclusividade e também a dor de perdê-la. É um aprendizado e tanto. Se te conforta, filho, eu também tive que aprender muito com a chegada do seu irmão. Alguns dias antes de ele nascer, eu chorei porque não sabia se daria conta de vocês dois. Chorei já prevendo que não poderia ser duas, e que alguém sempre iria ter que esperar. Às vezes é ele, às vezes, você. E, às vezes, eu tenho vontade de deixar vocês dois esperando também, mas isso é outra história.

Então, filho, a única coisa que eu posso te garantir é que isso vai passar. Você vai se acostumar e vai aprender a enxergar o Solano como parte da sua vida. Acredite em mim, você vai amá-lo! Eu passei a infância ouvindo da sua avó que eu e a tia Isa tínhamos que ser companheiras, que nós só teríamos uma a outra e que isso era um privilégio – ainda mais para alguém como a vovó, filha única. E sabe de uma coisa? Ela estava certa. Um dia você vai se dar conta de que o seu irmão foi o melhor presente que eu e o seu pai já te demos.

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