Existe sexo depois da maternidade?
Além das razões fisiológicas, o pós-parto exige uma adaptação emocional, como se fosse necessária a descoberta de uma nova sexualidade
atualizado
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Na primeira vez em que fui fazer sexo depois de ter me tornado mãe, minha cabeça estava concentrada em uma única coisa: será que a minha vagina estará igual ao que era antes? Será que eu vou sentir igual? A última coisa que havia passado por ali havia sido a cabeça (e o corpo inteiro) de um bebê, então, eu achava essa preocupação bastante razoável.
Correu tudo bem – na verdade, achei que estava até mais interessante –, mas eu não contava com outro elemento. Lá, no meio da coisa toda, a minha mente começou a gritar “o bebê! O bebê!”, e, a partir daí, tive uma dificuldade tremenda para curtir o momento.
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A psicóloga e sexóloga Tatiana Leite, terapeuta de casais, explica: o pós-parto é um momento de profunda transformação, no qual a mulher – e a família, por extensão – precisa abrir espaço para a nova vida. “Por mais que o casal tenha se preparado para a chegada do filho, arrumado o quarto, o ambiente, a questão emocional é a mais importante”, diz.
Nessa fase, as mulheres podem experimentar diversas travas, físicas e emocionais. “Em muitos casos, elas passaram por violências na hora do parto, ou não se recuperaram plenamente da cesariana ou da episiotomia (corte feito entre a vagina e o ânus)”, detalha Tatiana. “É importante sinalizar qualquer desconforto para o companheiro e, se necessário, buscar a orientação de um médico”, recomenda.
E qual é o prazo para as coisas voltarem ao “normal”?
Geralmente, o obstetra libera as relações sexuais 40 dias depois do parto, mas é normal não se sentir preparada para isso ou mesmo não ter qualquer vontade. “A prolactina, o hormônio que estimula a produção de leite, faz a mulher concentrar seu interesse na criança e ter a libido diminuída”, explica Tatiana. A ação hormonal pode, também, interferir na lubrificação: mesmo com interesse sexual, a vagina fica mais ressecada; o caminho, então, é adotar lubrificantes.
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Para além das razões fisiológicas, existe uma adaptação emocional, como se fosse necessária a descoberta de uma nova sexualidade. “É preciso que os casais não idealizem o sexo, busquem a qualidade e a intimidade, não apenas com a penetração”, indica Tatiana. Ela aconselha a ambos fazer uma espécie de recalibragem de expectativas, e ter muito diálogo e paciência.
Nesse processo, é importante a mulher não ser vista como a única responsável pela retomada da prática. “O sexo muda ao longo da vida. É preciso aproveitar o que há de melhor em cada fase”, diz a especialista.
Na minha casa, demorou praticamente um ano para voltarmos “à plena forma”. E foram necessárias diversas estratégias. No começo, falávamos abertamente sobre a nossa dificuldade – principalmente a minha, de não conseguir “desligar” do bebê. Por fim, uma ida ao motel, na hora do almoço, nos ajudou a redescobrir coisas eróticas sobre nós mesmos – e a viver esse novo momento.
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