E quando os filhos começam a nos decepcionar?
Chega um momento em que as crianças passam a fazer, conscientemente, coisas das quais não gostamos
atualizado
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Dizem que a gente cria os filhos para o mundo. Que eles só estão plena e unicamente sob a nossa asa enquanto habitam o útero. A partir do nascimento, passam a estar sob a influência de outras pessoas. E, ao crescer, essa ascendência passa a ter reflexos nas vontades e atitudes deles.
Pois eu, do alto da minha consciência e resiliência em relação a todo esse fenômeno, fiquei chateada ao constatar que Miguel, 4 anos, descobriu possibilidades com base em sua própria vida social.
Nicolas é o melhor amigo, 1 ano mais velho, e a referência do meu filho em coisas legais. Ou seja: um ídolo.
E Coca-Cola é algo que nunca deixamos ele experimentar. Somos flexíveis com chocolates, balas e alguns tipos de biscoito, mas refrigerante sempre foi considerado uma porcaria que deveria ser evitada.
E, então, eu encarei o óbvio. Miguel, em breve, vai tomar Coca-Cola – ou com Nicolas ou o avô, que adora incentivar certas contravenções. Provavelmente, vai achar refrigerante o máximo, ainda que se incomode com o gás. É cheio de açúcar, os adultos tomam, o melhor amigo toma. Não há como competir.
Sim, é só Coca-Cola. E ele ainda não experimentou (acho eu). E não é como se ele fosse viver eternamente mergulhado em uma garrafa pet. Mesmo assim, esse episódio me fez lembrar de uma conversa que tive há algum tempo com minha mãe sobre a experiência de ver os filhos crescerem. “Eles vão te decepcionar”, ela me disse. “E isso vai te deixar chateada.”
Quando são pequeninos, nada é verdadeiramente um problema de comportamento. Tapas, gritos e mordidas nos deixam sem saber o que fazer, mas o dilema é muito menor do que, por exemplo, quando as crianças contam mentiras.
Quando os filhos passam a, conscientemente, fazer coisas das quais não gostamos – e quando essas coisas surgem por influência de amigos – nos damos conta de que eles estão, de fato, crescendo. Estão aprendendo a ser sujeitos sociais, extrapolando as fronteiras da casa, colocando as suas vontades em jogo, testando os limites. Que estão, aos poucos, saindo de baixo da nossa asa.
É só um refrigerante e eu já fiquei assim. Imagine só quando chegar a adolescência.