Dois filhos nos obrigam a uma reinvenção diária
As estratégias que funcionam para um não necessariamente geram resultados para o outro
atualizado
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São 22h, a casa está uma bagunça e este texto, pra lá de atrasado. Na minha cola, está meu filho mais novo, do alto de seus 2 anos e 8 meses, vivendo o despertar de si mesmo como indivíduo, o exercício pleno da autonomia. A palavra favorita é “não”, e vem ainda mais retumbante quando sou eu a propor absolutamente qualquer coisa. Comer, escovar os dentes, dormir. Guardar os brinquedos, então, nem se fala.
É a chamada “adolescência dos bebês”. E eu, como mãe de dois, deveria estar mais treinada para lidar com isso, certo?
Não é bem assim. Ter dois filhos (ou mais, imagino eu) é um belo exemplo daquele clássico meme expectativa versus realidade. Você tem certeza de que sua experiência anterior vai servir para grande coisa, mas aí tudo foge do script, aquela criaturinha se comporta de um jeito completamente diferente do primeiro filho e joga na lata do lixo a pedagogia até então acumulada.
Você, com cara de tacho, se pergunta: de que serviu todo aquele sufoco de mãe de primeira viagem?
Nem tudo é tão horrível assim, é claro. A gente fica mais segura – afinal, se sobrevivemos uma vez, podemos repetir a façanha. Também temos mais clareza de que, por mais desafiadoras que sejam as circunstâncias, a fase vai passar. Você não vai permanecer os próximos 20 anos dormindo apenas quatro horas por noite. Seu filho vai aprender a usar o vaso sanitário. Ele talvez não coma de forma 100% saudável, mas vai aceitar mais tipos de alimentos. O primeiro nos ensinou tudo isso, e, com o segundo, sabemos que as coisas vão acontecer a seu tempo.
Talvez, por isso, o senso comum aponte serem os caçulas mais “livres”, ousados. Diferentemente do primeiro filho, sobre quem recaíram as inúmeras expectativas dos pais – quando será que ele vai andar? E falar? E aprender a ler e escrever? –, os caçulas gozam de uma espécie de liberdade adicional. Deixa o menino ser bebê e pronto, sabemos, por fim, que eles crescem em um piscar de olhos.
Mas quando a questão se refere ao comportamento, tudo parece ficar meio nebuloso. Por que, com um deles, funciona conversar e explicar que não podemos bater nos coleguinhas e, com outro, repetir a falação 10 vezes não gera o menor resultado? Por que, com o primeiro, basta fazer uma cara feia e, com o segundo, só os gritos provocam o efeito esperado?
Eu me crucifiquei por, certa vez, ter dado um tapa no Miguel, e deixado o bracinho de Solano com marcas roxas, porque ele teimava em sair correndo pelo aeroporto – e não havia conversa ou distração que o fizesse permanecer ao meu lado.
Não há orgulho nisso, apenas a constatação do óbvio: eles são diferentes e me obrigam a pensar em estratégias diferentes, o tempo todo. É um eterno sair da zona de conforto, um “será, meu Deus, que estou fazendo isso certo?”. Haja inteligência emocional!