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Crianças são como pequenos cientistas

Chega uma hora em que os filhos viram observadores a fazer mil perguntas e testar hipóteses, e nós, adultos, precisamos nos virar nos 30

atualizado

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Little scientist
1 de 1 Little scientist - Foto: Istock

É de Paula Toller uma música bem bonitinha que descreve o atual momento com meu filho mais velho. Em Oito Anos, a cantora fala sobre as diversas perguntas feitas pelo filho Gabriel, a respeito dos muitos fenômenos por ele observados. Me soa um pouquinho estranho o título da canção, que, a meu ver, deveria se chamar Cinco Anos, mas não importa. Paula descreve, poeticamente, o sufoco em que ficamos nós, mães e pais, diante de tantas dúvidas.

Quando estava grávida, eu sabia que as coisas iam mudar radicalmente, mas não imaginava que teria de relembrar (em alguns casos, aprender mesmo) conceitos de biologia, matemática, química. Aliás, não apenas rememorar tudo isso, mas explicar de uma forma didática, compreensível para as crianças. Vocês aí que foram pais antes do Google e do YouTube, como resolviam isso? Apelavam para a Barsa? A Enciclopédia Britânica?

Lá em casa, a coisa começou com o corpo humano. Impressionado que estava com o fato de, certo dia, ter vomitado, Miguel desatou a querer saber qual era o caminho da comida dentro da gente. “O Benjamim disse que a gente fica com um bolinho fedorento na barriga, é verdade?” Foi um tempo até eu descobrir quem era Benjamim e que ele se referia ao bolo alimentar.

Depois do sistema digestivo, veio o coração e os sistemas respiratório e urinário e, volta e meia, ele quer saber sobre ossos e músculos. Quando achei que eu estava arrasando na anatomia humana, ele apareceu com os fenômenos da natureza – e também os provocados pela industrialização. “Mãe, fumaça faz mal, né? Então, as nuvens fazem mal?”

Lourenço, meu marido, tem uma estratégia interessante, embora de efetividade questionável. Procura falar pausadamente sobre os conceitos, como se, com a velocidade reduzida, Miguel fosse aprender, meio que por osmose. “Isso faz parte do que chamamos de ci-clo-da-á-gua, filho”. Suspeito que não adiante muito, mas, pelo menos, o menino enriquece o vocabulário.

Além das muitas perguntas, Miguel adora fazer experiências. Leia-se: sair misturando tudo o que vê pela frente para ver o que acontece. A inspiração veio da internet, quando dois youtubers mirins mostraram a mágica da dupla Mentos + Coca-Cola (alô, publicidade infantil!). Desde então, tenho de ficar de olho, porque volta e meia ele começa a misturar amendoim, detergente e suco, para ver o que acontece.

Agora, escrevendo este texto, recordo muito nitidamente do dia no qual eu e uma amiguinha – que dormira na minha casa – acordamos bem cedo para “fazer bruxaria”. Despejamos o conteúdo de várias coisas disponíveis na despensa em uma bacia – sabão em pó, vinagre, orégano e, voilà, levamos o maior esporro da minha mãe.

Na fase de descobertas, são também comuns as perguntas filosóficas/religiosas e, consequentemente, o nosso embaraço. “Onde eu estava antes de nascer?”. Gaguejei e comecei a responder: “Bom, filho, depende do que você acredita…”, mas aí fui socorrida pelo marido. “Você não estava em lugar nenhum, Miguel, você não existia.” Tem horas que adulto complica, não é?

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