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Banheiro é um incrível espaço de vivência familiar

Com duas crianças pequenas em casa, vivo com total falta de privacidade no banheiro. É só precisar ir ao trono para a comitiva se mobilizar

atualizado

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1 de 1 ilustra_coco_familia - Foto: Cícero Lopes/Metrópoles

Quando eu era criança, um dos “eventos” mais legais do dia era a hora em que a minha mãe ia ao banheiro. Ela se sentava no vaso, acendia um cigarro (sim, fumava-se no trono) e abria uma edição da revista Seleções, na vã esperança de poder ter um momento de paz e relaxamento para fazer suas necessidades.

Não era o que acontecia, porque, no instante seguinte, eu corria para lá, me sentava no chão ou no (atualmente quase extinto) bidê, para conversar sobre a vida. Foi ali que eu descobri, por exemplo, o que era a menstruação e como se colocavam os absorventes, entre outros mistérios.

Na minha casa, nunca ninguém trancou a porta do banheiro, seja para tomar banho, fazer o número um ou o dois. Havia apenas um banheiro para todos e, na hora do rush, essa intimidade garantia que ninguém chegasse atrasado para a escola ou para o trabalho. O pudor só foi aparecer muito depois, comigo e com minha irmã adolescentes – e olhe lá. Para falar bem a verdade, entre as mulheres da casa, o compartilhamento segue firme.

Estou contando essa história toda porque hoje, com duas crianças pequenas em casa, é chegada a minha vez de viver a total falta de privacidade no banheiro. É só a mãe resolver que precisa ir ao trono para a comitiva se mobilizar.

E não adianta muito trancar a porta: o mais velho, que já alcança a maçaneta, tenta abrir insistentemente “mãe, eu quéio entrar!”. O pequeno já chega me agarrando pelas pernas. Às vezes, quer mamar ali mesmo, às vezes, fica contente em destroçar o papel higiênico.

“Meu marido não fica imune à presença infantil. Segundo ele, quando a vontade chega, o melhor medida é sair arrebanhando os meninos, dizendo: ‘vamos, vamos que o papai está apertado’. Se não se pode vencê-los, junte-se a eles, não é mesmo?”

É ali, no banheiro, que a gente troca informações sobre nossos corpos, onde está o umbigo do Solano, e o nariz? É onde meu filho mais velho constata que eu não tenho um piu-piu, mas que tenho outra coisa, quer saber quando o peito dele irá crescer para que ele possa amamentar o irmão.

Um dia, quando o pudor fincar suas raízes e eles ficarem com vergonha de mim, isso também vai virar história. Já até prevejo o início, eu entrando no banheiro para pegar alguma coisa e ouvindo “mãããe, que coisa! Dá pra esperar eu terminar?” E eu, bem chata, responderei: tem nada aí que eu já não tenha visto.

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