Após a conversa com Peppa, descobri: “Sempre tem alguém para criticar”

Querida Peppa,

Talvez eu tenha sido muito dura com você no nosso primeiro contato. Você não é tão irritante assim – não mais do que qualquer criança pode ser. Ao julgá-la, no entanto, acabei sendo julgada também, e não apenas pelo fato de te achar chata.

É verdade que houve muita gente solidária ao meu desabafo, mas fui acusada, entre outras coisas, de deixar meu filho mais velho displicentemente na frente da televisão. Mais que isso, Peppa, disseram que eu estava te culpando pelas traquinagens que ele faz. Também ganhei a fama de estressada, afinal, quem iria ver defeitos em uma porquinha tão graciosa?

Peppa, acredite, não acho que você seja responsável por educar meus filhos. Todas as vezes em que recorro aos teus encantos sei muito bem o que vem no pacote. E, para ser sincera, não me incomoda. Até mesmo o seu bordão “papai bobinho!” está longe de me perturbar. Ok, se fosse “mamãe bobinha!” talvez me perturbasse mais.

Mas parece, Peppa, que não basta estarmos tranquilos com as nossas escolhas maternas/paternas. Sempre vai aparecer alguém para criticar, para dizer que é pouco, ou que é muito. Nós, pais e mães – principalmente mães – vivemos isso todos os dias.

Só para você ter uma ideia: basta que nosso filho dê um chilique na rua ou no supermercado para que olhares de reprovação sejam lançados para nós. E você sabe, Peppa, há uma fase em que crianças dão muitos chiliques, umas mais e outras menos, e é natural, faz parte do processo de amadurecimento delas.

Eu mesma, Peppa, já fiz isso – não o chilique, o julgamento. Lembro de ver o filho de uma amiga se esquivar da comida na hora do almoço e pensar “comigo não vai ser assim”. Ha-ha-ha. Os filhos, Peppa, nos surpreendem em suas teimosias, em sua capacidade de nos deixar de calças curtas. Faz parte do nosso trabalho ensinar e negociar, o tempo todo e para sempre.

Por isso, Peppa, caso não tenha ficado claro na minha outra carta: sou grata pela sua existência. Você cumpre seu papel, você distrai meu filho mais velho em alguns momentos preciosos. E eu cumpro o meu, de ser mãe, de dar o melhor de mim, de ser imperfeita nessa missão.

Mas que você é chata, isso é.