Alerta aos pais: você tem uma arma em casa?
Com novo decreto, talvez tenhamos que adotar essa pergunta na hora de deixarmos nossos filhos brincarem nas casas dos amiguinhos
atualizado
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Tanta coisa aconteceu no Brasil desde que o presidente, Jair Bolsonaro, editou decreto sobre a posse de armas que o tema quase ficou esquecido. Esta semana, porém, uma reportagem retomou o assunto, com uma estatística assombrosa: segundo o Ministério da Saúde, a cada três dias, uma criança é internada no país em decorrência de acidente com arma de fogo.
As histórias costumam ser parecidas: os pais estavam limpando e houve um disparo acidental; o menino/menina resolveu mexer na arma e acabou sendo alvejado – ou alvejando um colega. O decreto estabelece que os compradores precisam garantir um local seguro para o instrumento em casas com crianças (um cofre, por exemplo), mas vamos combinar que nem sequer conseguimos fiscalizar barragens neste país, então como vamos checar uma coisa dessas na residência de cada cidadão?
Os defensores da posse e do porte de armas bradam ser um direito das pessoas à autoproteção. Também gostam de usar a tosca comparação com os carros, que, se usados sem habilidade e cautela, podem matar. Verdade, a diferença é que o princípio fundamental dos automóveis não é causar acidentes e mortes, já o das armas…
Isso me leva a imaginar que, em breve, quando meus filhos ampliarem o círculo de amigos, um novo protocolo precisa ser adotado. Além de saber quem é o coleguinha, onde mora e quem são os pais, eu terei de questioná-los a respeito da existência de armas em casa. Criança mexe nas coisas, sobe na cadeira para alcançar a parte de cima do armário, e não há alerta ou ameaça verbal que impeça acidentes com 100% de eficácia.
Com eles mais grandinhos, tampouco ficarei tranquila. Adolescente costuma ter coisa nenhuma na cabeça. Brincadeiras com o instrumento ou mesmo a simples tentativa de levá-lo na mochila, para contar vantagem, dão brecha para situações de perigo. Talvez as escolas precisem incluir o assunto em seus currículos, promover debates sobre isso entre os estudantes.
Impossível também não se lembrar das diversas tragédias em escolas dos Estados Unidos ou mesmo por aqui – como o massacre de Realengo, em 2011, no Rio de Janeiro, e os tiros em um colégio de Goiânia, há pouco mais de um ano. O quão mais suscetíveis a esse tipo de ocorrência não estaremos a partir de agora?
Sem falar na maior chance de utilização de armas por pessoas – principalmente jovens – com ideações suicidas. Em um momento em que, cada vez mais, fala-se de saúde mental e da urgente necessidade de interpelarmos os adolescentes envolvidos em brincadeiras de apologia ao suicídio na internet, é um contrassenso termos um decreto como esse. Que consigamos enfrentar o que está por vir.