Lula ameaçando Deus e todo mundo é presente para Bolsonaro 2022
Bolsonaro sabe, ou deveria saber, que é presidente da República porque soube representar melhor que ninguém o eleitor anti-Lula
atualizado
Compartilhar notícia
O presidente Jair Bolsonaro arrumou uma porção de inimigos, maiores ou menores, mais ou menos genuínos, em seus dez primeiros meses de governo, mas com certeza nenhum deles chegou nem perto do peso político que Lula representa para ele.
Preso, Lula não era um inimigo muito rentável – podia levar umas pancadas de tempos em tempos, mas estava fora do ringue ou pelo menos fora do ringue onde se briga de verdade. Solto, Lula recupera, pelo menos na teoria, o preço de mercado que tem para Bolsonaro como “o grande adversário a ser abatido”. Foi assim na campanha eleitoral. Pode ser de novo agora.
Para quem não gosta, tem medo ou tem raiva de Lula – e, pelo resultado apurado nas últimas eleições, há uns 60 milhões de brasileiros que se sentem assim, ou muito perto disso – pode ser um gesto natural, mais uma vez, olhar para Bolsonaro como o seu principal defensor contra o lulismo, o petismo e todos os etcs. que vêm junto.
O presidente, pelo jeito, não parece disposto a esperar muito para recuperar o seu papel de anti-Lula número 1 do Brasil. “Nós, amantes de paz e da liberdade, somos a maioria”, disse ele no último fim de semana, numa cerimonia de formatura de agentes da Polícia Federal. “Não dê munição ao canalha que momentaneamente está livre, mas carregado de culpa.”
Bolsonaro sabe, ou deveria saber, que é presidente da República porque soube representar melhor que ninguém, para o eleitor brasileiro de 2018, o anti-Lula – o único candidato capaz, enfim, de vencer o PT nas eleições.
Um Lula morto politicamente, preso ou solto, não é boa notícia para ele. Um Lula vivo e ameaçando Deus e todo mundo, mesmo inelegível, é o melhor inimigo que pode esperar para 2022.
* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.