Governo serve para governar, não para ser dono de imóveis
O absurdo fica maior quando se constata a quantidade de gente que não tem onde morar e o governo nem sequer sabe quantas casas tem
atualizado
Compartilhar notícia
O que são R$ 18 milhões nas contas públicas do Brasil? Nada. O que são duas casas (“mansões”, no dialeto burocrático-imobiliário do governo federal) para uma máquina estatal que tem tantos imóveis, mas tantos, que ninguém é capaz de dizer com certeza quantos são, mesmo entre os funcionários pagos para saber essas coisas? Nada, mais uma vez.
Só que esses dois nadas, no Brasil como ele é há 500 anos, podem ser muito – não em volume, mas em significado. Foi essa a soma que o governo acaba de colocar para dentro do seu cofre com a venda de duas ex-residências oficiais em Brasília. Se continuar assim e – obviamente – se acelerar o ritmo das vendas de seus imóveis, não só na Capital mas no resto do país, ainda vai acabar fazendo dinheiro.
Muito mais que isso, o governo tem durante os próximos anos a chance de mostrar que é possível, sim, fazer o que é certo. A União, como se sabe, é a maior proprietária de imóveis do Brasil. Tem algum sentido uma coisa dessas? Governo existe para governar, não para ser dono de casas, prédios e terrenos.
O absurdo fica maior ainda quando se constata a quantidade de gente que não tem onde morar de um lado e, de outro, as fábulas que o erário público paga de aluguel para abrigar suas repartições, empresas estatais e sabe Deus o que mais. Tudo o que for vendido – qualquer coisa – e tiver o seu valor transferido em dinheiro para o Tesouro Nacional está valendo. É esse o caminho. E como todos os caminhos, começa pelo primeiro passo.
Fora o seguinte: uma das “mansões” vendidas em Brasília serviu de moradia, paga por você, para gigantes da nossa vida pública como Antonio Palocci, Gleisi Hoffmann e até, vejam só, Dilma Rousseff, quando era ministra de alguma coisa. Só isso já vale o negócio.
* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.