Golpe? Regime fascista? Nem um nem outro vão acontecer
Também não vai haver golpe militar pelo simples fato de que os militares são os únicos que podem dar o golpe – e eles estão ano governo
atualizado
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Há duas questões de importância mortal para os cientistas políticos, os formadores de opinião e as mesas-redondas de televisão: o possível, talvez quase inevitável, impeachment do presidente da República, e o golpe de Estado (branco, provavelmente) que os “setores de direita” implantados dentro do governo podem dar, mais cedo ou mais tarde, para fechar o Congresso e o Judiciário e instalar um “regime fascista” no Brasil. Quer fazer um favor a você mesmo? Pare de ouvir esse tipo de conversa. Não vai acontecer nem uma coisa nem outra.
Por mais apavorantes que sejam os desencontros entre o presidente Bolsonaro e o Congresso, segundo as descrições que aparecem todos os dias na mídia, ou por mais infames que sejam os seus crimes contra “o decoro” do cargo, uma coleção que vai dos seus bate-bocas com jornalistas a infrações de trânsito guiando uma moto no Guarujá com o capacete fora da posição correta, não haverá nenhum impeachment. Não há, nem vai haver, os três quintos dos votos na Câmara e no Senado indispensáveis para depor o presidente. Ao mesmo tempo, a possibilidade de milhões de brasileiros irem às ruas para pedir o impeachment de Bolsonaro, como foi no caso de Dilma, é igual a três vezes zero. Fim de conversa.
Também não vai haver golpe militar nenhum, pelo simples fato de que os militares, na prática, são os únicos que podem dar um golpe militar, e os militares brasileiros não querem dar um golpe para derrubar o governo – mesmo porque estão dentro do governo e ali vão continuar.
Pode haver empurra-empurra com estes ou aqueles, briga de torcida e barulho das redes sociais. Mas um golpe exige muito mais do que isso – e, de mais a mais, os militares como um todo andam bem satisfeitos com as coisas do jeito que elas estão. Não querem o “exército do Stédile” fechando estrada, comícios onde se queima a bandeira nacional e assembleia de sargentos. Mas não vai acontecer nada disso, vai?
“Golpe fascista” serve, isso sim, para um bando de gente declarar-se “autoexilados políticos” e ir para a Europa ganhar a vida sem trabalhar. O impeachment serve para um bando de políticos fingir que vai ser importantíssimos no futuro – e, por conta disso, ser bem tratado no presente. Fora isso, não há nada.
* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.