Embraer será vendida à Boeing: desconfortável, mas inevitável
A empresa que tantos brasileiros aprenderam a admirar nos últimos anos deixará de ser uma companhia de capital nacional
atualizado
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É desconfortável ver a Embraer, empresa que tantos brasileiros aprenderam a admirar nos últimos anos, deixar de ser uma companhia de capital nacional. O Cade, órgão do governo encarregado de regular as grandes compras e fusões no mundo de negócios brasileiro, acaba de aprovar a sua venda para a Boeing americana.
Não se trata de uma questão de orgulho nacional. A Embraer, desde a sua privatização, tornou-se um dos símbolos mais vivos de um Brasil que pode dar certo pelo trabalho, talento e capacidade de se internacionalizar para competir num mercado que exige, o tempo todo, tecnologia de primeira classe. Não, não é cômodo. Mas também talvez seja inevitável.
A Embraer só fechou seu negócio com a Boeing depois que sua eterna e mais agressiva competidora no ramo de aviões para passageiros, a Bombardier canadense, foi vendida à Airbus europeia.
Que chances teria a Embraer de sobreviver na aviação comercial, sozinha, contra esses monstros? Muito poucas, ou nenhuma – e a solução natural foi vender 80% de suas operações nesta área para a Boeing, que, por sua vez, não queria ver sua maior concorrente, a Airbus, dando as cartas na promissora fabricação de aviões para voos de médio curso.
Era a parte forte da Embraer, desde os tempos do Bandeirante. Não seria mais, nesses novos tempos.
Ganhos
O problema de enfrentar a Airbus e a Bombardier na aviação comercial, agora, passa a ser da Boeing – e não da Embraer.
Em compensação, ela ganha o aporte financeiro, o acesso aos mercados e a monumental capacitação tecnológica da empresa americana para avançar firme em dois setores de excelentes perspectivas: a aviação executiva, onde ela conta com o sucesso mundial do Legacy, e a aviação militar, onde acaba de lançar o Millenium, sucessor do KC-390, um avião de transporte de tropas.
É o maior modelo atualmente construído pela Embraer.
É o que temos. Empresas adultas em países adultos operam assim.
* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.