Apoio aos EUA não traz risco para interesses comerciais do Brasil
Mercado americano é o único no mundo em que houve aumento de vendas brasileiras no ano passado
atualizado
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Entre os argumentos apresentados com a intenção de demostrar que é um erro, por parte do governo, adotar um posicionamento pró-americano no presente conflito no Oriente Médio, um dos mais citados foi o risco para os interesses econômicos nacionais.
O Brasil, como apontado no noticiário, exporta US$ 9 bilhões por ano para o Irã. Se os iranianos ficarem realmente bravos, haveria o perigo de uma queda ou eliminação nessas vendas — o que desaconselharia, obviamente, qualquer postura mais simpática aos Estados Unidos.
É peculiar, numa questão que envolve pontos essenciais em matéria de conduta moral, citar estatísticas de comércio como critério para tomar decisões. Mas digamos que em diplomacia essas coisas são secundárias, e que o único ponto a considerar é o interesse material.
Tudo bem. Nesse caso, já que a ética deve ficar fora de cogitação, será indispensável lidar um pouco com a aritmética — e a aritmética não ajuda a tese pró-Irã. O Brasil vende US$ 9 bilhões anuais para o Irã, mas o total das exportações brasileiras em 2019 deve ter ficado por volta dos US$ 240 bilhões (os números finais ainda não foram divulgados, pois falta o resultado do mês de dezembro).
E então? Poderia se levar em conta, nessa toada, que o Brasil também exporta para os Estados Unidos — cerca de US$ 30 bilhões, com o detalhe de que o mercado americano é o único do mundo em que houve um aumento de vendas brasileiras no ano passado.
Se a conversa ficar em volumes, aliás, vale lembrar que a China importa US$ 60 bilhões por ano do Brasil. Aí sim, estaremos falando de negócio sério. Ninguém está dizendo que os US$ 9 bilhões exportados para o Irã são uma mixaria. Apenas que são US$ 9 bilhões — e que esse número, como qualquer outro número, só significa alguma coisa se for comparado a outros.
* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.