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A mídia não gosta de Bolsonaro. Mas ele não pode reagir como faz

O que pode sair de bom de uma coisa dessas? Nada. Nem os jornalistas nem Bolsonaro estão dando a mínima para o interesse do público

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Populares e o Presidente Jair Bolsonaro na portaria do palacio do Alvorada
1 de 1 Populares e o Presidente Jair Bolsonaro na portaria do palacio do Alvorada - Foto: Michael Melo/Metrópoles

O presidente Jair Bolsonaro está sendo acusado, com som e fúria, de ofender com expressões vulgares e palavreado de baixo nível um grupo de jornalistas que o entrevistavam – ou melhor, conduziam um interrogatório sobre suas intermináveis polêmicas, que vão do filho-senador ao infinito.

Não é a primeira vez. Não deve ser a última, pelo alinhamento geral dos planetas. Pode uma coisa dessas? Não pode. É simples, se você começar pela verdade – e ficar nela. A primeira verdade é a seguinte: a mídia brasileira em peso, dos donos de veículos à maioria dos jornalistas que trabalham neles, detesta o presidente. O resultado mais óbvio disso, como até uma criança de 10 anos pode ver, é que tratam o homem muito mal.

A segunda verdade é que Bolsonaro não pode reagir a essa situação do jeito que reage. Não pode e pronto. Ele é o presidente do raio da República Federativa do Brasil. E quem está nessa função tem de se comportar como um homem capaz de segurar os nervos, ficar frio e usar mais a cabeça do que o fígado.

O presidente Bolsonaro, como já lhe disseram, ou alguém deveria ter dito, não pode continuar se enrolando com os jornalistas desse jeito. Há uma solução extremamente simples e eficaz para resolver a história de uma vez por todas: Bolsonaro não deve mais, até o fim do seu governo, falar com jornalistas nessas situações de arquibancada de futebol, com a torcida do time adversário de um lado e ele, o presidente da República, sozinho de outro.

O que pode sair de bom de uma coisa dessas? Nada. Nem os jornalistas nem Bolsonaro estão dando a mínima para o interesse do público, que é ser informado. Os primeiros não estão lá cumprindo “o dever de informar”, etc. – estão lá para fazer o presidente dizer alguma barbaridade que possa virar manchete. O segundo está lá para “ser autêntico” e fazer feliz a sua plateia de devotos. O resto – “imparcialidade profissional” de um lado e “falar as verdades” de outro – é pura hipocrisia.

Se parasse de se meter nessas entrevistas deliberadamente caóticas, o presidente resolveria metade dos seus problemas com a imprensa. Ele pode, perfeitamente, receber os jornalistas para entrevistas organizadas, em intervalos regulares e marcados no calendário, com todo mundo sentado, uma pergunta por vez, regras para os dois lados – e tudo o mais que é conhecido no resto do mundo, há décadas, para colocar ordem na comunicação entre autoridade pública e imprensa.

É simples, não é? Por isso mesmo ninguém pensa em fazer nada disso.

Os jornalistas querem um ambiente de gritaria que vai render alguma paulada em Bolsonaro. Ele, por sua vez, quer a mesma coisa, para manter alto a moral da sua tropa. Se um não quer, dois não fazem, diz o provérbio. No caso, os dois não querem.

É um cálculo duplamente equivocado. A mídia não ganha público. Bolsonaro não ganha nenhum novo adepto além dos que já tem. Está apenas falando aos convertidos.

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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