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Coronavírus: medidas não podem cair nas costas dos trabalhadores

É preciso garantir que os trabalhadores não serão, na crise, os perdedores, com redução de salários e sem contrapartida das grandes empresas

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Não consigo entender como se pode ficar preso a uma ilusão num momento como o que estamos vivendo. Falo das finanças públicas, da assim chamada responsabilidade fiscal, como se fosse possível e não perverso, além de totalmente impossível na prática, manter uma política de corte de gastos e investimentos. E ainda aprovar uma medida como a PEC Emergencial, que corta salários, reduz o tempo de serviço e demite funcionários públicos, quando o país literalmente está parando. Milhões poderão ficar sem empregos e salários.

No entanto, jornais como O Globo e o próprio ministro da Economia ainda na semana passada insistiam nessa miragem. Com uma imprensa assim e um ministro como Guedes estaríamos perdidos não fosse a dura realidade a impulsionar em outra direção, essa é a triste conclusão.

A vida, infelizmente no caso, se impõe e o país tem que encarar a realidade e imediatamente socorrer as famílias e as empresas, começando pelos mais necessitados e vulneráveis, pelos desempregados, que conhecemos e bem. Basta manter e ampliar o Bolsa Família e a Previdência, o salário desemprego, o Benefício de Prestação Continuada; no limite, implantar a renda mínima no país já. Fazer o que devíamos ter feito todo tempo, os recursos necessários para a Saúde, consolidar o SUS, uma conquista de nosso povo, como a educação pública e gratuita.

Agora a sociedade começa a perceber como é vital, indispensável em nossas vidas, um sistema público e universal de saúde, como o Brasil estaria protegido se o SUS recebesse os recursos e a gestão necessários para seu funcionamento como um serviço público. Se programas como o Mais Médicos, com a inestimável colaboração dos médicos cubanos, não tivesse sido desmontado por disputa política e ignorância ideológica.

Também agora podemos ver como e frágil e equivocado nosso sistema de saúde privado, com seus planos que não têm como suportar os custos de uma pandemia como o coronavírus. Que fique a lição para o futuro.

Também é preciso socorrer as empresas, começando pelas micro, pequenas e médias, não pelos cartéis e monopólios, pelos bancos. As medidas anticíclicas têm que estar voltadas ao tecido econômico e social do país, os trabalhadores e os pequenos empresários, os autônomos, os que estão na economia informal.

As grandes empresas, aprendendo também com nossos próprios erros, têm que dar contrapartidas para o apoio e a ajuda que receberão do poder público. Não poderão simplesmente demitir trabalhadores e ponto final, fazer caixa, tesouraria, com os recursos aplicando ou colocando em reservas, ou mesmo distribuindo bônus e dividendos fantásticos para seus acionistas, fazendo jogo da recompra de ações.

É preciso assegurar que os trabalhadores não serão, na crise, os perdedores, com redução de salários e sem a contrapartida das grandes empresas. Propostas cínicas de redução de salário e horas trabalhadas, como feitas pelo governo, são parte da perversidade ou ilusão que muito convém nesse momento trágico e dramático. Vamos cortar pela metade os lucros, dividendos, royalties, os aluguéis, as rendas?

Todas as medidas de um plano de contingência têm que contemplar dois princípios: a solidariedade e a distribuição dos ônus da crise proporcionalmente à renda e riqueza de cada um. Caso contrário, não haverá união e cooperação de todo Brasil e de seu povo para enfrentar e vencer o coronavírus, hoje nosso único objetivo.

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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