Vídeo: após consulta, médico do DF emociona ex-pianista tetraplégica ao tocar instrumento
Com 70 anos, a idosa não pode mais manusear o piano como antigamente por complicações de uma esclerose múltipla
atualizado
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Um médico brasiliense decidiu homenagear a própria paciente após descobrir a paixão dela pelo piano clássico. Com 29 anos, o clínico-geral Mateus Felix Martins pediu permissão aos familiares de Marisa Kaufmann para realizar um recital improvisado com o instrumento, localizado em posição de destaque na principal sala do apartamento da família em Brasília. A homenagem viralizou na internet.
Com 70 anos, a idosa não pode mais manusear o piano como antigamente por complicações de uma esclerose múltipla, diagnosticada há poucos anos e que a deixou tetraplégica. O avanço da doença ocorreu após a perda do marido, acometido por um acidente vascular cerebral.
Formado pela Universidade de Brasília (UnB), o médico conta que, após ter sido acionado para acompanhar o tratamento domiciliar da paciente, percebeu o piano de meia cauda na casa. O clínico-geral integra a equipe da Ágape Assistência Domiciliar em Saúde, uma empresa brasiliense especializada em home care. Por meio do plano de saúde, foi direcionado a acompanhar a paciente.
“Eu sempre entrava pela cozinha do apartamento e seguia direto para o quarto onde ela ficava. Certo dia, passei pela sala e vi o piano. Fiquei muito animado e comentei com ela após nossas consultas de rotina. No final do atendimento, acabei revelando que eu tive formação no instrumento e, de forma muito cuidadosa, me ofereci a tocar”, disse Mateus ao Metrópoles.
A cautela, justificou o médico, foi pela forte ligação de Marisa com o instrumento musical. “Percebi fotos dela e da família ao lado do piano. Realmente, fiquei inseguro se o que eu imaginei como homenagem acabasse se transformando em uma dor, já que ela havia perdido os movimentos em decorrência da esclerose”, ponderou. Contudo, o resultado foi emocionante.
Com formação clássica em piano ainda na juventude, o médico explicou que não tem a intenção de realizar musicoterapia na paciente. “Na verdade, não foi um tratamento, pensado de antemão. Eu gosto muito do piano, sempre gostei da musicoterapia, mas não é minha área de atuação. Tenho feito visitas desde janeiro a pacientes que estão em internação domiciliar e isso já ocorreu em outras casas”, disse.
Veja o vídeo:
Emoção
Um dos três filhos de Marisa, o advogado Rodrigo Kaufmann, 43, lembra que a mãe dedicou boa parte da vida ao piano, principalmente em momentos reservados para o falecido pai. “O piano, em especial, foi uma das maiores perdas para minha mãe depois da doença. Ela se emocionou muito, ficou extremamente feliz. A música clássica, em especial, gerou uma felicidade enorme nela e fez com que ela ser realizasse completamente, porque lembrou de quando ela a nossa família”, contou.
Por conta de limitação de movimento, a paciente é acompanhada por cuidadores, enfermeiros e médicos, mas nenhum, conforme avaliou Rodrigo, com a sensibilidade do atual clínico-geral.
“Sempre foi uma dificuldade encontrar um médico que atenda em casa com um cuidado especial, mas o doutor Mateus apareceu e sempre foi muito próximo, sempre se envolveu no bem-estar da minha mãe. Foi uma felicidade tê-lo encontrado, porque as visitas dele sempre são muito iluminadas. A gente percebe que isso é um traço da personalidade e ter a sensibilidade de compreender a dificuldade de se levar uma vida com tantas limitações”, disse Rodrigo.
Embora o médico descarte que a música integre o tratamento de Marisa, o filho acredita que as apresentações têm ajudado na melhora do quadro clínico da paciente.
“Ela se emociona muito, fica extremamente feliz. A música clássica, em especial, gera uma felicidade enorme nela, porque se lembra de quando ela tocava para o meu pai, para a gente. Quem toca piano toca também o coração das pessoas. As visitas passaram a ter dupla finalidade: além da questão da saúde, há agora uma conexão, essa sensibilidade com a arte, que ajuda a criar um laço especial”, acredita.
Rodrigo lembra que a mãe era acometida por infecções constantes, o que a obrigava a ter internações recorrentes em unidades de saúde. “Depois da chegada do Mateus, isso acabou. Eu tenho certeza que esse lado sensível dele também ajuda a melhorar a saúde dela. No estado em que minha mãe se encontra, a música ajuda a dar esse conforto. Espero que ele continue com essas visitas, porque é sempre uma felicidade. Dá uma leveza e percebemos como ela tem reagido bem às homenagens”, finalizou.