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Veículo de comunicação on-line fecha as portas e dá calote em 20 jornalistas

De SP, Diário Popular pretendia expandir a atuação para o DF, mas sequências de atraso fizeram com que profissionais cobrassem direitos

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Redação Jornal
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A chance de integrar a equipe de um veículo de comunicação que prometia ser “um dos maiores do Distrito Federal” levou pelo menos 20 profissionais, grande parte jornalistas, a sofrer calote de no mínimo dois meses de trabalho. Alguns realizaram mudanças de outras cidades para Brasília com o intuito de aderir ao novo jornal.

A proposta era de estrear a versão local do paulista Diário Popular IPTV no fim de julho, contudo as constantes faltas de pagamento pelos serviços prestados acabaram esvaziando o objetivo do projeto empresarial. O Metrópoles ouviu pelo menos cinco pessoas que relataram estar sem o pagamento e, além disso, com dívidas criadas após o ingresso na empreitada.

O grupo pertence ao empresário Ronaldo Batista Santos, de São Paulo, que convocou uma equipe para criar um site com vídeos em streaming, podcasts, colunas escritas, matérias e reportagens. A ideia seria avançar para rádio e, em seguida, para a TV a cabo. Apesar da dedicação desde o mês de maio, nada saiu do papel. Há a promessa de quitação das dívidas na próxima terça-feira (27/7).

Com 64 anos, o jornalista Fausto José lembra com detalhes de quando teve o nome referendado para integrar o expediente do periódico, embora se considere “com idade avançada”.

“Eu sou o mais velho do grupo, imagine! E fiquei completamente encantado. E por quê? Aos 64 anos, sendo negro e ter sido convidado para um grupo que me recepcionou com tanto carinho e respeito… Há uma concepção natural de que você está fora do mercado, seja pela idade ou pela cor. Mas por um momento pensei em estar de volta, só que não foi bem assim”, inicia.

Morador do Guará, o comunicador conta que, a princípio, seria responsável por apresentar noticiários diários, além de um programa semanal. Empolgado com a possibilidade, trabalhou pouco mais da metade de maio, o mês de junho, investiu em equipamentos (como smartphone e notebook modernos), mas não viu recompensa. Apenas de serviços prestados, Fausto calcula pendência de cerca de R$ 16 mil.

“Soube que o projeto não iria para frente há umas três ou quatro semanas. Foi uma coisa que deixou a gente desnorteado. Era um projeto fantástico e poderia concorrer com outros grandes grupos de comunicação, favorecendo o mercado. Fiquei absolutamente decepcionado. Era um negócio que estava aparentemente muito bem estruturado. No dia em que ouvi a notícia, fiquei em choque”, relata.

Com mais de 40 anos no mercado de teatro e cinema, o jornalista, embora se considere “cobra criada”, reconhece que se deixou levar pela possibilidade de voltar ao mundo das notícias.

“Você fica tão encantando com a consistência da ideia que não pensa duas vezes. Era uma equipe muito boa, muitos com idade para serem meus filhos, e, no entanto, do nada se interrompe tudo e estacionam um projeto que seria tão importante para a população do DF, no sentido de utilidade pública. Me desculpe se me emociono, mas não quero mais nem saber disso. Fiquei atônito, sem chão”, desabafa.

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Contratação foi na modalidade PJ (Pessoa Jurídica)
Após os atrasos, um termo de rescisão contratual foi liberado, sem o pagamento
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Print realizado durante a apresentação do projeto

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Contratação foi na modalidade PJ (Pessoa Jurídica)

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Após os atrasos, um termo de rescisão contratual foi liberado, sem o pagamento

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Desconfiança

Sem a mesma bagagem e com a metade da idade do ex-colega, o comunicador Josuel Júnior foi confirmado no time, após ser seduzido pela oportunidade de aumentar a potência da própria voz, o que escoou pelo ralo. A desconfiança ocorreu logo no primeiro atraso de pagamento, ainda em junho. Artista com ativismo nas pautas culturais, ele foi contratado para falar sobre a arte e cultura de Samambaia e de outras cidades.

“A gente fez uma reunião on-line longa, quando cada um se apresentou, e que eles tinham adquirido a marca, como se fosse a Manchete que virou Rede TV!. Então, ele [Ronaldo] disse que teria o veículo em outros estados brasileiros. A gente viu com certa desconfiança, mas estávamos com a esperança de que seria certo”, relembra.

Mesmo com as contas em atraso, Júnior manteve o expediente e a produção de conteúdos para o portal a ser lançado, conforme relatou para a reportagem. “A promessa foi muito sedutora, porque iria valorizar justamente as qualidades profissionais que cada um tem. A minha contribuição seria sobre a cultura de Samambaia. Fizemos uma série de projetos-pilotos, e tudo foi em vão. O medo da exposição fez com que muita gente se calasse”, avalia.

O medo ao que o artista comunitário se refere é pelo fato de outros nomes da área de comunicação entenderem que o episódio possa prejudicar possível seleção futura de trabalho.

“A maioria dos jornalistas estava ainda ou está em outros empregos e aceitaram como possibilidade de aumentar a renda. Não foi o que aconteceu. Alguns até receberam parte do valor devido, mas a maior parte não viu a cor do pagamento”, conta outro entrevistado, mas que preferiu o anonimato.

Com experiência no mundo da comunicação, o profissional diz que houve problema desde o início do contrato, quando a data estipulada para o início dos trabalhos teve de ser adiada porque um dos diretores também contratados foi infectado pela Covid-19. Trata-se do jornalista Gustavo Fogaça, mais conhecido como Guffo, que tem intermediado as negociações com o dono do projeto a fim de resolver os débitos pendentes.

“Os contratos eram de dois anos a partir de 1º de maio, mas com o diagnóstico da doença, adiaram para iniciar no dia 12. Quando chegou o fim daquele mês, emitimos notas fiscais referentes aos dias trabalhados. Pelo acordo, era para ele ter quitado na primeira semana de junho, mas chegou no dia 10 e nada. Com a confusão, ele fez um escalonamento de pagamento e foi pagando aos poucos. Mas há um grupo que ainda não recebeu essa primeira nota.”

Inadimplência

No dia 17 de julho, os trabalhos foram suspensos oficialmente pela inadimplência, conforme relatam os envolvidos. Naquele momento, Marcello Nóbrega, que ocupava a direção administrativa local do Diário Popular, já havia anunciado que deixaria o empreendimento.

O gestor é conhecido da política local e chegou a ser alvo de uma operação da Polícia Civil (PCDF) por suposto tráfico de influência durante a gestão do governador Rodrigo Rollemberg (PSB). A Justiça decidiu encerrar o inquérito por falta de provas.

“A estreia seria no dia 25 de julho. Quando marcaram a reunião, os trabalhos pararam porque alguns colegas não haviam recebido. Então, emiti nota fiscal na minha empresa, que deveria ter sido paga até o início deste mês. Cansei de esperar. A impressão que tenho é de que eu teria sido convidado para uma festa e, de repente, os anfitriões brigaram. Agora, estamos disputando por um dos poucos botes para nos salvar.”

Procurado pelo Metrópoles, o empresário Ronaldo Batista Santos afirmou que precisaria ser breve pelo fato de estar chegando a um hospital, onde realizaria procedimento cirúrgico. Com a insistência da reportagem, o investidor aceitou responder sobre a possível inadimplência.

“Acho que questão trabalhista ou prestação de serviço, todas têm datas de contratos já marcados para pagamentos, como é de praxe”, defendeu-se. “Mas se acha que é matéria, fique à vontade a fazer, como nós também podemos fazer o mesmo. Não temos problemas com isto, mais (sic) agora vou ter mesmo de parar de escrever.”

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