Tamiflu: Saúde do DF usará remédio para H1N1 em pacientes com sintomas de Covid-19
Embora CRM-DF informe que medicamento não tem efetividade comprovada, pasta decidiu seguir nova recomendação do Ministério da Saúde
atualizado
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Usado para minimizar efeitos causados pelo vírus da gripe, o fosfato de oseltamivir, popularmente conhecido como Tamiflu, será usado pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal em pacientes com sintomas relacionados ao novo coronavírus.
A decisão local abraça nota técnica do Ministério da Saúde que dispõe sobre a indicação, em caráter excepcional, do uso do remédio durante a pandemia de Covid-19. O Conselho Regional de Medicina (CRM-DF) afirma que não há comprovações científicas de que a substância seja eficiente para o tratamento da doença (veja abaixo).
Documento exclusivo obtido pelo Metrópoles revela que a pasta local passou a recomendar o uso do fármaco, por 48 horas, em três situações específicas: para todos os pacientes com síndrome respiratória aguda grave (SRAG), também em casos de síndrome gripal (SG) envolvendo grávidas de qualquer idade gestacional, enfermos com doença renal crônica, problemas no fígado, com quadro autoimune e obesidade mórbida.
Adultos maiores de 60 anos que tenham sintomas de Covid-19 também poderão ser contemplados com o antiviral, conforme a disponibilidade de tratamento.
“A partir do avanço da pandemia do novo coronavírus, observou-se um aumento exponencial no consumo do fosfato de oseltamivir, com consequente aumento da demanda mundial. Esse fato tem gerado escassez do antiviral no mercado, fazendo-se necessária a priorização do tratamento para determinados grupos com condições ou fatores de risco para influenza”, registra o informe.
O documento é datado de 21 de maio e é mais uma investida da pasta para tentar minimizar os sintomas severos causados pela Covid-19, principalmente no sistema respiratório.
“Diante do exposto, e conforme orientação do Ministério da Saúde, recomendamos a priorização do uso de Oseltamivir nas primeiras 48 horas do início dos sintomas”, reforça o texto ao citar os integrantes do classificado grupo de risco.
O ofício-circular é assinado pela gerente do Componente Básico da Assistência Farmacêutica, Patrícia Queiroz, e também por Samara Carneiro Furtado, diretora de Assistência Farmacêutica; Camila Carloni Gaspar, coordenadora de Atenção Especializada à Saúde; e, ainda, pelo subsecretário de Atenção Integral à Saúde, Luciano Moresco Agrizzi.
Veja o documento:
Critérios
De acordo com a infectologista Joana D’
“É claro que o melhor contra o H1N1 é a vacina, mas o fármaco acaba sendo uma opção de tentar reduzir o quadro grave, antes da confirmação para coronavírus, já que o resultado do exame completo só ocorre até 48 horas depois da coleta de material. Até lá, sem risco de efeitos colaterais, é uma tentativa de conter o agravamento do caso, mas a indicação não se pode comparar com a cloroquina”, disse.
Outras unidades da Federação, como o Ceará, também aderiram à indicação do Ministério da Saúde. Contudo, a secretaria estadual de Saúde frisa que “o uso da medicação não pode ser feito de maneira indiscriminada e deve seguir os novos critérios de notificação e indicação para exames e diagnóstico de Covid-19”.
De acordo com a bula do Tamiflu, o remédio “reduz a proliferação (multiplicação) dos vírus da gripe, influenza A e B, pela inibição da liberação de vírus de células já infectadas, inibição da entrada do vírus em células ainda não infectadas e inibição da propagação do vírus no organismo. Com isso, há redução da duração dos sinais e sintomas da gripe, da gravidade da doença e da incidência de complicações associadas à gripe”, diz.
A companhia suíça Roche é a fabricante do antiviral, que se mostrou eficiente durante o surto de gripe suína no México, Estados Unidos, Canadá, Europa e Oceania em 2009. Também foi usado no decorrer dos surtos da apelidada gripe aviária.
CRM desaconselha uso
Procurado pela reportagem, o Conselho Regional de Medicina (CRM-DF) declarou que “o medicamento Tamiflu não tem efetividade comprovada para a Covid-19”.
“O Tamiflu faz parte do protocolo para qualquer Síndrome Respiratória Aguda Grave e pode ser utilizado no início do tratamento até saírem os resultados dos exames. Se o paciente testar positivo para Covid-19, o medicamento deve ser suspenso”, afirmou.
Também acionada desde a última sexta-feira (29/05), a Secretaria de Saúde disse, nesta semana, que não comenta “demandas de documentos vazados”.
Cloroquina
Embora sem comprovação científica sobre os benefícios para um quadro de Covid-19, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal manteve o protocolo de uso da hidroxicloquina e cloroquina contra o novo coronavírus na capital do país, apesar da decisão do governo federal de liberar os medicamentos já na fase inicial do tratamento.
De acordo com a pasta, a portaria local publicada em 17 de abril continua valendo para os pacientes internados na rede pública. “As orientações levam em conta a situação de emergência em saúde pública, diante da declaração de pandemia como uma possibilidade de terapia adjuvante no tratamento”, diz, em nota.