Saúde: Mandetta associa ataque hacker a movimento antivac bolsonarista
Em entrevista, ex-ministro isentou presidente, mas disse que discurso contra a vacina infla a ala mais radical que quer “agradar” Bolsonaro
atualizado
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O ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta (DEM) acredita haver ligação entre o recente ataque hacker ao banco de dados do Ministério da Saúde e o movimento liderado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) contra o uso de vacinas da Covid-19.
Um dos nomes ventilados a integrar a chapa para disputar o Palácio do Planalto no ano que vem, o ex-deputado federal afirmou que a politização do tema é “perigosa” e pode levar a esse tipo de consequência.
“Esse tipo de discurso é tão perigoso que essa semana teve lá um ataque de hacker no site do Ministério da Saúde para sequestrar os dados sobre a vacina. Vamos deixar isso bem claro: isso é terrorismo sanitário. Porque, se você perder toda a massa vacinal do seu registro, você não tem como gerar uma política pública eficaz, você aumenta a chance da doença, e esse terrorismo é feito porque algum hacker, achando que estava alegrando o presidente. Foi lá e falou: ‘Vou fazer esse movimento aqui que é pra minar esse esforço para aqueles que querem o mínimo, que é ter um documento sobre o seu histórico vacinal”, disse.
Bolsonaro e Trump
Mandetta lembrou da invação do Capitólio, nos Estados Unidos, ainda no fim da gestão do ex-presidente americano Donald Trump e também a recente agressão a um jornalista da TV Globo, na Bahia, por um segurança de Bolsonaro.
“Quando os americanos invadiram aquele Capitólio, eles invadiram porque eles acharam que eles estavam fazendo justiça em nome do Trump. Quando os seguranças do presidente e a população atacam o jornalista, como atacou covardemente o jornalista da Rede Globo, agora na Bahia, eles acham que eles tão indo lá bater na Rede Globo, porque eles estão fazendo um serviço que agrada o presidente. Palavras e incitação ao ódio, incitação contra as instituições com alegações de insinuações contra as pessoas, violência gera violência e é o que a gente está vendo[…]”.
“Então, esses negacionistas e essa questão do passaporte da vacina é mais um capítulo da má condução de uma nação. Você não administra só para um grupo de radicais, você tem de administrar [o país] para todos. Nós somos 215 milhões de habitantes nesse barco chamado Brasil. E todos os dias eles querem fazer um buraco no casco do navio e falar: ‘Só vai poder salvar vida dos meus, o resto, morra’. Não. É assim que funciona, isso não vai acabar bem. Ou o país se reencontra, passa por eleições e as urnas dão um rumo pra esse país, ou a gente vai pagar um muito alto”, afirmou.
Ala radical
Sobre os ataques que resultaram na perda dos dados sobre a cobertura vacinal no Brasil, Mandetta não acusou diretamente o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mas afirmou que as constantes sinalizações do titular do Palácio do Planalto alimentam uma ala mais radical de apoiadores.
“Pode ser que ele não tenha mandado ninguém fazer, mas a pessoa, às vezes, tira e fala assim: ‘Cara, quer saber? Eu vou tirar esse site do ar. Eu sei fazer, eu vou entrar aqui, eu tenho os hackers aqui e vou tirar e, depois, eu boto aí que foi um grupo de esquerda, de direita ou de além-mar’. Mas o que eu quero dizer é que as palavras mobilizam as emoções das pessoas. As pessoas estão confusas, as pessoas estão assustadas, as pessoas já não sabem em quem acreditar, é o dia inteiro olhando essa internet só vendo notícias a favor de um e deturpando a verdade. Elas estão sendo manipulados e virando robôs. E essa robozada é capaz de fazer muita coisa pensando que está ajudando A ou B. Porque nós não temos a moderação. Nós não temos as pessoas calmas sentadas nos seus cargos e falando a mesma língua, acalmando uma nação que está machucada, que está sofrida”, continuou.
O ex-ministro Henrique Mandetta foi entrevistado pela jornalista Patrícia Canderón, da Jovem Pan Fortaleza. A conversa só será veiculada na manhã do próximo sábado (25/12) pelos canais da emissora. A gravação ocorreu na última semana.