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PMDF retira porte de arma de policial gay na véspera de casamento do militar

Decisão é de sindicância aberta após militar ter publicado vídeo sobre a homossexualidade na corporação e aparecer uma pistola ao fundo

atualizado

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Reprodução/Instagram
PM Henrique Harrison
1 de 1 PM Henrique Harrison - Foto: Reprodução/Instagram

Um integrante da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) teve a permissão de usar arma de fogo suspensa, nessa terça-feira (9/2), após publicar um vídeo no canal dele no YouTube, no qual comenta questões sobre como ingressar nas carreiras de segurança e como a homossexualidade é tratada em ambientes militares.

Na gravação, publicada em abril do ano passado, um objeto semelhante a uma pistola aparece sobre a bancada de um móvel localizado no quarto do soldado Henrique Harrison.

O militar é gay assumido e foi notificado sobre a decisão na véspera do casamento civil com o companheiro, Jadson Lima. Os dois estão juntos há cinco meses. A cerimônia está marcada para ocorrer nesta quarta-feira (10/2), no Cartório Colorado (Sobradinho). O armamento já foi devolvido para o Comando-Geral da PM.

A regra está expressa no Art. 3º da Portaria da sindicância instaurada para apurar a conduta de “portar arma de fogo institucional em atividade estranha ao serviço policial militar”, informa a determinação assinada pelo 27º BPM. Quem assina o documento é o capitão Georgio Lemos Oliveira, encarregado pela apuração dos fatos.

“Postei um vídeo para incentivar pessoas a passarem pela jornada que passei. Nesse vídeo, viram que havia uma arma na bancada da minha casa e alegaram isso para fazer a acusação. Ninguém perguntou se era a minha arma ou um simulacro, por exemplo. Mas no caso da pessoa que me ameaçou, por exemplo, ela não perdeu o porte de arma. Policiais o tempo todo postam vídeos limpando a arma, manuseando-as em casa, e nenhum é punido. Por que apenas eu tenho de ser punido?”, disse ao Metrópoles.

Para o soldado, a sexualidade pode ter sido o motivador para a abertura do processo de sindicância interna, mesmo após ter sido apontado como policial destaque do batalhão em que está lotado.

“Eu sei que é uma perseguição por causa da minha orientação sexual, e eu recebo isso na véspera do meu casamento. Eu amo estar na Polícia Militar, posto fotos em todos os lugares mostrando como sou feliz na profissão que escolhi, mas realmente é muito difícil trabalhar num lugar em que muitas pessoas estejam tentando te colocar para correr. Eu não faço nada de errado nas minhas ocorrências, fui policial destaque no batalhão em que trabalho. Estão buscando qualquer coisa para me punir”, desabafa Harrison.

Veja o vídeo:

Beijo gay

Harrison já foi alvo de ataques internos após ter publicado uma foto beijando o antigo namorado, durante a formatura de ingresso na corporação (veja abaixo).

“Nunca me senti tão mal na minha vida desde a foto da formatura, porque estou sendo atacado, e não é por ninguém que está fora. Me parece que é de dentro do sistema para o qual trabalho, eu saí destruído. Entregar minha arma, meu instrumento de trabalho… Eu vou para casa fardado, então qualquer pessoa pode me abordar e acabar tirando a minha vida por causa de uma decisão, sem nem que eu tenha sido ouvido”, reclama.

“Pelo menos, no Batalhão em que trabalho, que é o da Asa Sul, tenho ótimos comandantes, e que me apoiam o tempo todo, me estenderam a mão e acreditam no meu trabalho. Mas é bom deixar registrado que falo tudo isso como Henrique, e não como soldado Harrison, até porque não posso usar o nome da corporação. Falo em nome de uma pessoa que está sendo injustiçada pelo sistema atual”, frisa.

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Na gravação, a arma de Harrison aparece ao fundo
Harrison já sofreu ataques após ter publicado foto com beijo no antigo companheiro durante a formatura de praças
Henrique Harrison, da PMDF
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O militar tem um canal no YouTube, no qual publica vídeos para orientar seguidores sobre concursos da PM

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Na gravação, a arma de Harrison aparece ao fundo

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Harrison já sofreu ataques após ter publicado foto com beijo no antigo companheiro durante a formatura de praças

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Henrique Harrison, da PMDF

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Dificuldades

No vídeo objeto da sindicância, Harrison conta que não teve dificuldade de assumir internamente a própria orientação sexual. Ele relata na gravação que, durante o Curso de Formação de Praças (CFP), afirmou ter trabalhado como DJ de balada LGBTQ e ser homossexual.

“Desde que entrei na Polícia Militar, eu sabia que não seria um processo fácil, mas resolvi encarar. No curso de formação, já recebia uma carga mais pesada pelo fato de eu ser gay e, assim que formado, aconteceu a situação toda com a foto da formatura. Não fui atrás dos meios penais e cíveis para punir essas pessoas”, arrepende-se.

Formatura

Em janeiro de 2020, Harrison publicou uma foto beijando o namorado após a formatura do curso de praças. Na mesma imagem, um casal lésbico também aparece comemorando com o gesto de afeto.

Um áudio atribuído a um coronel da PMDF foi compartilhado, na oportunidade, com críticas aos policiais que beijaram os companheiros do mesmo sexo trajando as fardas da corporação. “A porção terminal do intestino é deles e eles fazem o que quiserem”, disparou o oficial.

Após a repercussão do caso e os ataques nas redes sociais, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) abriu investigação para apuração das declarações, consideradas homofóbicas, por meio do Núcleo de Enfrentamento à Discriminação, e adoção das medidas cabíveis.

Como o caso ganhou a imprensa nacional, o policial ficou impedido de dar declarações para os jornalistas. “Mesmo que eu esteja ‘calado’, não se calem”, escreveu o militar em sua conta no Instagram.

 

O que diz a PM

Em nota, a PMDF informou que, “em relação ao soldado Harrison, este teve a cautela do armamento da corporação suspensa por determinação da Corregedoria da PMDF, por contrariar o previsto no Termo de Responsabilidade que ele mesmo assinou quando da transferência da guarda do armamento”.

Além disso, a corporação alegou que “o encarregado do procedimento apuratório (sindicância) cumpriu o determinado na portaria de instauração da sindicância tão logo se mostrou possível, não havendo qualquer relação com as atividades da vida privada do soldado Harrison, que não teve o seu porte de arma suspenso. Portanto, ele poderá portar uma arma de fogo de sua propriedade normalmente, bem como armamentos da corporação durante o período de serviço. A sindicância instaurada diz respeito tão somente à exposição indevida do armamento em um vídeo público em seu perfil pessoal”.

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