“Muita gente inexperiente”, diz Kátia Abreu sobre ministros no Planalto
Senadora foi sabatinada em plataforma digital e disse ter “preocupação” com indicação de Crivella para embaixada brasileira na África do Sul
atualizado
Compartilhar notícia
A senadora Kátia Abreu (PP-TO) criticou, na noite desta quinta-feira (10/6), a composição do ministério instalado nas dependências do Palácio do Planalto ao classificar como “inexperientes” os principais nomes escolhidos pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para chefiar as pastas de relacionamento político do Executivo nacional.
Sem citar diretamente os nomes, a congressista atribuiu à inabilidade desses colaboradores a instalação da atual Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, que investiga no Senado Federal uma possível omissão de autoridades nacionais, estaduais e municipais durante a atual crise sanitária no Brasil.
“A gente percebe ali no Palácio do Planalto, a gente brinca muito, é que o terceiro andar – que toca tudo – tem muita pouca experiência. O terceiro andar é a Casa Civil [ministro Luiz Eduardo Ramos], a Secretaria de Governo [ministra Flávia Arruda], são essas pessoas que trabalham com a política. Então, é muita gente inexperiente, apesar do Bolsonaro ter sido deputado por muitos anos. Na hora que você chega na cadeira, que tem que tomar decisão e tem a caneta na mão, aí as coisas mudam muito, né? Precisa de gente com muita experiência”, disse a congressista.
Kátia Abreu também demonstrou insatisfação com a postura de Bolsonaro no comando da pandemia da Covid-19 no país e avaliou que, embora tenha conseguido o apoio da maioria do Congresso, não consegue ter os posicionamentos controversos apoiados pela base governista.
“Eu acho que nós conseguimos mostrar para o mundo que o comportamento do Bolsonaro, as ideias do Bolsonaro, não eram ideias generalizadas, não eram ideias de todos os brasileiros, principalmente no Congresso Nacional. Ele tem uma base de apoio confortável, mas ninguém concorda com muitas das loucuras, por conveniência ou não. Por oportunismo ou oportunidade, às vezes, as pessoas cedem. No que diz respeito a essas controvérsias, eu não vejo ninguém concordando com ele, nem na Câmara, nem no Senado”.
Desgaste
Segundo a senadora, a justificativa é que um governo realmente forte teria segurado a aprovação da CPI, o que evitaria os atuais desgastes políticos do principal mandatário do país.
“Isso não é muito normal. São poucas assinaturas [para a CPI], mas se estivesse agradando um pouco mais, poderia ter evitado. Então, a falta de articulação política e de experiência pesa muito”, disse.
“Se a gente for pegar o começo do governo, vamos ser mais próximos aqui, o governo Lula, né? O Lula era um político de carreira, já tinha muito tempo convivendo com governos, desde a oposição, e conhecia como as coisas funcionavam, mas no começo de governo todo mundo tem dificuldade de azeitar a máquina. Então, o Bolsonaro já tem dois anos e meio, que se eu tivesse que dizer uma coisa pra ele, se ele pedisse para eu dizer alguma coisa sincera sobre o governo, uma das coisas seria que o governo dele, apesar de dois anos e meio, ainda não é uma máquina azeitada”, continuou.
Indicação de Crivella
Presidente da Comissão de Relações Exteriores, a senadora Kátia Abreu disse estar “preocupada” com a possível indicação do ex-prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella (Republicanos) para ocupar a Embaixada do Brasil na África do Sul. Para ocupar o cargo, ele terá de passar por uma sabatina no Senado Federal.
A senadora disse que vai pautar a indicação, principalmente pelo fato de o ex-senador ter morado 10 anos no país e ser fluente na língua inglesa, embora ainda responda a processos criminais, sem transitado em julgado. Porém, um ponto chamou a atenção da congressista.
” Eu acho que eles encontraram um caminho de agradar politicamente a Igreja Universal, que seria, então, dar essa embaixada para que o Crivella pudesse ir lá fazer o seu papel. Esta confusão do público com o privado me incomoda bastante. Fora do Brasil, apenas um ou dois chanceleres são da carreira. Normalmente, o chanceler é proeminente, com muito estofo político e credibilidade. Então, embaixadores não têm nada de mais de não ser da carreira. Agora, eu ir para a embaixada com uma carreira privada me preocupa bastante. Vamos ver o que ele vai dizer lá”, finalizou.
Nova rede social
Kátia Abreu foi convidada do club Política & Patuscada, um coletivo de lideranças políticas jovens que acontece semanalmente dentro do ClubHouse, nova rede social de áudio e que tem promovido inúmeras salas de debate sobre as eleições de 2022. O Metrópoles é um dos veículos convidados da plataforma.
O ex-ministro Ciro Gomes, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM), também já passaram pela mesma sabatina.
Pelas políticas de privacidade, apenas foi possível a reprodução do conteúdo porque os moderadores informaram que a sala seria retransmitida pelo YouTube, o que tornou a conversa pública.