Hospital da Ceilândia está sem insumos para entubar pacientes com Covid-19
Servidores relatam níveis críticos de fármacos para indução anestésica, tranquilizantes, opioides, analgésicos e bloqueador neuromuscular
atualizado
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Uma das referências no tratamento de pacientes infectados pela Covid-19, o Hospital Regional de Ceilândia (HRC) entrou em sinal de alerta pelo baixo estoque de medicamentos fundamentais do protocolo médico para a doença. Servidores da unidade revelam nível crítico no abastecimento de fármacos para indução anestésica, tranquilizantes, opioides, analgésicos e bloqueadores neuromusculares.
Esses medicamentos são usados principalmente quando há necessidade de ventilação mecânica do paciente por síndrome respiratória aguda. Durante todo o período de intubação, os especialistas prescrevem o uso contínuo de fármacos para manter a analgesia e a sedação.
Para sedar pacientes intubados, o Propofol é o mais recomendado, visto que é utilizado na indução e manutenção da anestesia e sedação. “No entanto, o mesmo encontra-se zerado na Farmácia Central desde 14/07/2020. No HRC zerou em 16/07/2020”, diz trecho de documento interno do Hospital Regional de Ceilândia.
“No momento, o HRC dispõe somente de 07 unidades do Propofol 10 mg/ml ampola 20 ml. Já contactamos outras unidades da SES para viabilizarmos a transferência. Porém, ressaltamos que nosso consumo desse item é de aproximadamente 200 unidades/dia, o que perfaz uma necessidade de 800 unidades para esperar o abastecimento da Farmácia Central, programado para 31/08/2020″, completa o texto.
Outro fármaco também necessário é o Midazolam, utilizado na indução de anestesia e sedação, com propriedades de relaxante muscular. “O atual cenário do Midazolam é ainda pior. A apresentação Midazolam solução injetável 15 mg ampola 3 ml está zerada na Farmácia Central desde 10/07/2020 e no HRC, desde 09/08/2020, sendo que já foram esgotados todos os recursos disponíveis para aquisição com verba de PDPAS [Programa de Descentralização Progressiva de Ações de Saúde] para o ano em exercício”, registra a unidade de saúde.
Ainda no HRC, há registro de dificuldades com os fármacos adjuvantes, como a Dextrocetamina – que produz sedação, potencializa a ação de anestésicos e prolonga a ação dos bloqueadores neuromusculares. “Zerou no HRC em 18/08/2020 e na Farmácia Central, em 13/08/2020. Para o período da pandemia, foi disponibilizada a apresentação Dextrocetamina solução injetável 50 mg/ml ampola 10 ml, a qual solicitamos aquisição com recurso de PDPAS, mas ainda não sabemos se o recurso disponível viabilizará a aquisição”, adverte a equipe do hospital no documento obtido pelo Metrópoles.
Além desses remédios citados, há também estoque crítico de bloqueadores neuromusculares.
“Ressaltamos que sem os fármacos aqui citados, pode ocorrer comprometimento na sedação profunda, necessária para parte dos pacientes acometidos pela Covid-19 em decorrência da síndrome do desconforto respiratório agudo grave e/ou com necessidade de curarização e/ou posição prona. A sedação deve ser mantida pelo menos até a suspensão dos bloqueadores neuromusculares. Esperamos contar com o planejamento adequado por parte da SULOG para o correto e eficaz abastecimento da unidade, visto o suprimento por recursos de PDPAS ser insuficiente para atender a demanda”, finaliza o material.
O que diz a Secretaria de Saúde?
Procurada pelo Metrópoles, a Secretaria de Saúde informou que existem processos de aquisição regular e emergencial em andamento para os medicamentos citados.
“Alguns processos abertos anteriormente ou resultaram deserto por inexistência de propostas ou porque a empresa vencedora não efetuou a entrega do item, caracterizando inexecução total. Alguns desses medicamentos estão em falta em nível mundial, por isso, a dificuldade na compra do produto. No entanto, outros medicamentos em estoque na rede podem ser usados em substituição, sem prejudicar o atendimento aos pacientes”, assegurou a pasta à coluna.