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DF está sem quatro sedativos usados para entubar vítimas da Covid-19

Cisatracúrio, rocurônio, atracúrio e pancurônio estão com estoque zerado na Secretaria de Saúde: procura em todo o país cresceu com pandemia

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Hugo Barreto/Metrópoles
Paciente em UTI no DF
1 de 1 Paciente em UTI no DF - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

A falta de sedativos para uso em pacientes entubados, principalmente naqueles acometidos pelo novo coronavírus, acendeu a luz amarela entre os profissionais da Secretaria de Saúde do Distrito Federal durante a pandemia da Covid-19. O alerta fez com que a pasta recorresse ao Ministério da Saúde para normalizar o abastecimento com os fármacos essenciais.

A coluna apurou que pelo menos quatro medicamentos estão zerados nos estoques da farmácia de abastecimento. São eles: cisatracúrio, rocurônio, atracúrio e pancurônio, alguns dos mais indicados para quadros de ventilação mecânica no Brasil.

Documentos obtidos com exclusividade pelo Metrópoles revelam a preocupação dos profissionais de saúde, principalmente com pacientes de síndrome respiratória aguda, uma das complicações da Covid-19, sobre qual protocolo usar durante a crise do novo coronavírus.

“Solicitamos seus bons préstimos no sentido de elaborar um protocolo alternativo de sedação para pacientes em ventilação mecânica, Covid-19 positivo, considerando que há um desabastecimento de bloqueadores neuromusculares em nossas farmácias. Tal solicitação visa a uniformidade e orientação destinadas aos médicos intensivistas da SES-DF”, alertou Carlos Ferreira Portilho, superintendente da Região de Saúde Central, em documento assinado no fim do mês de maio.

Fim do estoque

Mais recentemente, em 15 de junho, outro comunicado da pasta, dessa vez assinado pela subsecretária de Logística da Saúde, Mariana Mendes Rodrigues, informa o fim do estoque de cisatracúrio, rocurônio, atracúrio e pancurônio no Núcleo de Farmácia Hospitalar da rede.

“Temos ciência das dificuldades na aquisição dos medicamentos citados, decorrentes do aumento da demanda e dificuldade de absorção desta pela indústria farmacêutica. Por este motivo, após avaliação da SAIS quanto aos medicamentos prioritários no enfrentamento da Covid-19, incluindo os aqui relacionados, foi aberto processo emergencial para aquisição destes, além de pedido junto ao Ministério da Saúde para tentativa de compra internacional, visando o atendimento de toda a rede”, escreveu.

No mesmo documento, a subsecretária orienta pelo uso dos recursos próprios de cada unidade para as compras em varejo e, se possível, solicita remanejamento dos remédios que não estão sendo usados por outras equipes.

Confira: 

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Secretaria de Saúde garante que ainda tem estoque de outros tipos de sedativos
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Documento solicita protocolo alternativo pela escassez de sedativos na rede

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Secretaria de Saúde garante que ainda tem estoque de outros tipos de sedativos

Felipe Menezes/Metrópoles
Como funciona

Os bloqueadores neuromusculares conseguem causar a paralisia dos músculos esqueléticos, por meio de uma interrupção na carga dos impulsos nervosos. A droga é usada de forma paralela à anestesia, por exemplo, justamente para induzir a paralisia muscular para a segurança dos procedimentos, como entubamentos.

Como o bloqueio neuromuscular pode paralisar os músculos necessários para a respiração, o uso de equipamentos de ventilação mecânica é sempre necessário, assim como o de analgésicos, já que os pacientes sentem dor mesmo após o efeito causado pelo bloqueio do sistema nervoso.

Outro lado

Procurada pela coluna, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal disse que “a rede está abastecida de fentanil, alfentanila e atracúrio, que são usados para a sedação e intubação dos pacientes”.

Contudo, a pasta reconheceu que “quanto aos demais medicamentos citados, tanto o DF como os outros estados estão enfrentando dificuldades para aquisição devido à escassez dos produtos no mercado”.

De acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), pelo menos 13 tentativas recentes para a aquisição dos medicamentos para sedação não tiveram êxito ou terminaram sem ofertas ou com propostas acima do edital. O motivo é a alta procura pelos produtos durante a pandemia.

O Ministério da Saúde informa, em nota, que a seleção, aquisição e distribuição dos anestésicos e seus adjuvantes e os neurorelaxantes, que estão sendo utilizados pelos hospitais de referências nos planos de contingência para o combate à Covid-19, são de responsabilidade dos municípios ou dos próprios hospitais.

Contudo, após receber as primeiras informações sobre possível falta desses medicamentos, diante do cenário de pandemia, a pasta afirma que está conversando com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) e os laboratórios farmacêuticos nacionais e entidades representantes, com o apoio do Ministério da Defesa (MD), para identificar problemas relacionados à falta desses medicamentos.

“Assim, o Ministério da Saúde está adotando as providências que lhe cabem nesta situação para acompanhar o regular abastecimento destes medicamentos. Quanto aos estoques e distribuição, é uma estratégia de responsabilidade das Secretarias de Saúde dos estados e Distrito Federal, bem como a programação, armazenamento e dispensação de medicamentos”, conclui o ministério.

Por nota, o Conselho Regional de Medicina (CRM-DF) informou estar ciente da falta dos medicamentos de sedativos e relaxantes musculares para pacientes com a Covid-19 que necessitam de entubação e procedimentos anestésicos.

“O CRM entende que a escassez desses medicamentos tem ocorrido em todo o Brasil e não só no Distrito Federal, e que estes remédios podem ser substituídos por outros com o mesmo efeito”.

Ainda conforme o texto, a entidade disse ter achado “assertiva decisão da Secretaria de Saúde do Distrito Federal de ter suspendido as cirurgias eletivas, pois durante os procedimentos são usados esses medicamentos”. Com a suspensão, continua, “o uso fica exclusivo para os casos emergenciais e pacientes acometidos com o novo coronavírus. Neste momento torna-se indispensável o uso racional dos medicamentos para evitar a possível falta nas unidades de saúde”.

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