Desesperados, empresários do DF pedem socorro ao governo
Ao mesmo tempo em que reconhece a importância das ações do GDF para conter o coronavírus, setor produtivo teme falências e demissões
atualizado
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Representantes de diversos setores da economia do Distrito Federal preveem o agravamento das dificuldades no caso de a pandemia do novo coronavírus se prolongar por mais 30 dias. Empresários, sindicalistas e comerciantes relataram ao Metrópoles o drama vivido atualmente em diferentes áreas e temem que a permanência da crise causada pela proliferação da Covid-19 resulte em milhares de desempregados e no fechamento definitivo de empresas que atuam na capital do país há anos.
Presidente da Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra), Jamal Jorge Bittar afirmou à reportagem que a cadeia produtiva do Distrito Federal pode sair dos trilhos de vez em 30 dias por causa da pandemia causada pelo novo coronavírus. O líder local do segmento disse se basear em estudo recentemente divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e que, segundo ele, teria impacto proporcional do DF.
Embora reconheça as medidas econômicas tomadas pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), como a criação de linhas de créditos especiais pelo Banco de Brasília (BRB), Bittar criticou a demora do governo federal pela falta de regulamentação dos anúncios feitos pelo Ministério da Economia. O presidente da Fibra também fez o desabafo durante teleconferência realizada pela Federação do Comércio do Distrito Federal (Fecomércio-DF). “No próximo mês, poderemos ter a completa paralisia da cadeia de produção.”
“Em âmbito local, temos visto medidas mais enérgicas e que têm sido favoráveis para a indústria e o setor produtivo. Só que, no âmbito federal, temos sentido dificuldade de como acessar, por exemplo, as linhas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A operacionalização ainda está muito pouco esclarecida. Não temos conhecimento da regulação desses benefícios emergenciais nem como alcançá-los”, disse Bittar.
Pelo comparativo com o cenário nacional, Jamal disse que nove em cada 10 indústrias estão sendo afetadas negativamente pela pandemia do novo coronavírus. Além disso, reforçou, quatro de cada 10 empresas estão com a produção interrompida. “Já entramos numa medida que estamos enfrentando dificuldade de conseguir insumos, o que pode resultar diretamente na produção e na oferta. A demanda caiu imensamente. O principal impacto da crise é no faturamento. Se você tem esse cenário em 15 dias de crise, quanto mais ela se alongar, tudo tende a piorar”, frisou.
Auxílio ao setor
O governador Ibaneis Rocha (MDB) anunciou no dia 15 de março uma linha de crédito do Banco de Brasília (BRB) de R$ 1 bilhão direcionada ao comércio e a empreendedores para “superar a crise”, em referência à pandemia do novo coronavírus.
Segundo Ibaneis, os financiamentos terão taxas reduzidas, com prazo de carência de até seis meses nas operações. “Nós sabemos a dificuldade pela qual todos atravessam, em um momento de recuperação”, disse.
O chefe do Executivo também flexibilizou o decreto sobre o fechamento do comércio e de serviços locais, garantindo a abertura para empresas consideradas essenciais e aquelas que possam contribuir para evitar os prejuízos para a população.
Mas enquanto o cenário negativo não é atenuado, representantes de outros segmentos também sofrem. Presidente do Sindicato das Empresas de Promoção, Organização, Produção e Montagem de Feiras, Congressos e Eventos do DF (Sindeventos), Luís Otávio Rocha Neves enxerga com pessimismo os efeitos colaterais causados pelo novo coronavírus.
“Infelizmente, isso está acontecendo em todo o mundo e aqui no DF. No nosso setor, o de eventos, a gente teve uma ruptura abrupta e, desde o início da crise, temos buscado o governo local, que tem tentando minimizar o problema, com a criação de linhas de créditos especiais a juros baixos. No nosso caso, diversos eventos foram remarcados, mas outros vários foram completamente cancelados. Isso impacta diretamente no mercado, nos fornecedores e em prestadores de serviços, uma cadeia gigantesca”, reforçou.
Segundo Luís Otávio, há a esperança de que a situação melhore no segundo semestre, o que tranquilizaria os empresários. “Estamos tentando minimizar os estragos, imaginando que mais para frente essa situação possa estar normalizada. Se continuar do jeito que está, não conseguiremos manter nossas empresas e, consequentemente, todos os empregos que geramos. Hoje, há mais de mil empresários no ramo de eventos, além de produtores, no DF. Estamos sofrendo muito”, emendou.
O desespero chegou também aos lojistas e comerciantes. “Tenho comércio há oito anos na Asa Sul, onde eu vendia até 75 refeições por dia e com cinco funcionários. Estou desde o dia 18 fechado, com funcionários sem receber, meu restaurante fechado, fornecedores batendo à porta, água e luz atrasadas. O que eu faço? A quem eu recorro? Quem sustenta a minha família? Qual é a solução? O Brasil está quebrado e Brasília vai quebrar também”, disse o empresário Carlos Britto em vídeo (assista abaixo).
GDF anuncia medidas
A reportagem procurou o Palácio do Buriti que, por nota, informou que “a Secretaria de Economia (SEEC) tem dialogado com o setor produtivo do DF e busca alternativas para minimizar os efeitos da crise provocada pela pandemia do coronavírus. Estão em análise medidas para renegociação de dívidas que serão lançadas no decorrer do ano. Ressaltamos que o Governo do Distrito Federal tem adotado diversas iniciativas para minimizar os efeitos sociais advindos da pandemia do novo coronavírus (Covid-19)”, frisou.
Ainda segundo a nota, “além do conjunto de políticas públicas constantes do plano estratégico do Distrito Federal, voltadas para o desenvolvimento social, como a distribuição de cestas verdes às instituições que atendem idosos, em 25 de março, o governador Ibaneis Rocha criou o Comitê de Emergência Covid-19, que tem o objetivo de arrecadar doações”.
“O comitê receberá doações de bens móveis e imóveis, dinheiro, serviços, insumos e equipamentos. As doações em dinheiro serão recebidas no Banco de Brasília (BRB), na conta-corrente 062.958-6, CNPJ 00.394.684/0001-531, para atender a população mais vulnerável e de baixa renda. As informações sobre as doações serão realizadas pela Central de Atendimento 156”, finalizou.
Também acionado, o BRB informou que a instituição lançou um programa amplo com o objetivo de oferecer aos seus cientes – pessoas físicas e jurídicas – soluções para minimizar os impactos econômicos provocados pela crise do coronavírus. “Batizado de Supera-DF, o programa engloba a liberação de R$ 1 bilhão em linha de crédito destinada a vários setores da cadeia produtiva. Outra importante medida é a oferta de carência de três meses para o pagamento do crédito imobiliário e demais operações parceladas”, explicou.
“A pandemia causada pelo coronavírus exige de nós todos responsabilidade e a adoção de medidas para minimizar os prejuízos. É o que o BRB, como banco da cidade, tem procurado fazer nesse delicado momento. O Supera-DF é isso, um conjunto de ações que reforçam nosso compromisso com o desenvolvimento social e humano”, afirma o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa.
Salões
As iniciativas governamentais podem ser a salvação para empresários como Célio Ferreira de Paixa. Ele comanda o Sindicato dos Salões, Institutos e Centros de Beleza, Estética e profissionais autônomos do DF (SimBeleza) e acredita que o efeito do fechamento temporário das empresas no DF para o setor será devastador.
“Nós já tivemos declarações de diversos empresários do setor que simplesmente não teriam condições de reabrir os negócios em 30 dias. Nós temos 90% ou mais de profissionais da área de beleza que são parceiros, não têm carteiras assinadas e recebem semanalmente. Esses profissionais estão sem receita alguma e são cerca de 30 mil”, relatou.
Segundo ele, a preocupação dos empresários também é muito grande, visto que aluguéis e condomínios continuam sendo cobrados. “Tivemos flexibilização dos impostos, como o Simples Nacional, o que é uma ajuda, mas sem a receita, a subsistência desses profissionais cai por terra. Muitos estão trabalhando com pré-venda, mesmo assim o cenário está muito ruim. As pessoas estão com medo de gastar porque não sabem o que vão encontrar daqui pra frente”, reforçou.
“Nesse momento difícil que estamos enfrentando, os empresários estão ameaçando demitir os trabalhadores. Os empresários da metalurgia estão trabalhando como se nada tivesse acontecendo. Estamos em contato direto com os patronais, mas eles não querem conversar. Temos que nos unir, pois não sabemos o que irá acontecer daqui a 30 ou 40 dias, mas ficaremos atentos a cada movimentação”, informou Carlos Alberto Altino, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do DF.
Para o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), Dionyzio Klavdianos, o cenário é um pouco menos negativo. Ele reconhece que, embora não esteja operando com força total, o setor tem sido menos impactado pelos efeitos colaterais da pandemia, pois é um dos que integra as exceções estabelecidas pelo decreto do governador.
“É claro que não há de se falar em normalidade, já que algumas empresas decidiram dar férias coletivas aos trabalhadores. Mas perto de outros segmentos, a indústria da construção civil ainda não sentiu tanto essa grande crise que estamos lamentavelmente passando”, disse.
Pesquisa
Pesquisa divulgada nessa segunda-feira (30/03) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra o impacto que a crise do coronavírus trouxe para o setor. Segundo a entidade, a pandemia e os esforços para combatê-la fizeram com que 79% das empresas sofressem queda de demanda, sendo que, em 53% dos casos, com impacto considerado “intenso”. A consulta foi realizada com 734 empresas de pequeno, médio e grande portes nos dias 26 e 27 de março.
Ainda segundo a pesquisa divulgada pela entidade, 70% das empresas experimentaram queda no faturamento, 49% tiveram pedidos cancelados, 30% pararam totalmente a produção e 37% relatam ter muita dificuldade para conseguir insumos ou matérias-primas.
Como medidas para lidar com a situação, 58% das empresas adotaram o teletrabalho, 47% concederam férias coletivas, 13% reduziram a jornada de trabalho e 15% adotaram a medida mais drástica: demissões.
Apesar do forte impacto nas empresas, a CNI não aderiu à campanha do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pela retomada imediata das atividades econômicas. O presidente da entidade, Robson Andrade, pegou coronavírus, está em isolamento e defende que o governo invista no setor de saúde pública e na saúde das empresas neste momento.
Andrade defende que os esforços agora sejam no salvamento de vidas, mas que haja planejamento para que o setor econômico possa ver uma luz no fim do túnel. “Precisamos ter o equilíbrio necessário para retomar a atividade em alguns meses. É preciso evitar a demissão. Até porque isso traria consequências posteriores”, disse o presidente da CNI.