Confira os setores que mais vão perder com a pandemia do coronavírus no DF
Relatório da Secretaria de Economia obtido pelo Metrópoles indica que comércio e serviços terão prejuízos em média de 70% até dezembro
atualizado
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Um relatório consolidado produzido pela equipe econômica do Governo do Distrito Federal (GDF), e obtido com exclusividade pelo Metrópoles, revela um cenário crítico para os setores do comércio varejista e de serviços até o mês de dezembro, após o término das medidas restritivas impostas pela pandemia do novo coronavírus.
Além da queda de arrecadação aos cofres públicos, anunciada pelo Palácio do Buriti, o estudo aponta as estimativas de prejuízos e demissões, por segmento, em decorrência da necessidade do isolamento social como forma de conter o avanço da contaminação pela Covid-19 no Distrito Federal.
Proporcionalmente à movimentação financeira nos caixas, um dos setores mais afetados pelo confinamento é o de bares e restaurantes. Os técnicos do governo separaram duas projeções para o momento econômico previsto até dezembro, baseadas na emissão de notas fiscais no último ano. Na primeira, considerada mais otimista, os auditores preveem uma queda de até 30% no faturamento. Numa previsão mais pessimista, esse índice pode chegar a 70%.
De acordo com estudo, o setor pode amargar um prejuízo consolidado nos próximos meses de até R$ 1,98 bilhão anual, no pior dos cenários. O valor tem como base os R$ 5,59 bilhões declarados nas notas fiscais emitidas pelo segmento em 2019.
Quando é tratada a questão dos empregos, os números também não são animadores e estimam que, até dezembro, serão 30% de desligamentos. “O setor conta com 44.674 empregados. Como resultado, foram obtidas quedas de 4.467 empregos, no melhor cenário, e de 16.529, no pior cenário, no ano de 2020”, pontua a análise.
Na área de vestuário e calçados, a partir do valor total de transações declarado, de R$ 4,96 bilhões nas notas fiscais emitidas, e dos percentuais de perda atribuídos, foram obtidas quedas de R$ 501 milhões anuais (10%) e de R$ 1,50 bilhão anual (30%) no melhor e pior cenários, respectivamente. O setor conta com 17.637 empregados e, como resultado, foram obtidas quedas de 1.774 no número de trabalhadores, no melhor cenário, e de 6.563, na pior projeção para 2020.
O estudo também examinou o setor de combustíveis, que teve queda considerável, visto que as medidas de confinamento reduziram a circulação de automóveis e, por tabela, a movimentação nos postos de abastecimento. “A partir do valor total de transações [faturamento] declarado de R$ 24,18 bilhões nas notas fiscais emitidas no setor, e os percentuais de perda atribuídos, foram obtidas quedas de R$ 2,44 bilhões anuais (10%) e de R$ 6,10 bilhões anuais (25%) no melhor e pior cenários, respectivamente”, aponta.
Se forem levadas em conta as possíveis demissões, que podem variar de 10% a 30% em relação à realidade de 2019, o número de desempregados poderá atingir 6.572 pessoas que hoje prestam serviços formalmente no setor. A perda de faturamento também pode alcançar, na pior das hipóteses, cifra que ultrapassa a casa dos R$ 6 bilhões anuais.
A venda de veículos novos e usados também sofreu o baque causado pelo novo coronavírus. Para se ter uma ideia, a Secretaria de Economia estima que o setor pode sentir quedas de R$ 1,73 bilhão anual (9%) e de R$ 3,45 bilhões anuais (19%), no melhor e pior cenários, e ainda ter de desligar até 2,8 mil empregados.
Veja caso a caso:
Setor de serviços
Além da área de varejo, o setor de serviços também foi confirmado na projeção com um cenário de prejuízos até o fim de dezembro, conforme demonstra a análise feita pelo Governo do Distrito Federal.
A hotelaria é, sem dúvida, um dos ramos mais afetados pelas medidas de isolamento. Para se ter ideia, a partir do faturamento declarado de R$ 701 milhões nas notas fiscais e os percentuais de perda atribuídos, foram obtidas quedas de R$ 142 milhões anuais (20%) e de R$ 285 milhões anuais (41%) no melhor e pior cenários, respectivamente.
Os prejuízos não se resumem à movimentação nos caixas: o setor conta com 4.074 empregados e, com a projeção de demissões entre 10% e 30%, foram obtidas quedas de 407 no número de empregos, no melhor cenário, e de 1.507 empregos, no pior cenário, no ano de 2020.
O turismo, área correlata, também sofrerá bastante até o fim da pandemia do novo coronavírus: há uma projeção de queda de até R$ 115 milhões anuais, o que representa 38% do faturamento médio registrado no pior cenário. Da mesma forma, há a chance de haver até 1.507 demissões até dezembro, a depender do cenário.
Outro segmento imediatamente afetado com a proibição de aglomerações de pessoas foi o de festas e eventos. Até dezembro, a área econômica local prevê prejuízos de até R$ 303 milhões anuais, um total de 35% no pior cenário. No caso de as demissões alcançarem o pior dos mundos, haverá até 3 mil pessoas desempregadas no período estudado.
Cenário ainda pior
Para o presidente da Federação do Comércio (Fecomércio-DF), Francisco Maia, há um entendimento dos vários setores de que os números podem ser ainda mais pessimistas.
“O problema causado pelas medidas restritivas é grave e já afetou muitos empresários, de diferentes setores, incluindo os de grande porte, que não terão mais condições de reabrir seus negócios. A gente sente uma boa vontade do governo, mas também entende que as ações chegaram ao limite. As empresas adquiriram empréstimos, vão aderir ao Refis [refinanciamento de dívidas tributárias], mas uma hora essa conta vai chegar e será no momento de reabertura do comércio. Esses números, na minha opinião, serão piores do que esses do relatório do governo”, afirmou.
Maia refere-se às iniciativas do Executivo local para minimizar os impactos negativos gerados pela crise, como empréstimos a juros baixos e a prorrogação de vencimento de impostos (ICMS E ISS) para os empresários optantes do Simples Nacional. Mesmo com as ações, a Secretaria de Economia reconhece, no documento, que as medidas não serão suficientes para evitar o cenário de amargura.
“Obviamente, nada disso resolve o problema da demanda, porquanto a disponibilidade financeira e de crédito não vão resolver a impossibilidade de deslocamento, nem as lojas fechadas. No entanto, tais ações propiciam fôlego financeiro para as empresas cumprirem seus custos fixos (financiamento de capital de giro) e para as pessoas, combalidas em seus rendimentos, não sofrerem tanto”, registra o estudo.
Segundo o secretário de Economia, André Clemente, o setor produtivo local, por meio das federações e sindicatos, está atuando em conjunto com a pasta para diagnóstico e possibilidades de saída da crise. “Todos têm demonstrado muita responsabilidade, inclusive social. O DF, suas empresas e seus cidadãos estão aprendendo muito com essa crise e sairão maiores e mais fortes desse momento tão crítico”, disse.
Para o empresário José Carlos Magalhães Pinto, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-DF), embora o cenário seja desfavorável para os empresários, a segurança e a saúde precisam estar sempre em primeiro lugar. Ele também elogiou a interlocução do governo com o setor econômico.
“Se você tem um ente querido doente, e você tem uma chance de salvá-lo, todos nós faremos o possível para encontrar a cura: faríamos empréstimos, venderíamos o patrimônio, tudo para não perder quem nos é caro. A decisão de agora do governo [de prorrogar a quarentena] pode ser comparada a isso: estamos salvando vidas. É uma preocupação e um dever de todos nós”, frisou.
Sobre os prejuízos estimados, o representante dos lojistas afirma que ainda é cedo para projeções. “Só conseguiremos saber exatamente o impacto da pandemia no nosso segmento daqui a três ou quatro meses, quando a situação estiver se normalizando. Por enquanto, o nosso único cálculo são as medidas necessárias para preservar vidas humanas”, disse.