Após atender 50 pacientes com infecção, médico questiona qualidade da água no DF
Endocrinologista Flávio Cadegiani acredita haver surto da doença na região central de Brasília, após início da captação de água do Paranoá
atualizado
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Um dos mais requisitados e polêmicos médicos do Distrito Federal, o endocrinologista Flávio Cadegiani fez um alerta assustador em seu perfil pessoal no Instagram. Nesta segunda-feira (18/12), ele publicou um texto relatando que dezenas de seus pacientes estão com sintomas da gastroenterite, mais conhecida como infecção intestinal. Ele acredita haver um surto da doença na região central de Brasília após o início da captação de água do Lago Paranoá. A Caesb nega problemas no abastecimento.
“Como não identifiquei nenhum alimento específico em comum que causasse esse problema nas dezenas de pessoas acometidas, embora não consiga comprovar, parece-me que de fato a provável queda na qualidade da água — pelo fato de ser captada do Paranoá — seja a causa responsável por este surto. E parece que o filtro de água não está adiantando”, escreveu o médico na publicação.
O endocrinologista chegou a essa conclusão ao perceber que 50 pacientes, dos cerca de mil que atende, reclamaram de sintomas como diarreia, vômitos e dores de barriga. Depois do alerta público, recebeu um contato da Secretaria de Saúde, que pediu mais informações sobre os casos relatados. A solicitação oficial foi feita por e-mail, o que, na opinião do médico, “demonstra uma preocupação com o fato”.
A partir do alerta de Cadegiani, muitos seguidores interagiram com a postagem. Alguns deles contaram que também tiveram problemas parecidos. Em um dos comentários, um fotógrafo informou que 14 de seus funcionários estariam com esse quadro. Em outro relato, uma seguidora contou que sofreu por quase três semanas em função de uma infecção intestinal: “Meu médico disse a mesma coisa!”.
Apesar do alarde, não existe qualquer comprovação oficial que relacione a qualidade da água com os casos abordados pelo médico. A coluna entrou em contato com a Caesb, a Adasa e a Secretaria de Saúde.
A estatal informou por meio de nota que a água produzida e distribuída pela ETA Lago Norte “é de excelente qualidade” e que o alerta do médico é “informação falsa, tendenciosa e prejudicial aos interesses da população”.
A empresa explicou que o processo é feito por membranas de ultrafiltração, “tecnologia que garante elevados níveis de remoção de contaminantes. Além disso, permite um menor consumo de produtos químicos, melhor qualidade da água tratada e automatização mais simples. Permite a eliminação de microrganismos (vírus, bactérias, protozoários como Giárdia e outros), partículas, sólidos em suspensão, turbidez, gerando uma água tratada de excelente qualidade”.
A empresa ressaltou ainda que é feito “um controle rigoroso, que inclui análises operacionais de hora em hora, embora o Ministério da Saúde exija que seja feita de duas em duas horas. Também é feito um controle rigoroso da qualidade da água nas redes de distribuição, num nível pelo menos de 15% a mais do exigido pelo órgão”.
Já a Secretaria de Saúde afirmou que não há registro de surto de doenças intestinais provenientes do consumo de água. “Ressalte-se que qualquer profissional de saúde, ciente de qualquer problema nesse sentido, deve primeiro notificar as autoridades de vigilância, o que não aconteceu no caso específico”, completou a pasta em nota.
Segundo a secretaria, para comunicar casos de doenças de interesse de saúde pública, os profissionais de saúde podem contatar o Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde, pelo telefone 99288-9358 ou pelo e-mail cievsdf@gmail.com.
Captação a partir de outubro
Desde 2 de outubro deste ano, parte da água consumida na região central de Brasília vem da captação do Lago Paranoá. O sistema abastece Asa Norte, Lago Norte, Itapoã, Paranoá, parte de Sobradinho II e Taquari.
De acordo com a Caesb, durante a inauguração da obra de captação, a operação seria parceria entre a empresa e a Enfil, responsável pela obra, durante os três primeiros meses (outubro, novembro e dezembro). Depois dessa data, a estatal assumiria o manejo. Os custos para a implementação do Subsistema Produtor do Lago Norte ficaram em R$ 42 milhões.