Analista e defensora estão entre vítimas do milionário golpe do móvel
Mais de 100 clientes acusam Maria Dilma Feitosa de não entregar produtos contratados e usar dados indevidamente para empréstimos bancários
atualizado
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Uma empresária do ramo de móveis planejados é acusada de dar um golpe milionário em centenas de vítimas espalhadas por Goiás e pelo Distrito Federal.
Maria Dilma Feitosa de Moura (foto em destaque) é proprietária da empresa Planejar Design, que mantinha a sede do estabelecimento em Formosa (GO) e uma unidade na Quadra 105 do Sudoeste, região nobre de Brasília.
O Metrópoles ouviu mais de 10 pessoas que dizem ter sido vítimas dos seguidos golpes atribuídos a Maria Dilma. Os relatos se assemelham na forma, mas diferem nos valores do prejuízo de cada um. O período ao qual os relatos se referem é entre o final de 2021 e janeiro deste ano.
A polícia investiga calotes que vão de R$ 10 mil a R$ 600 mil e calcula um prejuízo a clientes, funcionários e fornecedores que se aproxima dos R$ 4 milhões.
Ao serem atraídos pelos descontos chamativos e por várias facilidades de pagamento, os clientes fechavam contrato com Maria Dilma, que usava os dados pessoais para, além de cobrar pelo serviço não entregue, duplicar o valor do débito por meio de financiamento em instituições financeiras, conforme consta nas inúmeras ocorrências policiais.
Contratos dobrados
Na maior parte dos casos, as vítimas estavam reformando as próprias casas e, após o sumiço da prestadora de serviço, descobriam linhas de crédito assumidas com bancos, mas sem nunca terem autorizado a operação bancária. O método, em vários casos, dobrou a dívida com o móvel não entregue.
“Fechei o projeto e a gente deu 50% via Pix . Ela pegou a minha assinatura no celular, alegando que era para o Santander emitir um boleto para a data da entrega e montagem dos móveis. No início do mês, recebi mensagem de uma funcionária dela dizendo que as lojas estavam sendo fechadas e que, futuramente, o jurídico entraria em contato para explicar como é que faria o pagamento. Ou seja: ela sumiu”, contou Silvana Galimberti, que é designer de interiores.
Galimberti e outras 100 pessoas decidiram se unir, por meio de um grupo de WhatsApp, quando perceberam que Maria Dilma havia desaparecido e deixado funcionários, clientes e fornecedores na mão.
“Antes de mais nada, eu queria frisar que essa história não se trata de uma mulher que infelizmente roubou o dinheiro das pessoas e fugiu. Se trata de uma sociopata. No meu caso, ela me fez assinar um contrato eletrônico e tirar uma selfie. No outro dia, falou que meu nome não tinha sido aceito no sistema, que teria que cancelar o contrato e o meu marido teria de assinar no meu lugar. Ela foi fazendo financiamentos no meu nome e duplicou os meus boletos e os do meu marido. Ou seja: a minha dívida, que era pra ser R$ 65 mil, foi para 145 mil e nunca recebemos os móveis”, contou uma mulher, que preferiu o anonimato.
Cláudia Virgínia, também vítima, relatou ao Metrópoles como a golpista atuou
Fuga
A servidora pública Alessandra Lopes Soares Siciliano, que fez dois contratos no total de R$ 50 mil, afirmou só ter tomado conhecimento dos financiamentos não autorizados após a fuga da empresária.
“E como foi que descobri esse terceiro contrato? Para que desse tempo de fugir, ela [a Dilma] pagava as primeiras parcelas, porque os bancos não nos procurariam para cobrar o valor. Por isso, as evidências mostram que esses inúmeros golpes foram arquitetados e ela estava apenas esperando o momento certo para sumir”, disse.
A defensora pública Eliene Ferreira também não escapou do grande prejuízo ao contratar a empresa Planejar. Atraída pelas vantagens prometidas, ela fechou um contrato de R$ 148 mil, que seria parcelado em cinco parcelas de R$ 28 mil.
“Dei a entrada e recebi quatro boletos com o mesmo valor. Quando foi em janeiro, recebi uma mensagem da funcionária dela dizendo que a empresa tinha fechado as portas, que todos os funcionários foram dispensados e que não conseguiam mais contato com a dona da empresa”, relata.
Da mesma forma, a corretora de imóveis Fabíola Gebrim perdeu R$ 10 mil pela encomenda de um aparador para a sala de jantar. “A vida de corretor não tem salário estável. Quatro anos atrás eu fiz os móveis com ela. Era muito solícita, entregou tudo muito rápido. Sempre foi muito bajuladora. Não poderia imaginar”, completou.
Analista do Tribunal Regional Federal (TRF), Vanessa Pollazzon afirmou ter transferido R$ 22 mil para a criação dos móveis, mas a empresária fechou as portas da loja antes da entrega do contratado.
“Além do estelionato, cometeu vários outros crimes, como falsidade ideológica, uso de documento falso e crime contra o sistema financeiro. Falsificou nossas assinaturas e duplicou a nossa dívida através de financiamentos que não contraímos”, registrou.
Os calotes não se resumiram aos clientes e fornecedores, mas atingiram também os funcionários da loja. Um deles, que trabalhou na unidade de Formosa, diz não ter recebido o valor ao qual tem direito.
“Eu trabalhei lá, pela primeira vez, há três anos, fiquei um tempo fora e depois voltei. A gente não desconfiava de nada, porque sempre pagou as coisas certas. De uns três meses para cá, ela começou a parcelar o pagamento, mas a gente achava que era normal. Ela não apareceu mais e parentes dela disseram que ela tinha adoecido, mas o contador disse que iria acertar conosco, mas isso nunca aconteceu”, disse à coluna Fabricio Vieira de Espindula.
Inquérito
De acordo com o delegado responsável pelo caso, Paulo Henrique, da 1ª Delegacia de Formosa, várias pessoas já foram ouvidas e o cenário é complicado por envolver centenas de indivíduos. O policial também informou que uma investigação paralela corre na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).
“Nós temos uma segunda pessoa aqui que está sendo investigada também, de nome Fátima, que trabalhava com a Maria Dilma e cuidava da parte financeira. Nós a localizamos e ela se apresentou com a advogada na unidade policial, mas não quis falar. Usou o direito constitucional de permanecer calada, mas compareceu espontaneamente”, informou.
“Quanto a Maria Dilma, recebi a procuração de uma advogada do Rio de Janeiro se habilitando no inquérito como defensora dela. Ou seja: em breve nós conseguiremos ouvi-la aqui também”, emendou.
Durante toda a quinta-feira (10/2), a reportagem do Metrópoles tentou contato com os canais de comunicação disponibilizados pelas páginas da empresa nas redes sociais. Também ligou para o número pelo qual a acusada se comunicava com os clientes, mas sem sucesso. O espaço para manifestações continua aberto.
Já o banco Santander informou ter tomado ciência das investigações criminais contra a empresária e que tem analisado caso a caso.
“O Santander informa que já está colaborando com autoridades que investigam as tentativas de fraude contra os clientes e contra a instituição. O banco reforça que, logo após os clientes terem entrado em contato, mediante a apresentação prévia do boletim de ocorrência e carta de próprio punho, todos os casos estão sendo analisados e resolvidos”, disse.